Sempre ouvimos que comer em casa é mais saudável que realizar refeições na rua, na maioria das vezes isso está certo, mas em alguns momentos até a nossa própria comida pode conter ingredientes não saudáveis. Para evitar trazer o perigo para casa, trouxemos hoje uma lista com itens que podem afetar a sua saúde. Continue lendo e confira.
Existem alguns alimentos na nossa dispensa que agem como assassinos silenciosos, que são aqueles que aparentemente são vulneráveis, mas que depois de um tempo causa estrago. Na realidade, a quantidade é um fator determinante para dizer o que faz mal e o que faz bem, por isso, comê-los em excesso pode afetar sua saúde de forma negativa.
Açúcar
Talvez essa não seja mais uma novidade para ninguém, o açúcar é extremamente inflamatório e causa inchaço nas articulações, fígado e cérebro. O açúcar fornece energia não só para as nossas células, mas também para aquelas cancerosas e todas as doenças infecciosas. Além disso, também inibe a absorção de nutrientes, particularmente todos os minerais.
Farinha
A farinha refinada é um grande agente no aumento de peso, níveis de colesterol e os triglicerídeos no sangue. Com isso, já foi comprovado cientificamente que a farinha é muito prejudicial ao corpo, pois enfraquece os ossos já que cálcio é mais dificilmente absorvido quando acompanhado pela farinha.
Sal
Entender que o sal é um perigo extremo é essencial para a mudança de hábitos, já que ele é extremamente prejudicial ao corpo. Para corroborar isso, uma pesquisa realizada pela Organização Mundial de Saúde informou que um aumento na incidência de acidentes vasculares cerebrais foi observado em pessoas que consomem muito sal.
Óleo
Você ama fast food ou lanches oleosos nos fins de semana? Saiba que você fará parte do grupo de pessoas mais propensas a sofrerem de diabetes junto com a obesidade. Por isso, mudar a dieta é essencial para se ter uma saúde de qualidade e viver sem comorbidades.
No último artigo falamos aqui sobre o medo, uma das emoções que podem interferir na saúde do sistema cardiovascular. Porém, em tempos de emoções à flor da pele no país, voltamos a tratar do tema, especialmente para abordar aquelas que andam tão presentes ultimamente, a exemplo da raiva. Você sabe como este tipo de emoção pode afetar o coração e os vasos sanguíneos?
A raiva crônica, ou seja, permanente e presente na rotina, nos coloca em constante modo de "luta ou fuga", influenciando no metabolismo, nos hormônios e no organismo como um todo. Cenário que resulta em numerosas mudanças no ritmo cardíaco, na pressão arterial, no sistema nervoso e na nossa resposta imunológica.
Colunistas do UOL
Alterações que interferem em fatores de risco para problemas no coração, a exemplo de diabetes, hipertensão, colesterol, entre outras condições, e, com o tempo, podem aumentar o risco de eventos e doenças relacionadas ao órgão.
Sempre alerta!
O fato é que nosso corpo está sempre alerta e pronto para nos proteger de qualquer situação que possa colocar em risco o seu funcionamento. No instante em que detecta uma alteração ou possível ameaça, automaticamente reage. E a raiva pode ser um desses gatilhos.
O responsável por receber as informações externas e traduzi-las é o sistema límbico. A partir daí, um complexo sistema nervoso e humoral é ativado e, uma série de adaptações são feitas para manter ou reequilibrar o funcionamento de vários órgãos, incluindo o coração.
A raiva como forma de estresse
Podemos dizer que a raiva —assim como o ódio e o rancor— é uma forma de estresse para o corpo. E estar sob seu efeito expõe o organismo a níveis insalubres e persistentemente elevados de hormônios, como o cortisol e a adrenalina, que são lançados na circulação e podem causar efeitos adversos.
Para se ter ideia, segundo um estudo da Harvard School of Public Health, o risco de um infarto do miocárdio ou síndrome coronária aguda aumenta em cerca de cinco vezes nas duas horas seguintes a um ataque de raiva (em relação aos momentos em que não há abalo emocional).
Também foi constatada uma probabilidade três vezes maior de ter um AVC (acidente vascular cerebral) nessas condições. Sobem ainda as chances de arritmias.
Além disso, aspectos relacionados a este tipo de emoção, como a hostilidade, amargura, irritabilidade e o comportamento agressivo, também têm sido ligados às doenças coronarianas, como a doença arterial coronária. Naqueles com predisposição ou problemas cardiovasculares já diagnosticados os riscos são ainda maiores.
Reações no sistema cardiovascular
Diante de um ataque de fúria dois processos podem ser ativados: um que envia sinais elétricos ao músculo cardíaco, influenciando no ritmo dos batimentos; outro com a produção de diversas substâncias químicas que impactam nas estruturas do coração e comprometem a integridade dos vasos sanguíneos.
Os hormônios associados ao estresse gerados pela raiva ou irritação intensa estimulam a vasoconstrição (diminuição do calibre dos vasos). Com o tempo, as artérias têm seu potencial de adaptação reduzido, o que gera aumento da pressão arterial e aceleração dos batimentos cardíacos —o coração passa a bombear sangue de forma mais rápida, o que acaba exigindo trabalho extra do órgão.
A circulação sofre mudanças repentinas e intensas. O corpo libera mais açúcares (elevando os níveis de glicose) e gorduras na corrente sanguínea. O problema é maior quando isso se torna constante e vem acompanhado de mágoa, pessimismo e tristeza.
Se essas emoções agem de forma contínua é possível que gerem arritmias ou ainda que a função cardíaca diminua ou falhe e o músculo do coração passe a não bombear o sangue tão eficientemente quanto necessário, o que gera a insuficiência cardíaca. Outras consequências são a crise hipertensiva e, como dito, o infarto do miocárdio e o AVC.
Os estímulos são capazes de provocar também tensão muscular, dores de cabeça, bruxismo, gastrite, refluxo, inquietação, alterações no sono, ansiedade, depressão, aumento do apetite, boca seca, sudorese, aumento da agregação plaquetária e depressão do sistema imunitário (derrubando a imunidade e abrindo o corpo a infecções).
Outras emoções destrutivas
Da mesma maneira que a raiva, outras emoções podem afetar negativamente os hábitos e novamente aumentar o risco de complicações cardiovasculares. Indivíduos cronicamente estressados, deprimidos ou irritados estão mais propensos a beber muito álcool, fumar, comer demais e fazer menos exercícios físicos.
Aqui ainda podemos listar a culpa e a inveja como outros inimigos do órgão (emoções listadas em um estudo desenvolvido por pesquisadores do Laboratório de Interação Social da Universidade de Berkeley, que identificou as 27 emoções que mais sentimos).
