Você sabia que só uma parte do seu sangue, o plasma, possui mais de 600 tipos de gorduras importantes para o funcionamento do seu corpo? Muitas delas estão associadas a enfermidades como o infarto e o AVC (acidente vascular cerebral).
O colesterol é o clássico vilão da história, porém, altas taxas de triglicérides ou triglicerídeos igualmente preocupam porque acrescentam àqueles riscos a pancreatite e o excesso de gordura no fígado.
Níveis anormais de triglicerídeos e colesterol são chamados de dislipidemias e, em geral, não apresentam sintomas. A única forma de detectá-los é por meio de um exame sanguíneo. Taxas altas desse tipo de gordura podem se manifestar em homens e mulheres igualmente, inclusive em jovens, mas é mais comum no grupo masculino, a partir dos 30 anos.
Para a maior parte dessas pessoas, o tratamento se dá por meio de mudanças no estilo de vida, como adoção de uma dieta equilibrada e rica em fibras, além da prática de atividade física. Os médicos garantem que essas medidas podem reduzir em até 70% as taxas do triglicérides.
Apesar disso, em alguns casos, o uso de medicamentos se somará a essas práticas para reduzir, ainda mais, o risco de complicações.
Entenda o que são triglicérides
Trata-se do tipo mais comum de gordura circulante na corrente sanguínea, e a sua função é estocar energia nas células gordurosas.
Embora o organismo seja capaz de produzi-la, a maior parte dela provém dos alimentos, que são metabolizados e transformados em gorduras, que podem ser depositas nas paredes das artérias (aterosclerose) e no fígado.
Referidas genericamente pelos médicos como lipídios, os triglicérides integram o mesmo grupo de gorduras como o colesterol. Taxas elevadas deles são definidas como dislipidemias.
Qual é a diferença entre colesterol e triglicérides?
Embora os triglicérideos possam ser "fabricados" pelo organismo, eles são amplamente adquiridos por meio da alimentação. Já o colesterol é produzido, majoritariamente, pelo corpo, mas a dieta também pode influenciá-lo.
Para se ter uma ideia, mudanças no estilo de vida podem reduzir o colesterol ruim (LDL) em cerca de 25%; as mesmas condutas, no triglicérides, reduzem as taxas em 70%.
Por que eles são importantes?
Os níveis de triglicérides são indicadores da saúde metabólica. Altas taxas de triglicérides podem sinalizar aumento de risco para doenças cardiovasculares (AVC e infarto) —especialmente quando há desequilíbrio no colesterol, e a ele se somam condições como o diabetes e a hipertensão (pressão alta).
Níveis elevados também estão relacionados à pancreatite e esteatose hepática, ou seja, o famoso acúmulo de gordura no fígado.
Quando as taxas triglicérides são consideradas altas?
De acordo com cardiologista Plínio Almeida Barros Neto, a linha de corte para que os triglicérides sejam considerados normais é de 150mg/dL, mas esse valor só se aplica às pessoas que não apresentam outros fatores que aumentem o risco de ter infarto ou AVC.
"Para os que já tiveram algum desses eventos, esse índice cai para 120mg/dL. Importante saber que essa interpretação é sempre personalizada, a depender da presença ou não de outros fatores de risco, como níveis elevados de colesterol", esclarece o médico.
Veja as demais taxas de corte:
Categoria níveis de triglicérides
- Normal (sem doença cardiovascular prévia): Menos de 150mg/dL
- Alto: 150 a 199mg/dL
- Muito alto: 500 mg/dL ou +
Causas das altas taxas de triglicérides
Vários fatores podem contribuir para o aumento dos triglicérides. Os mais comuns são os que você vê a seguir:
- Histórico familiar (dislipidemia familiar)
- Consumo excessivo de alimentos, especialmente carboidratos (massas, arroz, açúcar etc.)
- Sobrepeso ou obesidade
- Uso do tabaco
- Consumo excessivo de álcool
- Uso de alguns tipos de medicamentos (ex. corticoesteroides, antirretrovirais etc.)
- Problemas genéticos
- Doenças endócrinas (hipotireoidismo, hipertireoidismo, síndrome de Cushing, acromegalia, síndrome do ovário policístico)
- Diabetes descontrolado
- Doenças do fígado ou dos rins
Quem precisa ficar mais atento?
