O publicitário Thales Marques curtia uma praia em Guarujá, no litoral de São Paulo, quando, de repente, viu seus dias de descanso interrompidos por uma forte dor de cabeça. Esse era o primeiro sintoma de uma meningite que quase o matou.
O jovem, que hoje tem 29 anos, estava acostumado a sofrer com enxaquecas e achou que fosse mais um episódio do problema. No hospital, porém, recebeu o diagnóstico de meningite e uma sentença: havia "100% de chance" de ficar com sequelas.
Dor de cabeça e enjoo
Tudo aconteceu em 2019. No dia 30 de junho, o publicitário sentiu um mal-estar e decidiu se automedicar, como tinha feito outras vezes. Mas nada surtiu efeito e, durante a madrugada, ele acordou "cinco ou seis vezes" por causa da dor de cabeça misturada com enjoo.
Se na enxaqueca a dor ia de 5 a 8, nesse caso a dor era de intensidade 20. Como em Guarujá não tem tantos recursos, os meus amigos me orientaram a esperar para ir ao hospital em São Paulo no dia seguinte. Na volta, ainda no carro, tive um sono muito estranho e já acordei bem fora de mim
Chegando à capital, os amigos de Thales, João e Juliana, pediram para fazer uma parada rápida antes de ir ao hospital, para abrir a loja que tinham. O publicitário chegou a tirar um cochilo em um sofá enquanto esperava o casal, mas acordou com uma dor ainda pior.
"Pedi para o João me levar correndo para a emergência. Lembro que era uma dor desesperadora, que me fazia pedir para ele parar o carro, porque eu não aguentava mais. A gente chegou ao hospital, estacionou o carro e, na subida até a recepção, eu comecei a perder a consciência. Só falei com ele: 'Acho que eu estou morrendo.'"
Ao ver a situação de Thales, o amigo correu até uma das enfermeiras da triagem, que, antes de qualquer teste, já afirmou que a situação dele era grave e encaminhou os dois diretamente para um neurologista.
"Mas, obviamente, eu não era o primeiro da fila. Enquanto eu aguardava a consulta, vomitei no hall do hospital, mas, passados alguns minutos, fui atendido. Digo que ele [primeiro médico que o atendeu] foi uma peça importante para eu estar como eu estou hoje."
'Só ficava pensando na morte'
Apesar de ouvir que Thales era acostumado com as enxaquecas, o neurologista decidiu rapidamente fazer um outro teste.
Com o publicitário deitado, ele colocou uma das mãos abaixo de sua cabeça e forçou seu pescoço em direção ao peito. Nesse momento, ele contraiu o pé e sentiu uma forte dor. A reação é um sintoma clássico de meningite.
"Depois de fazer o teste, o médico saiu da sala, dizendo que precisava conversar com outros médicos. Ele voltou com máscara, o que não era habitual pré-covid, e eu e o João ouvimos: 'Você está com suspeita de meningite e está em isolamento a partir de agora, não pode mais sair dessa sala. O João vai ter de tomar um remédio, uma profilaxia [prevenção], pois pode ter se infectado também."
Assim que ele falou isso, eu esqueci da minha dor de cabeça, porque só ficava pensando na morte. Entreguei meu celular para o João, disse qual era minha senha e falei: 'avisa minha família se for confirmado'
Para confirmar as suspeitas do neurologista, uma outra médica retirou líquido da lombar do publicitário, seguindo o protocolo para a meningite. Thales entrou em coma no meio do exame. E acordou apenas nove dias depois, na UTI.
"Meus pais receberam a notícia e vieram para São Paulo de carro, para ficar comigo. Eles chegaram no dia 2. Durante esse período desacordado, quase passei por cirurgia na cabeça em três noites diferentes, com os médicos falando que eu teria de fazer e que ainda assim era uma certeza que eu teria sequelas."
Experiência de quase morte
Os pais de Thales autorizaram a cirurgia, caso ela fosse necessária, e se alternavam nas visitas ao filho.
Os médicos diziam que seu estado era gravíssimo, mas o publicitário acordou no dia 9 de julho sem grandes complicações e sem precisar de intervenção cirúrgica. Ele afirma ter vivido uma experiência sobrenatural pouco antes de sair do coma.
Eu tive uma EQM, uma experiência de quase morte. Uma delas foi ver o meu corpo de fora, na maca, perto de uma máquina. Eu escutei uma voz e vi uma pessoa esticando a mão onde estava dormindo. Ela falava: 'Thales, segura a minha mão'. Eu olhava para o meu corpo e para aquela mão sem entender muito bem o que estava acontecendo, e sem segurá-la
Após algumas tentativas da pessoa que o chamava, o publicitário teve outra visão: conta ter sido "visitado" pela avó, que é viva. A idosa pediu que ele agarrasse a mão da pessoa que o acompanhava. E, então, Thales a atendeu.