A culpa, por exemplo, pode levar à depressão. Pesquisas apontam que mais de 80% das pessoas com depressão sentem culpa, vergonha e autocrítica. Além disso, ela também está associada ao aumento dos níveis de cortisol —com possíveis complicações descritas acima.
São questões que podem ser destrutivas, especialmente quando não encontramos válvulas de escape e ajuda para reverter um cenário crônico. O comportamento então pode passar a apresentar atitudes de hostilidade e violência assim como rancor e ressentimento unidos ao isolamento social. Isso tudo prejudica a saúde emocional e, por consequência, a cardíaca.
Superar e seguir em frente
Quem nunca sentiu raiva pelas ações ou palavras de outra pessoa? Porém, como vimos, por mais difícil que seja, nutrir e abrigar este tipo de emoção pode gerar mais estresse e com o tempo ter reflexos que nos fazem mal e "criam raízes" no corpo. E cada vez mais a ciência está revelando essa conexão.
Um estudo realizado pela Universidade de Stanford com homens entre 21 e 79 anos, fez a seguinte experiência: em resumo, os pesquisadores pediram que os participantes descrevessem, enquanto eram submetidos a um teste de estresse cardiovascular, uma lesão psicológica profunda e não resolvida, uma experiência dolorosa ou que os deixava irritados, frustrados e agitados cada vez que pensavam sobre isso.
A proposta era descobrir se a raiva apareceria nas varreduras cardíacas feitas. E isso foi efetivamente identificado, uma vez que se notou uma redução do fluxo de sangue no coração enquanto os pacientes relatavam o que lhes havia acontecido.
O que podemos fazer?
Assim como os homens do estudo descrito, falar e buscar saídas para lidar com aquilo que nos desperta tais emoções é fundamental para a saúde de modo geral, inclusive a cardiovascular. Quando a mente e as emoções não andam bem, o corpo responde da mesma forma.
Por isso, especialmente em tempos caóticos e estressantes devemos procurar a paz, buscar o equilíbrio e encontrar a harmonia sem deixar que tanto desgaste afete a saúde do nosso coração. Cuidar do corpo e da mente, dar atenção as relações afetivas, optar por um estilo de vida saudável são cada vez mais essenciais.
Avalie que tipo de emoção você quer continuar carregando em sua jornada. A ideia não é ignorar aquilo que pode nos sobrecarregar, mas, sim, encontrar maneiras lidar e superar, por exemplo, a raiva, o ressentimento, a amargura e a hostilidade, conquistando mais bem-estar físico e emocional. Buscar apoio e ajuda profissional pode ser valioso.
Cruas com gotinhas de limão, no vapor, fritas, grelhadas, empanadas, gratinadas, em caldeiradas e em outras preparações, como vinagretes e tartar. Cada um tem o preparo preferido da ostra.
Do grupo dos moluscos bivalves —com concha dividida em duas valvas—, do qual também fazem parte mexilhões, mariscos, berbigões, vieiras e lambretas, as ostras são famosas por suas supostas propriedades afrodisíacas, por serem pouco calóricas —cerca de 70 kcal em 100 gramas— e pela presença de nutrientes importantes para a saúde.
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Em 100 g de ostras, são encontradas até 12 g de proteínas. Elas possuem baixo teor de gordura saturada e são ricas em micronutrientes, como as vitaminas B1, B2, B6, B12 e E, e minerais como cálcio, ferro, fósforo, magnésio, potássio e zinco.
Os valores nutricionais variam de acordo com a espécie, temperatura e características da água, da disponibilidade de nutrientes e do ciclo reprodutivo.
"Durante o verão, elas ficam ainda mais ricas em proteínas, enquanto que, com o aumento de precipitações, elas apresentam maiores concentrações de ácidos graxos poli-insaturados, em especial o ômega 3", esclarece Heleni Aires Clemente, bióloga, nutricionista, mestre em bioquímica, doutora em nutrição e professora do curso de nutrição da Facisa (Faculdade de Ciências da Saúde do Trairi), da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte).
Em uma alimentação equilibrada, associada a um estilo de vida saudável, as ostras fazem bem ao organismo. Marcella Garcez, médica nutróloga, diretora e professora da Abran (Associação Brasileira de Nutrologia), recomenda o consumo de, aproximadamente, 100 g por semana. Confira os benefícios de incluí-las em sua dieta:
1. Ajudam na manutenção muscular
Quando cruas, são 10,5 g de proteína, em 100 g, e 15,8 g na versão cozida sem óleo e sem sal. O nutriente colabora na saciedade e na manutenção dos músculos e do corpo como um todo, já que se relaciona a inúmeros processos metabólicos.
"As ostras concentram elevada quantidade de aminoácidos essenciais —não sintetizados pelo organismo e que precisam ser obtidos por meio da alimentação— e de taurina, produzida pelo corpo humano, com funções relevantes no sistema nervoso central", explica a professora do curso de nutrição da Facisa.
2. Fazem bem ao coração
Os ácidos graxos presentes no alimento garantem efeitos cardioprotetores, em particular o ômega 3 do tipo EPA (ácido eicosapentaenóico), que atua na produção de substâncias anti-inflamatórias, auxiliares na saúde do coração e da circulação sanguínea. Além disso, a substância contribui para o bom funcionamento do cérebro e da retina.
A cada 100 g de ostras, são encontrados os ácidos graxos linoléico, ou ômega 6, (0,028 g); linolênico, ou ômega 3, (0,044 g); EPA (0,188 g) e decosahexaenóico (0,203 g).
A vitamina E atua, em conjunto, na prevenção de problemas cardiovasculares.
3. Ajudam no controle do colesterol e da pressão arterial
O potássio, o magnésio, o ômega 3 e o ômega 6 têm propriedades no controle do colesterol "ruim" (LDL) e da pressão arterial.
4. Têm possível papel no desejo sexual
As evidências de que as ostras têm um papel sobre o desejo sexual são limitadas. Mas como são fonte de zinco, mineral essencial para a síntese de testosterona —hormônio responsável pelas funções reprodutivas masculinas e pelos impulsos sexuais—, há uma teoria de que o alimento seja afrodisíaco.
Segundo a nutróloga da Abran, estudos recentes ainda relatam que oligopeptideos (moléculas proteicas) presentes nelas podem melhorar a produção de testosterona. "Os benefícios quanto ao desempenho sexual parecem ser mais prevalentes na população masculina, mas para que atuem como afrodisíaco é preciso incluí-las na dieta e não apenas consumir antes do ato sexual."
5. Mantêm o cérebro saudável
As ostras são fontes de vitamina B12, necessária para o funcionamento de diversos órgãos, incluindo o cérebro, nervos e células sanguíneas.
O fósforo também tem ação na função cerebral, assim como no metabolismo.
6. Combatem a anemia
Entre os minerais presentes nos moluscos bivalves, o ferro previne e trata diferentes tipos de anemia, que acarretam em fadiga, mau funcionamento cognitivo, distúrbios estomacais e fraqueza muscular. Além disso, o consumo associado a fontes de vitamina C ativa a absorção do mineral.