Altas taxas podem aparecer entre homens (já aos 30 anos) e mulheres (após os 40 anos), mas são mais frequentes no grupo masculino e nas seguintes condições e grupos:
- Sedentários
- Pessoas com obesidade
- Dietas ricas em açúcar (carboidratos)
- Idade superior a 65 anos
Saiba como o aumento de triglicérides é diagnosticado
Na maioria das vezes, o aumento do triglicérides não apresenta sintomas. Portanto, para saber suas taxas é preciso submeter-se a um exame de sangue chamado dosagem de triglicerídios em jejum de 12 horas.
Triglicérides e síndrome metabólica
A síndrome metabólica se caracteriza pela presença de, ao menos, 3 entre 5 situações determinantes, geralmente relacionadas ao consumo excessivo de calorias, além do sedentarismo. Confira:
- Aumento da circunferência abdominal
- Aumento das taxas de triglicérides
- Aumento da pressão arterial
- Redução do colesterol bom (HDL)
- Aumento da glicose de jejum
Taxas entre 150 a 199mg/dL, consideradas altas, são também associadas à síndrome metabólica, fator de risco para o infarto, AVC e diabetes.
O que fazer para reduzir as taxas?
A estratégia inicial para o controle dos níveis de triglicérides é mudar o estilo de vida, o que inclui:
- Controle do peso
- Exercícios moderados a vigorosos regulares
- Cessação do tabagismo
- Limitação do consumo de açúcar e alimentos refinados
- Redução do consumo de bebidas alcoólicas
- Preferência por gorduras saudáveis, como o azeite
"Essas alterações podem melhorar consideravelmente as taxas de triglicérides, o que também melhora a saúde metabólica como um todo. Isso significa que a pressão, a glicemia e o colesterol (HDL) podem ser equilibrados, assim como a saúde em geral", fala o endocrinologista Thiago Fraga Napoli, coordenador do Ambulatório de Obesidade do HSPE.
"A exceção são os pacientes com dislipidemia familiar. Para estes, a terapia com medicamentos é essencial", acrescenta o médico.
Como é o tratamento com remédios?
A cardiologista Carla Suely Souza de Paula explica que o tratamento farmacológico é uma opção para pacientes cujas modificações no estilo de vida não trouxeram o resultado esperado, ou nos quadros em que existam outros marcadores de risco.
"No entanto, ele será obrigatório quando as taxas de triglicérides sejam igual ou superiores a 500 mg/dL. Os remédios mais frequentemente usados são as estatinas (como a atorvastatina) e os fibratos, que poderão ser indicados por maior ou menor tempo, a depender da resposta de cada paciente, que deverá seguir com dieta equilibrada e atividade física", completa Paula.
Saiba o que deve mudar na dieta
Os especialistas afirmam que os objetivos do tratamento podem variar, a depender de cada quadro, mas em geral, para além da atividade física regular, é indicado que se adotem as seguintes práticas dietéticas:
- Reduza o consumo de carboidratos (massas, farinhas, pães, açúcar etc.);
- Diminua a ingesta de gorduras saturadas (gordura animal, queijos, manteiga, carne com gordura etc.);
- Inclua gorduras saudáveis no prato;
- Evite o álcool. Mesmo pequenas quantidades podem alterar as taxas;
- Aumente o consumo de fibras (verduras, legumes, leguminosas, frutas, nozes);
- Dê prioridade a laticínios com baixo teor de gordura;
- Insira mais peixes no cardápio familiar: a sardinha é uma boa opção;
- Reduza o consumo de alimentos com açúcar adicionado (bolachas, bebidas gaseificadas etc.);
- Aposte em grãos integrais (farinha, farelo ou flocos de aveia), linhaça, chia, quinoa etc.
Fontes: Carla Suely Souza de Paula, cardiologista do Huol-UFRN (Hospital Universitário Onofre Lopes da Universidade Federal do Rio Grande do Norte), que integra a rede Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares); Plínio Almeida Barros Neto, médico cardiologista e professor do curso de medicina da FOB-USP (Faculdade de Odontologia de Bauru); Thiago Fraga Napoli, endocrinologista titular da SBEM-SP (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia em São Paulo), coordenador do Ambulatório de Obesidade do HSPE (Hospital do Servidor Público Estadual) e doutorando em endocrinologia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. Revisão médica: Plínio Almeida Barros Neto.
Referências: Ministério da Saúde; Pappan N, Rehman A. Dyslipidemia. [Atualizado em 2021 Jul 15]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2022 Jan-. Disponível em: https://ift.tt/W9xdr5a.
Triglicerídeos: dieta e exercícios derrubam taxas e evitam complicações - VivaBem
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