Após dois anos tentando engravidar e com fortes cólicas menstruais, a modelo e empresária Ellen Moreira Scamardi, 36, descobriu ter uma endometriose profunda, mas ignorou o diagnóstico.
Em janeiro de 2023, o quadro de Ellen se agravou e ela precisou fazer uma cirurgia de emergência, na qual foram encontradas diversas lesões de endometriose que culminaram com a retirada de 20 cm do seu intestino e o apêndice. Já recuperada, a modelo diz que aprendeu a lição e a priorizar a saúde.
"Desde a adolescência sempre tive cólicas menstruais, mas foi a partir dos 30 anos que elas ficaram mais intensas. Apesar de o meu corpo estar tentando me dizer que algo estava errado, ignorava esse alerta, tomava remédio para aliviar as dores e não investigava a causa.
Como meus exames ginecológicos de rotina davam sempre normais, na teoria não tinha com o que me preocupar e acabava focando na correria do dia a dia e no trabalho.
Aos 32, eu e meu marido decidimos que queríamos ter um bebê. Parei de tomar a pílula anticoncepcional e começamos a tentar. Dois anos se passaram e não consegui engravidar.
Neste período tive várias alterações no meu organismo, as cólicas pioraram, o fluxo de sangue ficou mais intenso, passei a ter dores durante a relação sexual e meu intestino ficou completamente desregulado, tinha momentos que sofria com intestino solto e outros em que tinha prisão de ventre.
Em 2021, procurei uma ginecologista para entender por que não estava conseguindo engravidar. Com base nos meus sintomas, a médica suspeitou que eu poderia ter endometriose, o que foi posteriormente confirmado com o resultado dos exames: tinha endometriose profunda.
A ginecologista não recomendou a cirurgia e propôs um tratamento mais conservador com medicação. Ela me orientou a tentar engravidar naturalmente por mais um ano e caso não desse certo, considerar a fertilização in vitro.
Já tinha ouvido falar sobre a doença, mas achei que não era grave. Na época estava entrando em um novo projeto profissional e acabei negligenciando minha saúde mais uma vez. Não fiz o tratamento e continuei sofrendo com os sintomas.
Em 2022, procurei um outro ginecologista, fiz mais alguns exames, mas não senti confiança em voltar nele. Só levei a situação a sério quando os problemas intestinais e as cólicas se agravaram, comecei a ter escapes de sangramento todos os dias e inchaço no corpo.
Isso afetou outras áreas da minha vida, incluindo a profissional. Muitas vezes, não consegui ir trabalhar e cheguei a perder eventos e até contratos de trabalho. Nos piores dias, pensei que estava com câncer ou que tinha engravidado e estava abortando.
Como já tinha o diagnóstico de endometriose, no início de 2023 passei com um especialista na doença. O médico avaliou meus exames, meu estado clínico e disse que meu caso era urgente e cirúrgico.
Três dias depois da consulta fiz a cirurgia robótica para o tratamento da endometriose com ressecção intestinal.
Durante o procedimento, que durou quase 7 horas, foram removidas lesões em ambos os ovários, fossas ováricas, nos trajetos dos nervos hipogástricos, ligamentos útero sacros, atrás do colo uterino, no intestino grosso, apêndice cecal, próximo da bexiga urinária.
Por conta disso, tive que retirar 20 cm do intestino grosso e o apêndice. Apesar das intervenções, minha recuperação foi ótima e os sintomas desapareceram.
Me sinto preparada para colocar novos projetos profissionais e pessoais em prática, incluindo o sonho de ser mãe —serei liberada para tentar engravidar seis meses após a cirurgia.
Ao refletir sobre o que vivi, cheguei à conclusão de que cuidei mais do externo, e menos do interno. Não podemos deixar a correria do dia a dia ser mais importante do que o nosso bem-estar. Precisamos priorizar e cuidar bem da nossa saúde."