7. Ajudam a ter ossos mais saudáveis
A presença de minerais, como cálcio, magnésio e fósforo, contribui para o crescimento e a manutenção adequados dos ossos, evitando a osteoporose, por exemplo.
Estudos, como um publicado no Journal of Food Science and Technology, feito em animais, demonstram que produtos alimentícios enriquecidos com conchas de ostras agem na prevenção da perda óssea.
8. Fortalecem a imunidade
As ostras contêm vitaminas e minerais essenciais para o sistema imunológico, com propriedades antioxidantes. O zinco é um deles e tem papel fundamental também na cicatrização de feridas, já que ajuda na coagulação do sangue.
Procedência e frescor
"O hábito de consumir ostras cruas ou mal cozidas colabora para o aparecimento de doenças transmitidas por alimentos", alerta a professora da UFRN.
Como são moluscos filtradores, ao se alimentarem, retêm em seus tecidos partículas orgânicas e inorgânicas, além de microrganismos contidos na água, como se fossem peneiras. Por isso, é possível encontrar nas ostras bactérias como Escherichia coli e Salmonella spp, e metais pesados, como mercúrio, chumbo e cádmio.
Assim, é crucial conhecer a origem, tanto das frescas quanto das congeladas, e dar preferência a preparos em que sejam submetidas ao cozimento, a fim de eliminar bactérias existentes.
Deve-se, ainda, ter atenção para não ingerir fragmentos de conchas, que acarretam problemas gastrointestinais, já que o organismo não é capaz de digeri-los.
Crianças, idosos, gestantes e imunossuprimidos devem evitar comer ostras cruas, devido ao risco de complicações relacionadas às gastroenterites e à ingestão de metais pesados. Pessoas com alergias a frutos do mar também devem restringir o consumo.
Fontes: Heleni Aires Clemente, bióloga, nutricionista, mestre em bioquímica, doutora em nutrição e professora do curso de nutrição da Facisa (Faculdade de Ciências da Saúde do Trairi) da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte); Marcella Garcez, médica nutróloga, diretora e professora da Abran (Associação Brasileira de Nutrologia); Mariana Etchepare, nutricionista, doutora em ciência e tecnologia de alimentos e professora do curso de nutrição na Universidade Positivo, PR.
Referência: TBCA (Tabela Brasileira de Composição de Alimentos).
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Luisa Mell, ativista da causa animal, chocou os fãs neste domingo (30) ao revelar que teve uma convulsão e segue internada, em um hospital de São Paulo. Na rede social, ela explicou o triste episódio.
“Tive outra convulsão, não vou nem poder votar hoje. Se Deus quiser, vou ficar bem. Tem um monte de gente me pedindo ajuda, mas não consigo, gente, desculpa”, explicou.
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Em maio, a ativista já tinha apresentado um caso de convulsão. Na época, ela expôs seu sofrimento aos fãs. “Vocês acreditam numa coisa dessas: fui internada ontem, tive uma convulsão. Caí no show, bati as minhas costas… Não sabem ainda o que é, mas também é muito estresse, gente! Não sei se consigo viver assim, todo mês implorando”, começou ela.
“O Brasil inteiro me pede para eu salvar cachorro. Quando não salvo, falam que eu sou uma farsa. Não aguento mais. Não posso me matar deste jeito. Está difícil ainda! A gente vem de uma pandemia e uma crise econômica muito forte. As pessoas não estão colaborando e nem adotando. Estamos sempre com lotação de ocupação. Eu tinha alugado um lugar a mais, mas tive que devolver”, concluiu.
Diferentemente do informado, Erasmo Carlos não morreu. A Folha de S.Paulo, fonte da informação da morte, publicou uma errata dando conta de que não houve a informação oficial do óbito do artista.
De acordo com a sua equipe médica, o artista estaria acordado, lúcido e com previsão de alta para os próximos dias no Hospital Barra D’Or.
No último artigo falamos aqui sobre o medo, uma das emoções que podem interferir na saúde do sistema cardiovascular. Porém, em tempos de emoções à flor da pele no país, voltamos a tratar do tema, especialmente para abordar aquelas que andam tão presentes ultimamente, a exemplo da raiva. Você sabe como este tipo de emoção pode afetar o coração e os vasos sanguíneos?
A raiva crônica, ou seja, permanente e presente na rotina, nos coloca em constante modo de "luta ou fuga", influenciando no metabolismo, nos hormônios e no organismo como um todo. Cenário que resulta em numerosas mudanças no ritmo cardíaco, na pressão arterial, no sistema nervoso e na nossa resposta imunológica.
Colunistas do UOL
Alterações que interferem em fatores de risco para problemas no coração, a exemplo de diabetes, hipertensão, colesterol, entre outras condições, e, com o tempo, podem aumentar o risco de eventos e doenças relacionadas ao órgão.
Sempre alerta!
O fato é que nosso corpo está sempre alerta e pronto para nos proteger de qualquer situação que possa colocar em risco o seu funcionamento. No instante em que detecta uma alteração ou possível ameaça, automaticamente reage. E a raiva pode ser um desses gatilhos.
O responsável por receber as informações externas e traduzi-las é o sistema límbico. A partir daí, um complexo sistema nervoso e humoral é ativado e, uma série de adaptações são feitas para manter ou reequilibrar o funcionamento de vários órgãos, incluindo o coração.
A raiva como forma de estresse
Podemos dizer que a raiva —assim como o ódio e o rancor— é uma forma de estresse para o corpo. E estar sob seu efeito expõe o organismo a níveis insalubres e persistentemente elevados de hormônios, como o cortisol e a adrenalina, que são lançados na circulação e podem causar efeitos adversos.
Para se ter ideia, segundo um estudo da Harvard School of Public Health, o risco de um infarto do miocárdio ou síndrome coronária aguda aumenta em cerca de cinco vezes nas duas horas seguintes a um ataque de raiva (em relação aos momentos em que não há abalo emocional).
Também foi constatada uma probabilidade três vezes maior de ter um AVC (acidente vascular cerebral) nessas condições. Sobem ainda as chances de arritmias.
Além disso, aspectos relacionados a este tipo de emoção, como a hostilidade, amargura, irritabilidade e o comportamento agressivo, também têm sido ligados às doenças coronarianas, como a doença arterial coronária. Naqueles com predisposição ou problemas cardiovasculares já diagnosticados os riscos são ainda maiores.
Reações no sistema cardiovascular
Diante de um ataque de fúria dois processos podem ser ativados: um que envia sinais elétricos ao músculo cardíaco, influenciando no ritmo dos batimentos; outro com a produção de diversas substâncias químicas que impactam nas estruturas do coração e comprometem a integridade dos vasos sanguíneos.
