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Saturday, October 22, 2022

Algumas pessoas podem ser verdadeiros 'ímãs de mosquito'; entenda por quê - R7

Resumindo a Notícia

Já esteve em uma roda de amigos e sentiu como se só você estivesse sendo alvo dos mosquitos? Um estudo recente provou que isso pode ter acontecido graças ao seu odor corporal único.

Existiam diversas especulações que tentavam explicar o porquê de determinadas pessoas serem ímãs desses insetos, como o nível de açúcar no sangue, mas ainda não havia dados confiáveis sobre a relação.

Foi pensando nisso que Leslie Vosshall e Maria Elena De Obaldia, do Laboratório de Neurogenética e Comportamento da Rockefeller University, decidiram se aprofundar em uma das principais teorias do assunto: a influência do odor individual ligado à microbiota da pele.

O resultado do trabalho foi publicado nesta semana na revista científica Cell.

Os ácidos graxos (um tipo de gordura) emanados pela pele criam uma espécie de perfume para os mosquitos. Como há diferenças entre as peles, algumas possuem este "ingrediente" mais abundante do que outras. 

“Existe uma associação muito, muito forte entre ter grandes quantidades desses ácidos graxos na pele e ser um ímã de mosquitos”, conta Leslie, em comunicado.

O estudo, que durou três anos, contou com oito participantes. Cada um usou meias de nylon nos antebraços durante seis horas, por vários dias.

As cientistas também construíram um ensaio olfatômetro, que consiste em uma câmara (para os mosquitos) com saída para dois canos – cada um terminando em uma caixa com uma meia, para testar qual chamaria mais a atenção dos insetos.

Na câmara, as pesquisadoras colocaram mosquitos Aedes aegypti – vetores de zika, dengue, febre amarela e chikungunya – e observaram a forma que eles voavam pelos tubos e qual das saídas eles escolhiam.

O alvo mais atraente para os mosquitos foi o voluntário chamado de “sujeito 33”, pois os insetos se aglomeravam em direção a meia usada por ele. O participante que ficou mais próximo ao sujeito 33 ainda era quatro vezes menos atraente para os mosquitos.

Comparado ao participante que chamou menos a atenção, classificado como sujeito 19, o sujeito 33 foi cem vezes mais atraente do que ele para os mosquitos.

A partir de técnicas de análise química utilizadas para identificar os compostos moleculares do sebo da pele (barreira hidratante), as cientistas descobriram que os participantes considerados de alta atratividade para os mosquitos produziam ácidos carboxílicos (usados por bactérias para formar o odor corporal único de cada ser humano) em níveis muito mais altos que os demais.

A fim de confirmar o achado, as pesquisadoras ainda recrutaram 56 pessoas diferentes para um estudo de validação. Mesmo comparado aos novos voluntários, o sujeito 33 continuou sendo o mais atraente para os mosquitos.

“Muitas coisas poderiam ter mudado sobre o assunto ou seus comportamentos ao longo desse tempo, mas essa era uma propriedade muito estável da pessoa. Alguns sujeitos estiveram no estudo por vários anos e vimos que, se fossem um ímã de mosquito, continuariam sendo um ímã de mosquito”, contou Maria.

Experimento

Com a tese confirmada de que o odor é o responsável pela atração de mosquitos, as pesquisadoras decidiram modificar os dois conjuntos diferentes de receptores de odor desses insetos, chamados de Orco e IR.

O experimento buscava entender se seria possível projetar mosquitos incapazes de detectar humanos, porém, não foi bem-sucedido.

Os mosquitos com apenas o receptor Orco continuaram atraídos por humanos e conseguiram distinguir os ímãs de mosquitos das demais pessoas. Já os insetos que tinham apenas o receptor IR, perderam a atração por humanos até certo grau, mas continuaram conseguindo encontrá-los.

“O objetivo era [ter] um mosquito que perdesse toda a atração pelas pessoas, ou um mosquito que tivesse uma atração enfraquecida por todos e não pudesse discriminar o sujeito 19 do sujeito 33. Isso seria tremendo”, ressalta Leslie.

A perda completa de atração permitiria a criação de repelentes de mosquito mais eficazes. Com o resultado negativo, no entanto, por hora, as ideias disponíveis ainda são abstratas, como a chance de manipular os microbiomas da pele de uma pessoa – como o sujeito 33 com sebo, e bactérias da pele de alguém como o sujeito 19 – para mascarar o indivíduo dos mosquitos.

“Esse é um experimento difícil, mas se isso funcionasse, então, você poderia imaginar que, tendo uma intervenção dietética ou microbioma em que você coloca bactérias na pele que são capazes de mudar de alguma forma como elas interagem com o sebo, você poderia converter alguém como o sujeito 33 (imã) em um sujeito 19 (com baixa atratividade). Mas tudo isso é muito especulativo”, conclui Leslie.

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