10 mitos e verdades sobre endometriose
1. A endometriose é uma doença de fácil diagnóstico
Mito. É preciso que o médico ouça as queixas da paciente e suspeite da doença para que possa solicitar os exames adequados —essa é a parte mais difícil porque não são os exames de rotina que a mulher faz no check-up anual, como o ultrassom transvaginal, que apontam para a condição.
São exames específicos, como o ultrassom pélvico e transvaginal com preparo intestinal e a ressonância magnética de pelve com contraste. O diagnóstico da endometriose é anatomopatológico, ou seja, só é possível fechá-lo após a análise em laboratório de um fragmento de tecido removido na cirurgia. A biópsia é realizada por um médico patologista, que analisa em microscópio o material removido pelo cirurgião e fornece o diagnóstico.
2. É possível ter endometriose e não ter sintomas
Verdade. As pacientes podem apresentar sintomas ou não. As queixas dolorosas relacionadas ao período pré-menstrual e menstrual são os principais sinais de alerta.
3. A endometriose causa infertilidade
Parcialmente verdade, a endometriose pode causar infertilidade. As lesões ovarianas, tubárias e na membrana que reveste o abdome por dentro (o peritônio) podem causar aderências que dificultam a captação do óvulo pela tuba uterina. Ovários muito alterados pela doença podem ter dificuldade de ovular.
Em casos com uma menor quantidade de doença ou com doença considerada superficial, com menos inflamação pélvica, é possível que a paciente venha a engravidar. Mas normalmente nesses casos a mulher não apresenta sintomas dolorosos relacionados à doença e nem grandes alterações de exames de imagem.
4. A endometriose pode afetar diversos órgãos
Sim. Além dos órgãos do sistema reprodutor feminino, os mais frequentes são bexiga e intestino, mas a doença também pode acometer o diafragma (músculo da respiração), pulmões, entre outros.
5. A endometriose pode causar sintomas urinários e intestinais
Sim, quando ela acomete esses órgãos. Quando invade a parede da bexiga e atinge a mucosa pode causar sangramento na urina no período menstrual. Quando acomete o intestino pode causar dores e dificuldade para evacuar no período menstrual. E quando atinge a mucosa intestinal pode causar sangramento nas fezes.
6. A endometriose causa dor durante a relação sexual
Verdade. Isso ocorre por conta da sua localização estar mais frequentemente relacionada à região atrás do colo uterino, ligamentos útero sacros e fundo da vagina devido às aderências pélvicas e à constante inflamação da pelve. Desta forma, a movimentação dos órgãos pélvicos durante a relação sexual pode causar dores.
7. O uso prolongado de anticoncepcionais pode "mascarar" a doença
Mito. O uso contínuo de anticoncepcionais é feito no intuito de que a mulher fique sem menstruar (ou tenha o fluxo reduzido) e, com isso, sem os sintomas relacionados à doença. Ou seja, os anticoncepcionais de uso contínuo são uma forma de tratamento clínico e controle da doença, mas agem minimizando somente os sintomas e não tratando a origem deles.
8. A endometriose engorda
Mito. O ganho ou perda de peso não estão associados à endometriose. Caso a paciente note algo nesse sentido, é importante procurar um médico para avaliar sua saúde como um todo.
9. A endometriose tem cura
Mito. A endometriose não tem cura, mas tem tratamento e controle, que devolvem a qualidade de vida às pacientes.
10. É possível ter uma vida normal com endometriose
Sim. Desde que as pacientes tenham acesso ao diagnóstico e tratamento especializados, e a doença esteja sob controle, elas poderão ter uma vida normal e feliz.
Fonte: Alexandre Silva e Silva, ginecologista especializado em cirurgia minimamente invasiva e robótica do Hospital e Maternidade Santa Joana (SP).
Modelo ignora endometriose e perde 20 cm do intestino em cirurgia - VivaBem
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