Os hormônios associados ao estresse gerados pela raiva ou irritação intensa estimulam a vasoconstrição (diminuição do calibre dos vasos). Com o tempo, as artérias têm seu potencial de adaptação reduzido, o que gera aumento da pressão arterial e aceleração dos batimentos cardíacos —o coração passa a bombear sangue de forma mais rápida, o que acaba exigindo trabalho extra do órgão.
A circulação sofre mudanças repentinas e intensas. O corpo libera mais açúcares (elevando os níveis de glicose) e gorduras na corrente sanguínea. O problema é maior quando isso se torna constante e vem acompanhado de mágoa, pessimismo e tristeza.
Se essas emoções agem de forma contínua é possível que gerem arritmias ou ainda que a função cardíaca diminua ou falhe e o músculo do coração passe a não bombear o sangue tão eficientemente quanto necessário, o que gera a insuficiência cardíaca. Outras consequências são a crise hipertensiva e, como dito, o infarto do miocárdio e o AVC.
Os estímulos são capazes de provocar também tensão muscular, dores de cabeça, bruxismo, gastrite, refluxo, inquietação, alterações no sono, ansiedade, depressão, aumento do apetite, boca seca, sudorese, aumento da agregação plaquetária e depressão do sistema imunitário (derrubando a imunidade e abrindo o corpo a infecções).
Outras emoções destrutivas
Da mesma maneira que a raiva, outras emoções podem afetar negativamente os hábitos e novamente aumentar o risco de complicações cardiovasculares. Indivíduos cronicamente estressados, deprimidos ou irritados estão mais propensos a beber muito álcool, fumar, comer demais e fazer menos exercícios físicos.
Aqui ainda podemos listar a culpa e a inveja como outros inimigos do órgão (emoções listadas em um estudo desenvolvido por pesquisadores do Laboratório de Interação Social da Universidade de Berkeley, que identificou as 27 emoções que mais sentimos).
A culpa, por exemplo, pode levar à depressão. Pesquisas apontam que mais de 80% das pessoas com depressão sentem culpa, vergonha e autocrítica. Além disso, ela também está associada ao aumento dos níveis de cortisol —com possíveis complicações descritas acima.
São questões que podem ser destrutivas, especialmente quando não encontramos válvulas de escape e ajuda para reverter um cenário crônico. O comportamento então pode passar a apresentar atitudes de hostilidade e violência assim como rancor e ressentimento unidos ao isolamento social. Isso tudo prejudica a saúde emocional e, por consequência, a cardíaca.
Superar e seguir em frente
Quem nunca sentiu raiva pelas ações ou palavras de outra pessoa? Porém, como vimos, por mais difícil que seja, nutrir e abrigar este tipo de emoção pode gerar mais estresse e com o tempo ter reflexos que nos fazem mal e "criam raízes" no corpo. E cada vez mais a ciência está revelando essa conexão.
Um estudo realizado pela Universidade de Stanford com homens entre 21 e 79 anos, fez a seguinte experiência: em resumo, os pesquisadores pediram que os participantes descrevessem, enquanto eram submetidos a um teste de estresse cardiovascular, uma lesão psicológica profunda e não resolvida, uma experiência dolorosa ou que os deixava irritados, frustrados e agitados cada vez que pensavam sobre isso.
A proposta era descobrir se a raiva apareceria nas varreduras cardíacas feitas. E isso foi efetivamente identificado, uma vez que se notou uma redução do fluxo de sangue no coração enquanto os pacientes relatavam o que lhes havia acontecido.
O que podemos fazer?
Assim como os homens do estudo descrito, falar e buscar saídas para lidar com aquilo que nos desperta tais emoções é fundamental para a saúde de modo geral, inclusive a cardiovascular. Quando a mente e as emoções não andam bem, o corpo responde da mesma forma.
Por isso, especialmente em tempos caóticos e estressantes devemos procurar a paz, buscar o equilíbrio e encontrar a harmonia sem deixar que tanto desgaste afete a saúde do nosso coração. Cuidar do corpo e da mente, dar atenção as relações afetivas, optar por um estilo de vida saudável são cada vez mais essenciais.
Avalie que tipo de emoção você quer continuar carregando em sua jornada. A ideia não é ignorar aquilo que pode nos sobrecarregar, mas, sim, encontrar maneiras lidar e superar, por exemplo, a raiva, o ressentimento, a amargura e a hostilidade, conquistando mais bem-estar físico e emocional. Buscar apoio e ajuda profissional pode ser valioso.
Os sonhos ruins e angustiantes são comumente associados às crianças. No entanto, uma pesquisa da Universidade de Birmingham, do Reino Unido, verificou que entre 50% e 85% dos adultos relatam ter episódios de pesadelos.
Essas sensações que nos fazem acordar no meio da noite assustados não causam nenhum mal direto à saúde. Todavia, os cientistas alertam que a frequência com que as pessoas de meia-idade têm pesadelos pode estar associada ao maior risco de declínio cognitivo e demência na velhice.
O estudo analisou 3.200 pessoas dos Estados Unidos, sendo 600 homens e mulheres adultos com idades entre 35 e 64 anos; e 2.600 adultos com 79 anos ou mais.
Todos os participantes estavam livres de demência no início do estudo e foram acompanhados por uma média de nove anos, para o grupo mais jovem, e cinco anos para os participantes mais velhos.
A coleta de dados começou entre 2002 e 2012 e se deu a partir do preenchimento de uma série de questionários, que incluíram a pergunta sobre a frequência com que os indivíduos tiveram pesadelos.
Esses dados foram analisados usando software estatístico, para descobrir se os participantes com maior frequência de pesadelos eram mais propensos a sofrer declínio cognitivo e serem diagnosticados com demência.
A pesquisa, publicada na eClinicalMedicine da revista The Lancet, constatou que pessoas de meia-idade (35-64) que relataram pesadelos semanalmente tiveram quatro vezes mais chances de sofrer declínio cognitivo na década seguinte, enquanto as pessoas mais velhas tiveram duas vezes mais probabilidade.
Curiosamente, o estudo descobriu que as associações eram muito mais fortes para os homens do que para as mulheres.
Por exemplo, homens mais velhos com pesadelos semanais eram cinco vezes mais propensos a desenvolver demência do que homens mais velhos que não relataram pesadelos. Nas mulheres, no entanto, o aumento do risco foi de apenas 41%.
Abidemi Otaiku, do Centro de Saúde do Cérebro Humano da Universidade de Birmingham e primeiro autor do estudo, comemorou o achado.
"Demonstramos pela primeira vez que sonhos angustiantes, ou pesadelos, podem estar ligados ao risco de demência e declínio cognitivo entre adultos saudáveis na população em geral", disse em comunicado.
Ele entende que a ligação entre os pasadelos e a demência vai ajudar no diagnóstico precoce da doença.
