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Wednesday, May 10, 2023

O que acontece no seu corpo quando você reduz o consumo de carne - VivaBem

Por trás do desejo de diminuir ou cessar o consumo de carne podem estar questões como convicções religiosas, o bem-estar dos animais, o uso de medicamentos e até mesmo a intenção de preservar recursos naturais. Independente das motivações, o fato é que uma dieta rica em vegetais, pobre em sal, gorduras saturadas e açúcar colabora para um estilo de vida saudável.

Essa conclusão decorre de um fato já estabelecido na literatura científica: limitar o consumo de carne vermelha (bovina, suína e cordeiro) e processada (linguiça, carnes salgadas e defumadas) se relaciona ao menor risco de morrer precocemente. A medida ainda protege contra doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), como câncer, diabetes e enfermidades do coração.

71% de todas as mortes do globo decorrem de DCNT, o equivalente a 41 milhões de óbitos anuais (é como se pouco mais de toda a população da Espanha desaparecesse a cada ano).

80% desses óbitos têm como causa doenças cardiovasculares, seguidas de câncer, diabetes, doenças respiratórias, obesidade e sobrepeso.

1 em cada 5 mortes está associada a dietas não saudáveis.

O que você ganha com isso?

Um recente estudo realizado pela OMS revisou as evidências científicas sobre dietas ricas em alimentos de origem vegetal e seu impacto na saúde, sustentabilidade e no meio ambiente. Os resultados apresentados destacam os seguintes benefícios:

  • Garantia de maior consumo de nutrientes
  • Redução do risco para doenças do coração
  • Menor risco de ter tumores
  • Proteção contra o diabetes
  • Preservação ambiental
  • Melhora econômica da comunidade

Você turbina o consumo de nutrientes

Para garantir que sua dieta seja nutricionalmente balanceada, a sugestão do Guia Alimentar para a população brasileira é reduzir o consumo de carnes, inclusive as processadas, dando preferência a alimentos variados de origem vegetal, in natura ou minimamente processados.

O ideal é que você consuma, diariamente, 5 porções de frutas e vegetais (400 g). A orientação é da OMS.

Apenas 1 em cada 10 adultos come o suficiente desses alimentos. Hábitos alimentares pouco saudáveis e dificuldade de acesso a esses itens explicariam essa insuficiência.

Você libera passagem nas veias e artérias

Como as doenças cardiovasculares estão no topo da lista das causas de morte do globo e no país, no dia a dia de todo cardiologista, a gordura saturada é uma vilã que precisa ser combatida.

A estratégia de enfrentamento é excluir o consumo de ultraprocessados e reduzir a ingestão de carne vermelha para baixar as taxas de colesterol (LDL) e melhorar a pressão sanguínea. E isso vale para quem tem doenças do coração, artérias entupidas ou já teve um infarto.

Independente do risco identificado pelo seu médico, a dieta é a base do tratamento das dislipidemias (altas taxas de colesterol e triglicérides), do diabetes e da hipertensão.

Apesar de a medida ser protetora nesses casos, alguns estudos têm mostrado que dietas com restrição severa de carne parecem aumentar o risco de ter um AVC (Acidente Vascular Cerebral). Os dados foram publicados pelo periódico médico Bristish Medical Journal. Na dúvida, converse com seu médico: cabe a ele avaliar se você tem probabilidade de ter esta doença.

Você mantém distância do câncer

É difícil aceitar a realidade: comer 4 porções ou mais por semana de carne processada —ou não— tem relação com tumores.

A evidência científica mais forte é que há relação com o câncer colorretal.

Quando comparados aos consumidores de carne, pessoas que preferem alimentos de origem vegetal (vegetarianos ou veganos) são menos afetados por tumores de todos os tipos.

Dados do Fundo Mundial para Pesquisa em Câncer indicam que dietas que reduzem o risco de vir a ter um câncer têm pouca ou nenhuma carne no cardápio.

Você manda o diabetes procurar outra turma

Quem come carne exageradamente, consome mais gordura e isso contribui para a obesidade. Esta, por sua vez, se relaciona ao diabetes, cujo fator de risco pode ser medido por meio do IMC (índice de massa corporal).

Quem dá preferência a alimentos de origem vegetal tende a ter IMC mais baixo.

Além disso, essas pessoas, geralmente, têm um estilo de vida saudável: dieta equilibrada e menos horas sentado, o que garante a redução do risco para o diabetes.

Você trabalha pelo bem do planeta

Dados da OMS mostram que a produção de alimentos como frutas, vegetais, leguminosas e oleaginosas (castanhas e sementes) produzem menor emissão de gases de efeito estufa, quando comparada à da produção de carnes.

Parece haver um círculo vicioso —quanto maior for o impacto negativo ao ambiente maior é a associação com o aumento do risco para doenças.

Adotar uma dieta que dê preferência a alimentos de origem vegetal também protege a biodiversidade (riqueza e variedade do mundo natural).

Isso colabora para o menor uso de terra para a criação de gado e pasto.

