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Saturday, June 3, 2023

Transtornos mentais, como ansiedade, podem matar? Estudo avaliou riscos - VivaBem

Quem tem ansiedade sabe que ela provoca sintomas bem desagradáveis, como tremores, sensação de falta de ar, ondas de calor, sudorese, palpitações e dor no peito. Por conta disso, quem sofre com ela se preocupa quanto a ter problemas cardiovasculares fatais —o que, sim, é uma possibilidade.

Em março deste ano, um estudo publicado no periódico European Journal of Preventive Cardiology analisou os dados de saúde de mais de 6,5 milhões de pessoas, sobre os riscos de desenvolver infarto do miocárdio e AVC.

Os dados eram do Serviço Nacional de Seguro de Saúde Coreano e incluíam pessoas que tinham de 20 a 39 anos, foram examinados entre 2009 e 2012 e não tinham histórico de infarto e derrame. Mais de 13% dos participantes tinham pelo menos um transtorno mental: 47,9% tinham ansiedade; 21,2% tinham depressão e 20% tinham insônia.

Os participantes foram acompanhados até dezembro de 2018 e, durante esses quase oito anos, houve mais de 16 mil infartos do miocárdio e 10.500 AVC. As pessoas que tinham um transtorno mental tiveram um risco 58% maior de ter infarto no miocárdio e 42% de ter um AVC quando comparadas a quem não tinha transtorno diagnosticado. A ansiedade estava entre os com risco mais baixo, mas ainda maior do que pessoas sem diagnóstico.

Quando separados os transtornos, os riscos de ter um infarto foram:

3,13 vezes maiores em quem tinha transtorno do estresse pós-traumático;

2,61 vezes maiores em quem tinha esquizofrenia;

2,47 vezes maiores em quem tinha transtorno de abuso de substâncias;

2,4 vezes maiores em quem tinha transtorno bipolar;

2,29 vezes maiores em quem tinha transtorno de personalidade;

1,97 vezes maiores em quem tinha transtorno alimentar;

1,73 vezes maiores em quem tinha insônia;

1,72 vezes maiores em quem tinha depressão;

1,53 maiores em quem tinha ansiedade.

No caso de AVC, os riscos também foram maiores em todos os transtornos mentais documentados, menos em quem tinha transtorno de estresse pós-traumático e transtornos alimentares. Entre os outros, os riscos foram:

3 vezes maiores em quem tinha transtorno de personalidade;

2,95 vezes maiores em quem tinha esquizofrenia;

2,64 vezes maiores em quem tinha transtorno bipolar;

2,44 vezes maiores em quem tinha transtorno de abuso de substâncias;

1,6 maiores em quem tinha depressão;

1,45 vezes maiores em quem tinha insônia;

1,38 vezes maiores em quem tinha ansiedade.

Quando separados por sexo e idade, depressão, ansiedade, esquizofrenia e transtorno de personalidade foram associados a maiores riscos de infarto para participantes na faixa dos 20 anos em comparação com aqueles na faixa dos 30 anos. Além disso, depressão e insônia foram associadas a maiores riscos de ataque cardíaco e derrame em mulheres do que em homens.

Sabemos que pessoas com algum transtorno, o que inclui de ansiedade, possuem marcadores de estresse oxidativo e inflamatórios aumentados, superativos, podendo favorecer o aumento ou aceleração do risco desses acidentes. Evidentemente que o estudo teve suas limitações, não avaliou medicamentos tomados e outras possibilidades, mas vale a reflexão, sobretudo para os jovens. Henrique Bottura, psiquiatra e diretor do IPP (Instituto de Psiquiatria Paulista), que não teve relação com o estudo

Bottura faz a ressalva de que não são os transtornos mentais em si que podem matar. "Na verdade, eles contribuem para uma agressão às artérias que leva a eventos cardiovasculares", diz. Mas nem sempre representam um fator de risco, pois se muitos problemas de saúde podem decorrer de transtornos de ansiedade, o inverso também é possível. A ansiedade pode ser uma resposta de diversas doenças, como hipertireoidismo, insuficiência cardíaca, asma.

Com quadros prévios, maior o risco

Os efeitos da ansiedade muitas vezes são comparáveis aos de um susto extrapolado ou de uma grande emoção, e quando muito intensos e crônicos acabam também potencializando ou desencadeando uma descompensação de condições de saúde preexistentes, comenta Júlio Barbosa, médico pela UFBA e neurocirurgião.

O sistema nervoso simpático [responsável pelas alterações no organismo em situações de estresse ou emergência] fica muito ativado quando se tem crises de ansiedade, ou pânico, e por conta da liberação de hormônios, como cortisol e principalmente adrenalina, pode se ter um aumento preocupante da pressão arterial e da frequência cardíaca. Júlio Barbosa, médico pela UFBA e neurocirurgião

O médico acrescenta que estão vulneráveis principalmente indivíduos com:

quadros de arritmias;

fibrilação ventricular;

insuficiência cardíaca;

hipertensão arterial;

pretensos cardiopatas não identificados;

sujeitos predisponentes para ter doenças coronárias;

diabetes;

colesterol alto;

obesidade;

sedentarismo;

tabagismo.

"Com depressão também, pois é um fator de risco para o coração e síncopes e muito comum de estar associado à ansiedade."

Minha dor no peito é ansiedade ou infarto?

Na dúvida, quando não se sabe se está tendo um ataque de pânico ou do coração, por exemplo, o melhor a se fazer é correr para o pronto-socorro. "Como os sintomas em geral são parecidos e geram angústia, é preciso passar por uma avaliação médica detalhada, exames físicos e laboratoriais para detectar alterações bioquímicas e hormonais, para descobrir a verdadeira causa", esclarece o cardiologista João Vicente da Silveira, do Hospital Sírio-Libanês.

Silveira acrescenta que, por existir uma correlação muito forte entre doenças mentais e cardiovasculares —tanto que a morte súbita por síndrome do coração partido tem origem psicoemocional—, o tratamento deve ser conjunto, até porque não é possível saber o que vem primeiro. Envolve uma combinação de psicoterapia e uso de medicamentos.

Pacientes psiquiátricos com eventuais doenças de base, comorbidades, precisam de uma atenção especial, baseada em compreender que suas preocupações relacionadas à ansiedade são infundadas e em orientações diversas.

"Sobre como se prevenir, evite os gatilhos que prejudicam o organismo, tranquilize-se e tente se encorajar para enfrentar situações em que os ataques ocorrem, e mantenha a terapêutica necessária", diz o psiquiatra Henrique Bottura.

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