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Monday, July 18, 2022

Química da depressão: como doença age no cérebro e como remédios funcionam - VivaBem

Muitas incertezas ainda cercam os fatores por trás do desenvolvimento da depressão, mas é sabido que, além de questões genéticas e do estilo de vida, quem sofre com a doença tem uma desregulação nos neurotransmissores.

Essas substâncias —serotonina, noradrenalina, dopamina, glutamato, entre outras— realizam a comunicação entre os neurônios. Mas, na depressão, há uma escassez desses neurotransmissores e/ou menor sensibilidade dos neurônios em efetivar os estímulos. Isso faz com que o humor seja afetado, assim como a energia e o prazer nas atividades.

Apesar de existir um meio de investigar as modulações de neurotransmissores, esses exames estão longe de serem usados no dia a dia médico. Por isso, o diagnóstico se volta justamente à análise dos sintomas e emoções do paciente.

É importante dizer que a ação da doença no cérebro é complexa e não tem relação apenas com os neurotransmissores. Acredita-se existir uma série de eventos relacionados, como a inflamação e o estresse oxidativo no órgão.

Depressão - iStock - iStock

Diagnóstico da depressão não tem exame e se baseia nos sentimentos da pessoa

Imagem: iStock

"Quando esses eventos se acentuam, é uma depressão crônica, e podemos ter também alterações mais acentuadas, células passam a sofrer mais com processo de agressão e alteração prolongada", diz a psiquiatra Doris Moreno, do IPq (Instituto de Psiquiatria) do HCFMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).

Segundo a médica, nessa altura, é possível que a pessoa tenha até morte de neurônios causada pelo avanço da doença.

Medicamentos focam no cérebro

As medicações atuam para reverter esses danos ao cérebro. As mais tradicionais trazem, principalmente, estimulações de dopamina (neurotransmissor relacionado à euforia), noradrenalina (com influência em processos cognitivos, sobretudo a atenção, excitação e em momentos de estresse) e serotonina (efeito sobre o desejo sexual e o aprendizado, regula o humor, o apetite, o sono e o ritmo circadiano).

As reposições desses neurotransmissores podem ser únicas, focando em apenas uma substância, ou combinadas. Os efeitos surgem de forma gradual, começando a apresentar mudanças a partir da segunda semana, normalmente. O efeito não imediato é explicado pelo processo de neuroadaptação do cérebro. Por isso, é importante que a dose da medicação seja regulada aos poucos, para evitar estimulação além da necessária.

Prozac, antidepressivo - iStock - iStock

Antidepressivos tradicionais focam em aumentar neurotransmissores

Imagem: iStock

"Uma dose alta [dos remédios] pode levar ao excesso e a tendência é corrigir a deficiência ao chegar à dose ideal, há tolerabilidade e um período de adaptabilidade. Então, começamos com dose menor e a pessoa se adapta até chegar na necessária para modular a doença", diz o farmacêutico Carlos Eduardo Coral, professor da PUCPR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná).

Também é natural que a pessoa não responda ao primeiro tratamento farmacológico, mesmo após o tempo ideal, ou não reestabeleça o comportamento anterior à depressão com um tipo único de remédio. Esses cenários são comuns, porque nem sempre há carência de apenas um neurotransmissor.

"Alguns pacientes até dizem que vão trocar o antidepressivo por um mais fraco após certo tempo. Na verdade, é para modular outro neurotransmissor. Mas vão acontecer situações em que há melhora com uma única medicação", explica Coral.

Cérebro tem que se acostumar com entrada e retirada do remédio

A resposta cerebral à modulação das substâncias também ocorre de maneira gradual, até a dosagem encaixar e, assim, estabilizar as substâncias defasadas.

"Uma das vias de ações é aumentar os neurotransmissores, mas isso não basta. Na depressão, a sensibilidade dos neurônios muda, não respondem tão bem aos neurotransmissores chegando. Então há tempo para isso normalizar", lembra a psiquiatra Doris Moreno.

Depois da medicação encaixar e ser administrada pelo tempo correto, é essencial realizar o desmame também sob orientação médica, porque os pacientes podem confundir a melhora com cura. E, caso os remédios sejam tirados sem o devido conhecimento, os sintomas voltam, inclusive com risco de o quadro depressivo piorar.

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Tem hora certa para tirar a medicação é preciso acompanhamento médico

Imagem: iStock

"Se tirar rapidamente o remédio, o que acontece é que o neurônio ficou dependente daquela atividade em nível mais elevado. Então, precisa regular para baixo, regredir a atividade pela medicação até ele conseguir, em uma atividade cerebral normal, manter o estado de humor não depressivo", descreve o farmacêutico Carlos Eduardo Coral.

Em depressões resistentes, há uma nova alternativa

Alguns quadros da doença exigem intervenções diferentes. É o caso da depressão resistente, quando a pessoa não apresenta melhora após tratamento com dois remédios diferentes em doses e tempo apropriados. Nesse caso, a cetamina é uma alternativa.

Ela não é uma medicação do dia a dia, a aplicação é intravenosa e realizada apenas no hospital ou clínicas específicas —mesmo procedimento para a escetamina (spray nasal derivado da cetamina).

"Com ela, nós conseguimos superar duas limitações: os antidepressivos [tradicionais] levam tempo para fazer efeito, o que pode ser muito tempo para uma depressão grave, com risco de suicídio, e nem todos os pacientes respondem a eles", explica o psiquiatra Humberto Corrêa, professor da Faculdade de Medicina da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).

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Representação 3D do glutamato, neurotransmissor de via excitatória

Imagem: iStock

A ação da cetamina estimula o glutamato, neurotransmissor de via excitatória, que produz sensações estimulantes. Por isso, após a administração do medicamento, os efeitos surgem mais rapidamente.

"Como é uma molécula excitatória importante, as ações do antidepressivo são muito mais rápidos, estudos mostram efeitos a partir das primeiras 24 horas. Mas como é medicação com atividade muito estimulante, pode provocar efeitos adversos frequentes", alerta Carlos Eduardo Coral. Por isso, a recomendação de usá-la em hospitais, para que os profissionais acompanhem o estado do paciente conforme a aplicação.

Fontes: Vinícius Pedreira, psiquiatra e professor de medicina da Unime (BA); Doris Moreno, psiquiatra do IPq (Instituto de Psiquiatria) do HCFMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo); Carlos Eduardo Coral, farmacêutico, professor da PUCPR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná); Humberto Corrêa, psiquiatra, professor da Faculdade de Medicina da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).

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