De acordo com um estudo publicado pela PNAS (Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America), a possível redução de emissão de gases é de 29% a 70%, comparada à referência estimada para o ano de 2050.

Você pensa na economia da população

Pode parecer incrível, mas ao reduzir o consumo de carne você também colabora para a economia da sua comunidade, especialmente quando se sabe que 70% das pessoas dependem de políticas públicas como o SUS para os cuidados com a própria saúde.

Só para você ter uma ideia, no ano de 2020, na Europa, as despesas com doenças decorrentes do consumo excessivo de carne vermelha e processada foram de mais de R$ 1 trilhão.

Reduzir o consumo de carne (de forma generalizada) garantiria 65% de ganhos decorrentes da economia com os custos diretos com a saúde e perdas de vidas que poderiam ser evitadas.

Com maior disponibilidade de recursos, a saúde pública poderia dedicar maior atenção à promoção da saúde e à prevenção de doenças, garantindo melhor qualidade de vida e bem-estar para a maioria das pessoas e em todas as faixas etárias.

Os lados A e B da carne

A carne vermelha possui, por outro lado, uma grande quantidade de nutrientes - Getty Images - Getty Images
Imagem: Getty Images

A carne vermelha é considerada excelente fonte de proteínas de alta qualidade, e ainda é recheada de micronutrientes como o ferro, zinco e as vitaminas A, D e do complexo B, especialmente a tiamina (B1), a riboflavina (B2), niacina (B3) e cianocobalamina (B12).

A deficiência desses elementos é uma das maiores preocupações de quem adota uma dieta vegetariana ou vegana. Assim, manter esse item no cardápio, de forma moderada, tem suas vantagens nutricionais.

O seu excesso é que é prejudicial. A carne é rica em gorduras, principalmente aquelas não saudáveis, conhecidas como saturadas.

Quem precisa ficar de olho na dieta por causa do colesterol ou por outras razões médicas, deve preferir carnes de aves sem pele ou peixes, e até mesmo a clara do ovo —boas fontes de proteínas e com menores teores de gordura saturada.

Pense grande, comece pequeno

Seja por questões médicas ou opção, reduzir ou suprimir o consumo de carne requer cuidados especiais.

Antes de colocar em prática esse plano, consulte seu médico, um nutricionista ou nutrólogo para que eles possam avaliar seu quadro de saúde e elaborar um plano personalizado que contemple o consumo de todos os nutrientes que garantem o bom funcionamento do seu organismo.

Embora a dieta vegana esteja associada à redução das taxas de vitamina B12, considerada importante para várias funções do corpo, inclusive a saúde do sistema nervoso, ela ajuda na redução do consumo de gorduras saturadas e melhora a ingestão de gorduras boas.

A boa notícia é que entre os adultos, esse tipo de dieta, especificamente, não está associada à deficiência de vitamina A, B1, B6, B9 (folato), C, ferro, fósforo, magnésio e cobre.

Fontes: Carlos Henrique Ferreira, médico nutrólogo, coordenador da Equipe Multiprofissional de Terapia Nutricional do HU-UFPI (Hospital Universitário da Universidade Federal do Piauí), que integra a rede Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares) e do Hospital de Urgências Prof. Zenon Rocha, em Teresina, possui mestrado pela UFPI; José Rocha Faria Neto, médico cardiologista, professor da Escola de Medicina e Ciências da Vida da PUC-PR, integra o Centro de Epidemiologia e Pesquisa Clínica da mesma instituição; e Maria Célia Correia de Oliveira da Costa, nutricionista clínica, com pós-graduação em nutrição funcional pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Revisão técnica: Carlos Henrique Ferreira.

Referências:

  • Ministério da Saúde
  • Guia Alimentar para a população Brasileira
  • Diet, nutrition, physical activity and cancer: a global perspective. Continuous Update Project Expert Report 2018. London: World Cancer Research Fund International; 2018 (https://www. wcrf.org/wp-content/uploads/2021/02/Summary-of-Third-Expert-Report-2018.pdf, accessed 22 September 2021)
  • Plant-based diets and their impact on health, sustainability and the environment: a review of the evidence: WHO European Office for the Prevention and Control of Noncommunicable Diseases. Copenhagen: WHO Regional Office for Europe; 2021. Licence: CC BY-NC-SA 3.0 IGO
  • Tong TYN, Appleby PN, Bradbury KE, Perez-Cornago A, Travis RC, Clarke R et al. Risks of ischaemic heart disease and stroke in meat eaters, fish eaters, and vegetarians over 18 years of follow-up: results from the prospective EPIC-Oxford study. BMJ. 2019;366:l4897. doi:10.1136/bmj. l4897
  • Springmann M, Godfray HC, Rayner M, Scarborough P. Analysis and valuation of the health and climate change cobenefits of dietary change. Proc Natl Acad Sci U S A. 2016 Apr 12;113(15):4146-51. doi: 10.1073/pnas.1523119113. Epub 2016 Mar 21. PMID: 27001851; PMCID: PMC4839446.

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