Ela apareceu a uns 10 metros da minha cama, toda de branco, e falou: 'Thales, é a sua mãe quem está te chamando'. Me emociono só de lembrar. Quando eu segurei a mão, eu olhei de novo para meu corpo e senti que estava voltando. E minha mãe estava de fato do meu lado quando eu acordei do coma
'Acordei indignado, mas hoje agradeço'
Thales ainda ficou mais 24 horas entubado após recuperar a consciência e teve alucinações por causa do tratamento, que incluía remédios para mantê-lo parado.
Apesar da dificuldade de voltar a falar e se movimentar, causada pelos dias deitado, os médicos logo atestaram que o rapaz estava com as funções motoras normais. O maior desafio, segundo ele, foi enfrentar a revolta que sentiu por ter contraído a bactéria.
Eu tinha emagrecido por volta de 16 quilos. Depois de acordar, fiquei com um sentimento muito ruim de: 'poxa, por que eu?'. Mas todos os médicos que iam me visitar, mesmo os que não cuidaram de mim, diziam que era gratificante saber do meu caso e ver como eu tinha melhorado
O publicitário ainda ficou duas semanas em um leito. Nesse período, fez sessões de fisioterapia para se acostumar com o próprio corpo, após a perda de peso brusca. A equipe do hospital deixou claro que sua evolução estava acima da média.
"Um médico perguntou: 'você acredita em Deus?'. Eu falei que sim e ele respondeu: 'Thales, pega essa sua fé e triplica, porque eu estou aqui há dois anos e nunca vi um paciente com meningite, no nível que você entrou aqui, sair sem sequela alguma. Então, agradeci pela nova chance", diz.
De volta à rotina, o rapaz ainda fez acompanhamento neurológico e oftalmológico para garantir que a meningite bacteriana não tinha deixado vestígios, mas os exames confirmaram que seu corpo estava igual ao que era antes da infecção.
Já sobre o local em que Thales contraiu a bactéria, foi possível apenas traçar algumas teorias. Uma das hipóteses é que ele tenha sido infectado em uma festa universitária, poucos dias antes de manifestar os sintomas.
"Na época, a vigilância sanitária entrou em contato com todas as pessoas com quem tive contato recente, indicando tomar o medicamento preventivo. Mais ou menos umas 70 pessoas tomaram o remédio. Claro, eu tenho a minha fé, mas também destaco a importância de ir ao hospital cedo, não ignorar os sintomas."
O que é meningite?
As meninges são membranas de tecido conjuntivo que envolvem o cérebro e a medula espinhal, com o objetivo de proteção. Quando uma bactéria ou vírus, por alguma razão, consegue vencer as defesas e chegar às meninges, elas se inflamam e causam as meningites.
Quais os sintomas?
Os sintomas principais da meningite são:
- Febre (de início súbito)
- Dor de cabeça
- Rigidez do pescoço
- Mal-estar
- Náusea
- Vômito
- Sensibilidade à luz
- Confusão mental
- Manchas vermelhas na pele (em alguns casos)
Na suspeita da doença, deve-se procurar atendimento médico o mais rápido possível.
Em recém-nascidos e bebês, alguns dos sintomas descritos acima podem estar ausentes ou são difíceis de ser percebidos. O bebê pode ficar irritado, vomitar, alimentar-se mal ou parecer letárgico e não responder a estímulos. Também pode apresentar a moleira afundada.
Pode deixar sequelas?
Quando o diagnóstico da meningite é atrasado ou a condição não é tratada de forma adequada, há risco de a doença deixar sequelas, ou seja, problemas permanentes como surdez, dificuldade de aprendizagem, crises de epilepsia e comprometimento cerebral.
Quais as vacinas contra meningite?
As vacinas contra meningite disponíveis no calendário de vacinação do Ministério da Saúde são:
- Vacina meningocócica conjugada sorogrupo C: Protege contra a doença meningocócica causada pelo sorogrupo C;
- Vacina pneumocócica 10-valente (conjugada): Protege contra as doenças invasivas causadas pelo Streptococcus pneumoniae, incluindo meningite;
- Pentavalente: Protege contra as doenças invasivas causadas pelo Haemophilus influenzae sorotipo B, como meningite, e também contra a difteria, tétano, coqueluche e hepatite B;
- BCG: Protege contra as formas graves da tuberculose.
Na rede particular existe uma vacina contra a meningite B, indicada dos dois meses aos 50 anos de idade.
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