“Há poucos indicadores de risco para demência que podem ser identificados já na meia-idade. Embora outros trabalhos precisem ser feitos para confirmar essa associação, acreditamos que os pesadelos podem ser uma maneira útil de identificar indivíduos com alto risco de desenvolver demência e implementar estratégias para retardar o início da doença”, complementou Otaiku no estudo.
Os próximos passos da pesquisa serão investigar se os pesadelos entre os jovens podem estar associados ao risco futuro de demência e se outras características dos sonhos, como a frequência com que nos lembramos deles e quão vívidos são, também podem ser usadas para identificar o risco de demência.
Por meio de um EEG (eletroencefalograma) e um MRI (ressonância magnética), os pesquisadores pretendem investigar a base biológica dos sonhos ruins em pessoas saudáveis e pessoas com demência.
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Em quase 20 anos, mais de 174 mil jovens morreram no Brasil por doenças cerebrovasculares
Considerado a segunda principal causa de mortes no Brasil, o acidente vascular cerebral (AVC) é celebrado mundialmente no dia 29 de outubro. O Dia Mundial do AVC tem como propósito alertar sobre os cuidados com a saúde cerebrovascular. Segundo a Organização Mundial de AVC, 70 mil brasileiros morrem de AVC todos os anos e um em cada 10 pessoas que sofreram o derrame terão outro ataque nos 12 meses seguintes.
Embora mais comum entre adultos mais velhos, os casos de AVC em jovens e pessoas de meia idade tem crescido nas últimas décadas. De acordo com as últimas informações disponíveis no painel de Mortalidade do DataSUS, dos anos 2000 até 2019, 174.355 pessoas até 49 anos morreram no Brasil, em decorrência de doenças cerebrovasculares. As justificativas para o quadro vão desde hábitos pouco saudáveis até os métodos atuais de diagnósticos mais precisos, o que contribuiria para o aumento dos números. “Os jovens estão expostos mais precocemente a fatores de risco como sedentarismo, pressão arterial elevada, diabetes, colesterol alto e obesidade”, explica o neurocirurgião, Luiz Lavradas Jr.
Para o médico, o índice de AVC em jovens está crescendo por causa do aumento da aterosclerose (doença crônica caracterizada pela formação de placas de gorduras na parede dos vasos sanguíneos). “O tratamento preventivo engloba o controle de vários fatores de risco, além da necessidade de não fumar, ter uma alimentação saudável e praticar exercícios físicos”, alerta.
Sintomas e tratamento
Os sintomas do AVC em jovens não diferem muito de outras faixas etárias. Os mais frequentes são a diminuição ou a perda súbita da força na face, braço ou perna de um lado do corpo; alteração súbita da sensibilidade, com sensação de formigamento na face, braço ou perna de um lado do corpo; alteração aguda da fala, incluindo dificuldade para articular e para entender; dor de cabeça súbita e intensa sem causa aparente.
O diagnóstico é feito por meio de exames de imagem, como a tomografia e a ressonância magnética, que permitem identificar a área do cérebro afetada e o tipo do derrame cerebral, que podem ser de dois principais tipos: isquêmico (85% dos casos), quando há parada do sangue que chega ao cérebro, provocado pela obstrução dos vasos sanguíneos e o hemorrágico, caracterizado por sangramento dentro do tecido cerebral.
O tratamento de um paciente com a doença, seja ele adulto ou jovem, vai depender do tipo de AVC. “Além de medicações, tanto nos casos de isquemia quanto de hemorragia, devemos avaliar a necessidade de intervenção cirúrgica. A agilidade no atendimento do AVC é essencial. Quanto mais rápido for diagnosticado e tratado, menor é a sua extensão e consequentemente menores são as sequelas do paciente”, esclarece
Colaboração: Fernanda Zampoli / Assessoria de Imprensa
O engenheiro Thiago Brasileiro, de 43 anos, e a influenciadora digital Lucilene de Lima, de 41, possuem histórias de vida que são, ao mesmo tempo, parecidas e diferentes.
Ambos foram diagnosticados com leucemia mieloide crônica, um tipo de câncer que afeta a medula óssea — aquele "tutano" que temos no interior dos ossos e é responsável por fabricar as células do sangue, como as hemácias e os leucócitos.
Em 2017, Brasileiro começou a sentir uma dor no abdômen e um cansaço muito grande. Ele foi então a um hospital em Belo Horizonte, cidade onde mora. Lá, rapidamente recebeu o diagnóstico e o tratamento.
"Assim que a biópsia definiu o tipo de tumor, os médicos prescreveram uma das três quimioterapias orais disponíveis e, em cerca de 10 dias, eu já estava com o remédio em mãos", relata.
Lima, por outro lado, demorou quase um mês para buscar o pronto-socorro desde o início dos sintomas que experimentou, como o aparecimento de manchas na pele e um emagrecimento rápido.
Quando finalmente marcou uma consulta, a moradora de Diadema, na Grande São Paulo, passou por três unidades de saúde diferentes antes de saber qual era a verdadeira origem daqueles incômodos.
"A investigação médica começou em dezembro de 2012 e só fui iniciar o tratamento em abril de 2013. Foram quatro meses de espera", lembra.
Mas qual a diferença fundamental entre os dois? Brasileiro tem convênio médico e realiza todo o acompanhamento em clínicas e hospitais privados. Lima não possui esse tipo de seguro e depende do Sistema Único de Saúde (SUS) para lidar com a enfermidade.
Além da demora para ter o primeiro acesso aos fármacos, Lima aponta a dificuldade de recebê-los todo mês — o tratamento da leucemia mieloide crônica costuma ser feito com um entre três quimioterápicos disponíveis (imatinibe, dasatinibe e nilotinibe), administrados por meio da ingestão diária de comprimidos.
"Com o passar do tempo, você cria laços com outros pacientes. Recentemente, me contaram que os remédios estavam faltando na Bahia, no Rio de Janeiro, em Minas Gerais, no Pará, no Rio Grande do Norte…", lista.
"Só no ano passado, eu mesma fiquei sem receber a dose certa em julho, agosto, setembro, outubro e dezembro", complementa.
Lima afirma não ter condições de custear o tratamento, cujo preço varia entre R$ 12 mil e R$ 18 mil por mês. "Uma vez ou outra, até dá pra se virar e pedir ajuda financeira para alguém próximo", diz.
"Mas, às vezes, precisamos recorrer aos familiares de um paciente que acabou de morrer para que eles doem a medicação que sobrou."
Brasileiro, que coordena grupos de pacientes na Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (Abrale), também afirma lidar com relatos do tipo com mais frequência do que gostaria.
"Não existe câncer público e câncer privado. Por que o tratamento é tão diferente no SUS?", questiona.
