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Tuesday, July 18, 2023

Estudo analisa uso de semaglutida para tratamento de vícios; faz sentido? - VivaBem

A semaglutida, princípio ativo do Ozempic, é uma substância indicada para o tratamento de diabetes tipo 2, mas que tem ganhado popularidade recentemente por provocar perda de peso. Além disso, pacientes têm compartilhado efeitos curiosos. Muitos relatam ter perdido o interesse por toda uma gama de comportamentos viciantes e compulsivos, como beber, fumar, fazer compras, roer unhas e cutucar a pele.

Um estudo publicado em 7 de junho no periódico The Lancet e realizado por pesquisadores da Universidade de Gotemburgo, na Suécia, testou como a semaglutida afeta o comportamento de ratos que foram induzidos ao vício em álcool.

Na pesquisa, os roedores que receberam aplicações da substância reduziram a ingestão de álcool pela metade em comparação com os que não receberam. A ingestão de álcool pós-recaídas também foi menor do que o consumo de hábito. A quantidade de álcool que se bebe depois de um período de abstinência costuma ser maior do que o consumo habitual, e essa é uma das grandes dificuldades para se livrar de uma dependência.

Por que semaglutida age na dependência

De acordo com a endocrinologista Flávia Coimbra Pontes Maia, presidente da SBEM-MG (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia - Regional Minas Gerais), a substância é uma forma sintética do hormônio GLP-1, que ajuda a estimular a produção de insulina e, assim, a diminuir os níveis de glicose no sangue. "Além disso, ela retarda o esvaziamento do estômago e tem uma ação no sistema nervoso central, atuando no centro da saciedade", afirma.

A psiquiatra Camila Magalhães, cofundadora da Caliandra Saúde Mental, conta que a semaglutida também age no sistema límbico, responsável por gerenciar emoções, impulsos e comportamentos.

O fato de a droga funcionar no nível do cérebro sugere que ela também pode suprimir o desejo por outras coisas além da comida. A hipótese é que ela afeta as vias da dopamina, também conhecidas como circuitos de recompensa. Como resultado, as pessoas não sentiriam o mesmo desejo por coisas das quais gostavam muito.

Vale ressaltar que os estudos são iniciais e mais pesquisas precisam ser realizadas em humanos para avaliar se realmente esse efeito é observado. Sendo assim, é preciso aguardar antes de indicar o medicamento para o controle da dependência de álcool e outros vícios.

Como saber que é dependência?

Hábito, compulsão e vício. Segundo Camila Coutinho, psiquiatra da Clínica Holiste, em Salvador, e formada pela UFBA (Universidade Federal da Bahia), esses termos indicam intensidade e prejuízos acerca de um comportamento repetitivo.

O hábito é um comportamento de costume, rotineiro. Por exemplo, sempre que acordar tomar café, mas não tomar café o dia inteiro. Ele pode ter característica positiva ou negativa, mas não compromete a saúde física e/ou mental.

A compulsão é um comportamento disfuncional, no qual o indivíduo sente um intenso desconforto e ansiedade mesmo tendo repetido o comportamento diversas vezes em um curto espaço de tempo. Por exemplo, tomar café várias vezes ao dia e só sentir alívio por pouco tempo, por isso precisa repetir a ação novamente para se sentir satisfeito.

Já o vício é o total descontrole em relação ao ato compulsivo, gerando prejuízos graves. É o caso da dependência por comida, no qual a pessoa acaba apresentando obesidade, risco cardíaco, dificuldade de locomoção e comprometimento da saúde mental, mas ainda assim não consegue parar de comer.

A especialista afirma que no vício há um extremo mal-estar quando a pessoa não consegue realizar a ação, trazendo intenso sofrimento e angústia. O paciente muitas vezes tem consciência do transtorno, mas não consegue controlar, por isso passa a ter atitudes comprometedoras.

"No vício por comida, ele passa a comer escondido e se isolar; no vício por álcool, ele se expõe à condução perigosa de veículo por embriaguez; no vício por compras, pode fazer dívidas e problemas financeiros", exemplifica. Assim, é fundamental o tratamento professional e especializado, visando controle do quadro, reinserção social e resgate da qualidade de vida do indivíduo.

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