Para Gabriela Paschoal, 25, a decisão de abrir mão de bebidas alcoólicas foi uma das grandes responsáveis por melhorias em sua qualidade de vida. A sobriedade contribuiu para uma maior clareza mental e disposição para alcançar seus objetivos profissionais e pessoais, diz.
Sua escolha e de outros jovens mostra uma tendência que começa a aparecer em estudos, especialmente entre a geração Z. Pesquisas internacionais indicam que os mais jovens estão bebendo menos.
No Brasil, esses indicadores ainda são oscilantes, mas o consumo de bebidas alcoólicas caiu após o aumento registrado no primeiro ano de pandemia. Segundo a Vigitel (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico), do Ministério da Saúde, em 2021 houve queda no consumo considerado excessivo de álcool por jovens brasileiros.
Entre aqueles de 18 a 24 anos, 19,3% entravam nessa estatística, a menor porcentagem desde 2014. Em 2020, esse indicador era de 25%. Na faixa etária de 25 a 34 anos, a diminuição também ocorreu: cerca de 25% dos entrevistados responderam ter bebido demais em uma mesma ocasião. No ano anterior, foram 30,9%.
O beber em excesso foi classificado como quatro ou mais doses para mulheres e cinco ou mais para homens. De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), não há nível seguro de consumo de álcool, isto é, não é possível indicar uma quantidade que não afete a saúde.
Gabriela considera que, até meados do ano passado, a frequência do seu consumo impactava sua saúde mental e seu bem-estar. "Estava passando por uma fase difícil e bebia muito. Se acontecia algo bom, bebia para comemorar. Se estava triste, bebia para afogar as mágoas", conta.
Na tentativa de melhorar sua rotina, decidiu se desafiar e passar dois meses sem beber. Desde então, conta nos dedos as vezes em que consumiu algum tipo de bebida alcoólica. Ela também percebeu que não gosta dos efeitos colaterais.
"Não foi uma escolha tão consciente quando decidi parar de beber, foi muito mais uma tentativa de fazer algo diferente para melhorar o meu dia a dia. Mas depois, percebi muitos benefícios", relata a jovem, que hoje trabalha como modelo.
Dentre as mudanças, houve economia financeira, mais disposição e melhora na saúde mental. "Minhas crises de pânico praticamente sumiram. Deu aquela claridade mental para ir atrás dos meus planos."
Thereza Andrada, 28, também considera a escolha de não beber um investimento em sua saúde mental. "Eu tenho diagnóstico de ansiedade, e não acho que beber ajuda em meu bem-estar mental ou físico. Não me vejo voluntariamente consumindo algo que me faria perder o controle", pondera.
Desde a adolescência, a atriz conta que já experimentou uma série de bebidas alcoólicas, mas o gosto não agrada-a. "Acho que muita gente bebe para se sentir incluída ou por pressão social, mas para mim não faz sentido consumir algo que não gosto do sabor", afirma.
Apesar de não considerar uma escolha difícil, Thereza diz se sentir incomodada com a reação de algumas pessoas. Entre familiares e amigos próximos, a aceitação é boa e não há muitos questionamentos. Porém, ao conhecer pessoas novas, a jovem afirma que muitas vezes se sente pressionada ou julgada.
"É uma busca incessante pra você beber, e parece que as pessoas só aceitam a minha escolha quando falo do histórico de alcoolismo em minha família", diz.
Em aplicativos de relacionamento, por exemplo, sinaliza em seu perfil que não consome bebidas alcoólicas, mas mesmo assim, acaba sendo questionada em algumas interações. "Às vezes a pessoa diz que não sabe para onde me chamar, só por eu não beber. Mas não faz diferença, podemos ir num bar e eu vou tomar um refrigerante."
Jovens abandonam bebidas alcoólicas como sinônimo de saúde e autocuidado - UOL
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