Imbróglio profundo
Histórias como a de Brasileiro e Lima são um retrato do que acontece todos os dias com pessoas diagnosticadas com câncer, a segunda principal causa de morte no país, atrás apenas das doenças cardiovasculares.
Segundo alguns pesquisadores ouvidos pela BBC News Brasil, é possível observar um enorme descompasso entre o que existe de mais moderno e eficiente para tratar os tumores e aquilo que é oferecido de fato nas unidades de oncologia.
"Existe um abismo. Essa é uma das expressões mais concretas das desigualdades de saúde no Brasil", constata a médica Lígia Bahia, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Esse "buraco", aliás, se ampliou ainda mais na última década. Nesse período, foram lançadas drogas que revolucionaram o setor e são capazes de aumentar a sobrevida ou até curar os pacientes. No entanto, elas são muito caras — não raro, custam uma pequena fortuna por mês.
"Para ter ideia, mais de 95% dos medicamentos oncológicos aprovados para uso no país nos últimos dez anos não estão disponíveis no SUS", calcula o oncologista Fernando Maluf, fundador do Instituto Vencer o Câncer.
Como medicamento chega ao paciente
Para entender direitinho esse assunto, porém, é preciso dar um passo para trás e explicar como uma nova medicação chega (ou deveria chegar) a quem mais precisa dela.
Vamos supor que o medicamento X apresentou ótimos resultados contra o câncer de mama.
A farmacêutica responsável por aquela molécula precisa entrar com um pedido de aprovação na Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa.
Os técnicos da instituição avaliam o dossiê de evidências e tomam uma decisão. Se os dados forem suficientemente bons, o remédio está liberado para venda e prescrição no Brasil.
"Esse 'ok' da Anvisa significa que o fármaco está autorizado para ser vendido no país, mas ele não precisa ser necessariamente coberto pelos planos de saúde ou disponibilizado no SUS", diferencia a psicóloga Luciana Holtz, presidente do Instituto Oncoguia.
Essa incorporação pelos sistemas público ou privado só acontece após uma nova rodada de análises. Só que aqui o processo se bifurca em duas instâncias diferentes, ambas vinculadas ao Ministério da Saúde.
Quem é responsável por determinar se o novo tratamento deve fazer parte dos pacotes de serviços obrigatórios dos convênios é a Agência Nacional de Saúde Suplementar, a ANS.
Agora, quem bate o martelo sobre a adoção daquilo no SUS é a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde, a Conitec.
E aqui as diferenças começam a ficar mais aparentes: por uma série de razões, muitas coisas aprovadas pela ANS não recebem o sinal verde da Conitec.
"Como que existem possibilidades de tratamento tão diferentes dentro de um mesmo país? Esse é um exemplo de como as desigualdades do nosso sistema de saúde estão naturalizadas", observa Bahia.
Pra piorar, nem tudo que ganha uma sinalização positiva da Conitec chega efetivamente aos pacientes que poderiam se beneficiar com aquilo.
"Pela lei, a nova opção terapêutica aprovada pela comissão deveria estar à disposição dos pacientes em 180 dias. Mas não é isso que acontece", denuncia Holtz.
A história de um remédio
Para ilustrar esse descompasso entre a decisão técnica e a prática clínica, o oncogeneticista Bruno Filardi, colaborador do Serviço de Genética do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, no interior paulista, cita como exemplo um medicamento chamado gefitinibe.
Após passar por todo o processo burocrático citado nos parágrafos anteriores, esse fármaco recebeu no final de 2013 a aprovação da Conitec como tratamento principal para um tipo de câncer de pulmão em estágio mais avançado ou metastático (quando a doença se espalhou para outros órgãos), em que ocorre uma mutação genética chamada EGFR.
"Os estudos mostraram que o paciente que faz esse tratamento tem um benefício enorme em termos de sobrevida", resume o médico.
"Além disso, as análises de farmacoeconomia mostraram que oferecer comprimidos de gefitinibe sairia mais barato na comparação com o tratamento anterior, feito a partir da quimioterapia injetável", completa.
Mas aí vem o problema: o valor mensal por paciente pago pelo SUS para os hospitais que tratam esse câncer de pulmão não foi alterado até hoje.
Na prática, as instituições recebem R$ 1.100,00 por mês por paciente. Mas o custo mensal do gefitinibe está na casa dos R$ 4 mil.
Ou seja: a conta simplesmente não fecha.
Com isso, muitos hospitais optam por continuar a oferecer o tratamento antigo (a quimioterapia), já que ele se encaixa no orçamento, mesmo que seja menos efetivo, leve a uma expectativa de vida menor e, no final das contas, custe mais para todo o sistema.
Isso porque o paciente que faz a químio geralmente tem mais recaídas, precisa de internação, cuidados com os efeitos colaterais... E todos esses procedimentos extras acabam saindo mais caro no final das contas.Ou seja: a quimioterapia sozinha pode até sair mais barata na comparação com o gefitinibe. Mas , além de um efeito pior, ela acarreta em tantas outras coisas que acaba custando mais no final de todo o processo.
Vale mencionar que essa diferença de valores entre o que a tabela do SUS estipula e o preço real do tratamento acontece em vários outros tumores.
O médico Denizar Vianna, professor titular da Faculdade de Medicina da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), diz que essas diferenças têm a ver com a forma como a rede pública de saúde é financiada e depende de aportes do Governo Federal, dos Estados e dos municípios.
"A União estipula um valor que será pago por paciente e entende que Estados e municípios devem inteirar o restante", contextualiza o especialista, que também foi secretário do Ministério da Saúde e ajudou na elaboração do plano de governo de Ciro Gomes (PDT) e fez sugestões à chapa Lula/Alckmin (PT/PSB).
"Mas isso gera uma iniquidade muito grande, já que alguns Estados, como São Paulo, têm muito recurso e conseguem fazer esse complemento, o que permite o acesso aos tratamentos mais modernos nesses lugares. Enquanto isso, outros não possuem essa mesma capacidade", compara.
'Meu SUS é diferente do seu'
Holtz também chama a atenção para falta de padronização nos protocolos de tratamento contra o câncer na rede pública.
Esse, aliás, foi tema de uma pesquisa que ela publicou em 2017, em parceria com outros colegas.
Intitulado de "Meu SUS é diferente do seu SUS", o projeto analisou como é o tratamento contra os quatro tipos de câncer mais incidentes na população brasileira: os tumores de pulmão, mama, próstata e colorretal.
Foram comparados 52 centros oncológicos. Desses, 18 sequer tinham protocolos terapêuticos para essas doenças.
Entre aqueles que possuíam alguma diretriz, 16 unidades ofereciam um tratamento contra o câncer de pulmão inferior ao sugerido pelo próprio Ministério da Saúde. O mesmo cenário se repetiu em oito centros que lidavam com tumores de mama.
Vale citar que também foram observados centros que possuíam um padrão terapêutico superior ao preconizado pelo Governo Federal.
