À medida que os aniversários vão passando, sinais do envelhecimento surgem, apesar de muitos tentarem exaustivamente escondê-los: cabelos grisalhos, rugas no rosto, problemas de locomoção, dores articulares, além de sintomas metabólicos, como aumento da pressão arterial e dos índices de colesterol ou glicose, e do aparecimento de doenças relacionadas à idade, como Alzheimer, demência e osteoporose.
No entanto, os indícios da passagem do tempo para outros são mais tênues e demoram a surgir. Apesar de ser um processo natural, o envelhecimento não é vivenciado de forma igualitária por todo mundo.
Existem estudos e pesquisas que buscam explicar fatores além da boa genética combinada aos hábitos de vida saudável e, ainda, se haveria uma idade biológica diferente da cronológica.
Contudo, a detecção precoce de envelhecimento seria uma oportunidade de atrasar, mudar ou, até mesmo, reverter a sua trajetória?
Para Jullyana Chrystina Ferreira Toledo Affonso, geriatra do Fleury Medicina e Saúde, pode-se reduzir o impacto quando se tem como foco manter o melhor estilo de vida possível, além de rastrear e tratar adequadamente as doenças diagnosticadas.
Fazer exames de check-up e avaliações gerais de saúde são fundamentais para prevenir e diagnosticar precocemente doenças graves, de acordo com Charlys Barbosa Nogueira, geriatra e presidente da SBGG-CE (Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia - Secção Ceará).
O tempo não para
O envelhecimento é uma arte e o modo como cada pessoa envelhece é único, nas palavras de Maurício de Miranda Ventura, geriatra, presidente do Departamento Científico de Geriatria da APM (Associação Paulista de Medicina) e diretor técnico do serviço de geriatria do Hospital do Servidor Público Estadual (SP).
O processo é influenciado por inúmeras razões: genéticas, físicas, psicológicas, emocionais e socioeconômicas. "Não é à toa que as populações que têm uma expectativa de vida maior pertencem aos centros mais desenvolvidos, não somente em função dos recursos disponíveis aos cuidados de saúde, mas também pela retaguarda social que essa população tem", afirma.
Para Ventura, o que existe é o envelhecimento bem-sucedido, em que se mantém a independência e a autonomia; e a maneira como cada um encara esse processo é fundamental para o êxito.
"Ao comparar duas pessoas com a mesma idade —85 anos— sendo que uma tem uma sequela de um acidente vascular encefálico, com sequelas motoras que acarretam dificuldade para caminhar; e a segunda não tem nenhuma doença mais grave. Enquanto a primeira não consegue sair de casa sozinha e depende de parentes e cuidadores para passear e fazer compras, a segunda realiza as atividades sem maiores dificuldades, podendo-se dizer que tem um envelhecimento bem-sucedido não porque não tenha doenças graves, mas por manter a independência e a autonomia", exemplifica o presidente do departamento científico de geriatria da APM.
Velocidade do envelhecimento é a mesma para todos?
Para Ventura, a velocidade é igual, pois o processo eleva o risco de inúmeras doenças crônicas, porém há pessoas que envelhecem bem, ativas, sentindo-se úteis e produtivas —não apenas nos aspectos profissional e financeiro—, fazendo planos e realizando sonhos, são mais resilientes e adaptam-se melhor aos problemas decorrentes, como os déficits auditivos e visuais, e conseguem superá-los.
Outras não encaram as alterações da passagem dos anos positivamente, deixam de realizar atividades prazerosas e limitam-se por se considerarem velhos. Nessa situação, aspectos emocionais e psicológicos desempenham um importante papel e os tornam menos resilientes.
Com o avanço da idade, ocorre a perda funcional e um desgaste natural das células que precisam ser repostas. Nesse processo de regeneração dos tecidos, se as células tiverem danos, decorrentes de maus hábitos ou de alguma síndrome genética, mais perdas ocorrem, de acordo com o estilo de vida, acelerando o envelhecimento. Camila Sacchelli Ramos, professora e coordenadora do curso de ciências biológicas da Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP)
Existe idade biológica?
Marcelo Valente, geriatra, professor da disciplina de geriatria da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC) e da Santa Casa de São Paulo, explica que a idade biológica se refere à velocidade de declínio das funções celulares do organismo.
"A idade biológica permite a percepção mais completa sobre o processo de envelhecimento: funções metabólicas, qualidade de vida, independência e capacidades", afirma o presidente da SBGG-CE.
Mas ela é difícil de ser mensurada. "Existem calculadoras que levam em conta parâmetros laboratoriais como Aging.AI ou parâmetros clínicos como PsychoAge e SubjAge, psicológicos e subjetivos. Há alternativas mais complexas de se mensurar como por meio do relógio epigenético (análise de DNA)", esclarece Valente.
Diferentemente da cronológica (que corresponde a quantos anos você tem), que não é modificável, a idade biológica é influenciada pela genética, pelo estilo de vida e pelo ambiente:
- A genética é responsável por somente 25% pela maneira como se envelhece
- O estilo de vida e as condições ambientais são responsáveis pelos outros 75%
Quando um indivíduo tem familiares longevos (fator genético), vive em boas condições ambientais (boa qualidade do ar, saneamento básico adequado, baixo índice de violência) e adota estilo de vida saudável com prática regular de exercícios, boa alimentação e não é tabagista nem etilista, há uma chance maior de ter um envelhecimento bem-sucedido. Marcelo Valente, geriatra, professor da disciplina de geriatria da FMABC
Esses fatores podem desacelerar a idade biológica, e outros são capazes de acelerá-la.
"Envelhecer de forma saudável não é apenas envelhecer sem doença, mas é, também, preocupar-se com aspectos que vão muito além de estar ou não doente", enfatiza o geriatra da geriatra SBGG-CE.
Marcadores do envelhecimento
Envelhece-se à medida que os telômeros (parte final dos cromossomos) se encurtam até que não é mais possível fazer a replicação do DNA, na explicação da geriatra do Fleury. "Essa é, inclusive, uma das teorias a respeito do envelhecimento biológico."
Além disso, usam-se outros parâmetros como aumento dos marcadores inflamatórios e diminuição da resposta imune.
Na prática clínica, pode-se utilizar dados mais objetivos, por exemplo, quantidade de massa muscular, funcionalidade e carga de comorbidades.
É possível também avaliar o enrijecimento das artérias, que se relaciona a doenças cardiovasculares e mortalidade. Dessa maneira, ter artérias mais enrijecidas do que o esperado para pessoas da mesma idade significa ter uma idade cronológica maior.
Fontes: Camila Sacchelli Ramos, professora e coordenadora do curso de ciências biológicas da Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP); Charlys Barbosa Nogueira, geriatra e presidente da SBGG-CE (Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia - seção Ceará); Jullyana Chrystina Ferreira Toledo Affonso, geriatra do Fleury Medicina e Saúde; Marcelo Valente, geriatra, professor da disciplina de geriatria da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC) e da Santa Casa de São Paulo; e Maurício de Miranda Ventura, geriatra, presidente do Departamento Científico de Geriatria da APM (Associação Paulista de Medicina) e diretor técnico do serviço de geriatria do Hospital do Servidor Público Estadual (SP).
Por que algumas pessoas parecem envelhecer mais rápido? - VivaBem
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