Essa heterogeneidade foi vista como um grande empecilho pelos pesquisadores.
"A equidade é um dos princípios do SUS, mas o que vemos na prática é que cada centro faz aquilo que bem entende", critica a psicóloga.
"Muitas vezes, é o CEP [Código de Endereçamento Postal] da sua casa que vai definir se você vai ter acesso ao melhor tratamento contra o câncer ou não", resume.
Em outras palavras, se você tiver a sorte de ser encaminhado para um centro de referência — como o Instituto Nacional do Câncer (Inca) e o Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp) — pode conseguir acesso a tratamentos mais modernos, enquanto outros brasileiros não terão a mesma oportunidade.
'Não podemos assumir que o Brasil funciona na média'
Para o médico Nelson Teich, que foi ministro da Saúde entre abril e maio de 2020, no governo de Jair Bolsonaro (PL), é muito complicado comparar o que acontece com os pacientes com câncer que dependem da saúde pública ou privada no Brasil atualmente.
E isso tem a ver com a falta de indicadores que ajudem a entender a real situação do país — ou, preferencialmente, das macrorregiões em que o planejamento da saúde deveria ser feito.
"Nós não temos no momento dados de qualidade para fazer esse tipo de avaliação", constata.
"O Brasil é continental, tem 117 macrorregiões e 5.568 municípios. Falta ao país um grande programa de informações em saúde", avalia.
Para Teich, esses indicadores sobre o câncer precisam ser divididos em quatro grandes blocos: primeiro, a expectativa de novos casos de cada tumor por ano; segundo, a infra-estrutura necessária para diagnosticar e tratar essa estimativa de pacientes; terceiro, os resultados de desempenho desses serviços; quarto, o financiamento, ou como toda essa estrutura será custeada.
Ainda segundo o especialista, essas análises precisam ser regionalizadas.
"Não podemos assumir que o Brasil funciona na média. Será preciso ter indicadores de cada macrorregião e compará-los com lugares próximos, respeitando a cultura e a economia local", propõe.
Os planos de saúde também têm falhas
Embora o acesso a certos tratamentos seja relativamente mais fácil para quem tem plano de saúde, isso não quer dizer que todos os convênios são perfeitos e oferecem tudo para os beneficiários, apontam os especialistas.
"O acesso aos tratamentos mais modernos não é igual para todo mundo que tem plano de saúde. Há muitos casos em que apenas os seguros mais caros oferecem essas opções", destaca Bahia.
Vianna entende que a principal barreira do sistema de saúde privado está na fragmentação dos serviços.
"No SUS, há uma organização determinada, em que a base é a atenção primária. Daí, o paciente só alcança as unidades de atendimento de média e alta complexidade se tiver um encaminhamento para isso", explica ele.
"Já na rede privada, o acesso aos especialistas é excessivo. A pessoa consegue rapidamente consultar médicos especialistas, sem passar por um clínico geral antes."
"Isso também não é bom, porque deixa o sistema todo fragmentado. O indivíduo vai num lugar fazer exame, em outra clínica para receber o remédio, num terceiro lugar para a consulta… Com isso, não existe um alinhamento e uma padronização dos cuidados em saúde", aponta.
A BBC News Brasil procurou o Ministério da Saúde e pediu um posicionamento a respeito dos pontos que foram apresentados pelos especialistas. Nenhuma resposta foi enviada até a publicação desta reportagem.
Como desatar esse nó?
Logicamente, um problema tão complexo como esse depende de uma enorme mudança nas políticas públicas e na forma como o câncer é encarado no país.
Os entrevistados pela BBC News Brasil levantaram uma série de sugestões que podem encurtar as desigualdades na oncologia.
Bahia acredita que o primeiro passo está justamente em reconhecer a existência do problema.
"Precisamos saber que essas coisas acontecem e nos indignar com isso. Não é normal que falte tratamento para algumas pessoas", diz.
Maluf destaca que o Instituto Vencer o Câncer elaborou uma série de propostas para os candidatos que participaram das eleições de 2022.
"Sugerimos, por exemplo, o aumento de impostos sobre alimentos e bebidas que claramente fazem mal à saúde, a criação de um fundo nacional contra o câncer, a revisão das tabelas de valores do SUS e dos protocolos de tratamento oncológico no país", lista.
"Não podemos esquecer da prevenção, até mesmo por meio das vacinas. Os imunizantes contra a hepatite B e o HPV, por exemplo, diminuem drasticamente o risco de tumores no fígado e no útero, respectivamente", acrescenta.
Para Filardi, é preciso descentralizar os serviços de oncologia no país. "Temos várias clínicas que poderiam atender o SUS e resolver muitos problemas localmente."
O oncogeneticista também acredita que o Brasil deveria ter um programa de incentivo à produção de biossimilares, medicamentos biológicos parecidos aos anticorpos monoclonais "originais" usados contra alguns tumores.
"É relativamente fácil fazer isso e baratear o preço dos fármacos", detalha.
Holtz entende que seria necessário discutir um orçamento público específico para a oncologia e incentivar a realização de pesquisas clínicas no país, aquelas que testam novos medicamentos.
"Também precisamos estabelecer uma 'cesta básica padrão', ou um tratamento mínimo contra os cânceres que seja decente, efetivo e igual para todo mundo", conclui.
Vianna indica que centralizar no Ministério da Saúde a negociação para obter insumos e medicamentos pode ser vantajoso.
"O ministério tem um grande poder de compra, o que naturalmente representa uma vantagem na hora de negociar os preços", aponta.
"Essa compra centralizada já acontece para algumas drogas específicas, mas pode ser ampliada", crê.
Teich entende que, antes de pensar em propostas específicas, é preciso organizar o setor — o que envolve necessariamente a criação de todo um sistema de informações que não existe hoje em dia.
"Além disso, o grande movimento do Brasil para lidar com o câncer tem que envolver o diagnóstico precoce", propõe o ex-ministro.
A lógica é simples: quanto mais cedo o caso é detectado, maiores a chances de tratá-lo e até curá-lo facilmente, sem a necessidade de tratamentos complexos e custosos.
"Ao diagnosticar a doença num estágio mais avançado, você invariavelmente precisa de medicamentos novos, que trazem um melhor resultado, mas são muito mais caros", raciocina.
Por fim, muitas das ideias para trazer mais saúde e qualidade de vida para quem tem câncer podem vir dos próprios pacientes, como aqueles que foram citados no início desta reportagem.
Brasileiro acredita que não há solução longe da saúde pública. "Hoje o único caminho é trabalhar, lutar, debater e defender o SUS."
"Só vamos melhorar quando o paciente virar o centro das atenções e dos cuidados", acredita.
Já Lima deseja não precisar mais sofrer com a incerteza de receber ou não o tratamento que a mantém viva.
"Eu nunca deixaria acabar as medicações. Ficar sem remédio é praticamente uma sentença de morte para nós", finaliza.
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O excesso de gordura é representado pela inventividade humana há mais de 38 000 anos, como é possível ver pela corpulenta Vênus de Willendorf, a escultura encontrada em regiões geladas da Europa em 1908. Por séculos, indicou opulência, fertilidade e moldou padrões de beleza, principalmente o de mulheres. Demorou até que a ciência depositasse os olhos sobre o fenômeno e, mesmo assim, quando isso começou a ser feito, a partir do século XIX, não se chegou muito além da constatação de que se tratava de um mero depósito de energia. E assim foi até que o alarme disparou. A escalada de mortes por doenças cardiovasculares, intimamente associadas à obesidade, e a explosão no total de obesos no mundo — 1 bilhão, segundo a Organização Mundial da Saúde — desencadearam um esforço internacional sem precedentes para aprofundar o conhecimento sobre o lipídio e desenhar estratégias mais eficazes para derrotar um dos maiores perigos à saúde pública e individual. A gordura, hoje se sabe, está também por trás de diversos tipos de câncer, inclusive o de mama, de enfermidades osteomusculares e mentais, como depressão e ansiedade. É uma bomba que precisa ser desarmada. Por isso, a ordem é tolerância zero.
Os cientistas entendem que, para a recomendação ser bem-sucedida, é preciso, em primeiro lugar, superar a velha máxima de que o acúmulo de gordura é solucionado comendo menos e gastando mais energia. É preciso mais do que isso. Graças ao salto nas pesquisas dos últimos anos, compreende-se que a obesidade é resultado de uma teia de fatores na qual sobressaem-se predisposição genética, ambiente familiar, condições econômicas, sociais e emocionais e um sistema metabólico que deve operar sob a mais fina harmonia.
O desafio está em vasculhar cada um desses aspectos procurando as formas de interferir para que o jogo vire definitivamente a nosso favor. Alguns dos caminhos eram até que conhecidos, mas ganharam outras dimensões. É o caso da prática de exercícios. Associada à alimentação saudável, ela compõe a base da cartilha do emagrecimento. Contudo, novíssimas evidências mostram que os benefícios ocorrem mesmo que os ponteiros da balança não se alterem. Em março, pesquisadores americanos e canadenses publicaram um estudo no periódico The Journal of Physiology apontando que, em obesos, doze semanas de treinamento de intensidade moderada ou de treinamento intervalado de alta intensidade — este último mais conhecido no Brasil — reduzem os processos inflamatórios e o tamanho das células adiposas, onde a gordura é armazenada. São dois impactos importantíssimos. O primeiro: a inflamação derivada da obesidade está na origem do diabetes, outra enorme ameaça à saúde, e da ocorrência do infarto, evento que mais mata no mundo. Portanto, quanto menos intensa, melhor. Em relação ao tamanho das células de gordura, há risco de extravasamento do conteúdo para a corrente sanguínea quando elas são volumosas e estão cheias. Se isso acontece, a gordura se aloja em órgãos como o coração e o fígado.
Outro mecanismo que emerge com força é a relação dos exercícios com a chamada gordura marrom. Descoberta em 1960, ela foi logo chamada de “órgão termogênico” por sua capacidade de gerar calor a partir da queima de outro tipo de gordura, a branca, justamente a que se deposita no corpo. Por quase cinquenta anos, acreditou-se que estivesse presente somente em bebês com a função de mantê-los aquecidos, uma vez que os pequenos não conseguem tremer e, portanto, esquentar-se a si próprios. Em 2009, contudo, veio a comprovação de que ela estava presente em três pontos: abaixo da clavícula, no pescoço e na coluna vertebral.
O nó estava em como ativá-la, transformando-a em instrumento para queima da gordura ruim. Expor-se a temperaturas amenas, entre 18 e 19 graus, é um jeito, mas algo um pouco mais complicado de fazer no dia a dia. É aqui que entram, novamente, os exercícios físicos. O recente mergulho nos processos envolvendo a gordura marrom trouxe a constatação de que a prática tem papel decisivo nessa ativação. Uma das formas pelas quais isso acontece é a produção, promovida pelos treinos, do hormônio irisina, capaz de acionar a entrada em ação da gordura do bem. Com investigações acontecendo em todo o mundo, surgem também mais alternativas potencialmente interessantes. Entre elas, a inosina, molécula que, em cobaias, conseguiu a proeza de converter a gordura branca em marrom. A mais nova investigação sobre seu poder foi feita na Universidade de Bonn, na Alemanha, conduzida por Alexander Pfeifer. “Precisamos desesperadamente de medicamentos para normalizar o balanço energético em pacientes obesos”, afirma o cientista.
Como toda empreitada científica, que sempre traz no bojo descobertas tão fabulosas quanto inusitadas, o esforço feito nesse momento contra a gordura desvela aspectos surpreendentes associando o peso a fatores até então improváveis. Seria difícil imaginar, por exemplo, que quilos em excesso estariam também vinculados ao ritmo do relógio biológico e à qualidade da microbiota intestinal, o conjunto de microrganismos que habitam o sistema digestivo. Mas é exatamente isso o que está sendo demonstrado.
O relógio biológico, ou ritmo circadiano, é o ciclo que regula as funções do organismo em um período de 24 horas. Ele é essencial para diversas operações, mas só recentemente soube-se de maneira mais detalhada de sua importância para o controle de peso. “O relógio biológico é vital para orquestrar o metabolismo”, diz Maria Edna de Melo, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. Em dois estudos publicados neste ano, cientistas da Weill Cornell Medicine, nos Estados Unidos, sugeriram que qualquer perturbação nesse ritmo aumenta o crescimento de células que armazenam gordura. O resultado se espelha nos obtidos em junho do ano passado por um grupo da Universidade do Texas, em Houston. Na ocasião, os pesquisadores verificaram que a combinação de distúrbios no relógio biológico e o consumo de alimentos calóricos é catastrófica. “O relógio de 24 horas que regula nosso corpo protege nossa gordura saudável e precisamos mantê-lo equilibrado ao máximo”, afirma Aleix Ribas-Latre, autor do estudo. As pesquisas sobre a relação entre a gordura e as bactérias do trato intestinal são mais incipientes. Contudo, trazem também boas ideias para o enfrentamento mais abrangente da questão. Uma das coisas que já se sabe é que esse “caldo” de microrganismos no trato digestivo pode ajudar ou atrapalhar na perda de peso dependendo de sua composição. Vem daí a necessidade de manter essa população em equilíbrio por meio de boa alimentação — iogurtes e kefir são boas opções. Assim, pouco a pouco, sobe a chance de vitória da estratégia de concessão nenhuma à obesidade.
Publicado em VEJA de 2 de novembro de 2022, edição nº 2813