O percentual de adultos fumantes no Brasil vem apresentando uma expressiva queda nas últimas décadas, em função das campanhas de conscientização contra o cigarro. Ainda assim, é grande a parcela de brasileiros que sofre dos males causados pela nicotina.
Segundo os últimos dados da Vigitel (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção e para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico), de 2021, o percentual de fumantes com 18 anos ou mais é de 9,5%, representando uma população de mais de 20 milhões. Além disso, 443 pessoas morrem diariamente por consequências do tabagismo.
Há muitos motivos para se livrar do cigarro. De acordo com o Inca (Instituto Nacional do Câncer), ao parar de fumar os benefícios à saúde são quase imediatos:
Após 20 minutos, a pressão sanguínea e a pulsação voltam ao normal;
Após 2 horas, não há mais nicotina circulando no sangue;
Após 8 horas, o nível de oxigênio no sangue se normaliza;
Após 12 a 24 horas, os pulmões já funcionam melhor;
Após dois dias, o olfato percebe melhor os cheiros e o paladar degusta melhor a comida;
Após três semanas, a respiração se torna mais fácil e a circulação melhora;
Após um ano, o risco de morte por infarto do miocárdio é reduzido à metade;
Após dez anos, o risco de sofrer infarto será igual ao das pessoas que nunca fumaram.
No entanto, descobrir exatamente o que fazer para abandonar esse hábito não é uma tarefa fácil. Um método que funciona para uma pessoa pode não ser a resposta para outra. Mas saiba que é possível. A seguir, ex-fumantes de longa data compartilham o que fizeram para se livrar permanentemente do vício.
Apoio da família e priorização da saúde
A dona de casa Renata Muchon, 49, foi uma adolescente ansiosa e achava que o cigarro a ajudaria a ficar mais calma. Assim, iniciou o consumo aos 16 anos. Ao longo da vida adulta, tentou parar diversas vezes, todas sem sucesso. "Tive duas gestações, aos 32 e 36 anos, e a preocupação com a saúde dos bebês me deu forças para abandonar o vício. Mas logo após a amamentação eu acabava voltando. Sempre achei que fosse impossível viver sem o cigarro", afirma.
Até que, aos 44 anos, foi diagnosticada com pneumonia e se assustou com a falta de ar. Resolveu então que era hora de priorizar a saúde e a qualidade de vida para se dedicar às filhas. "Meu pensamento sempre era: só hoje não vou fumar", explica. O primeiro mês foi muito difícil, irritação, fome, angústia, mas sua determinação foi maior. Para isso, o apoio do marido e de familiares foi fundamental. "Hoje, depois de quatro anos, me sinto mais ativa, meu fôlego voltou 100%, durmo melhor", enumera as vantagens.
Um cigarro a menos por dia
O contato do economista Renato*, 43, com o cigarro começou ainda quando era criança, observando seu avô e sua tia. "O cheiro forte de cigarro era uma característica marcante neles. Os dois faleceram em decorrência do tabagismo, o que fez eu ter certeza de que nunca fumaria", diz.
No entanto, ver esses exemplos de perto não o impediu de experimentar durante a adolescência. Influenciado por publicidades que divulgavam o cigarro como símbolo de status e poder nos anos 90, começou a fumar aos 16. Até os 20, o uso era eventual em bares e baladas, mas, de repente, percebeu-se viciado. Fumar passou a fazer parte da rotina. "Poderia esquecer de qualquer coisa ao sair de casa, menos o maço de cigarro. Virou um toc de sempre conferir se ia ter quantidade suficiente para o dia", conta. "Em resumo, virei um refém, um escravo do cigarro."
Em 2009, quando a Lei Antifumo entrou em vigor, Renato passou a perceber o quanto o vício "atrasava" sua vida. "Ainda era fumante, mas gostei da lei. Era bom entrar em um restaurante e não ter fumaça e cheiro de cigarro. Nesse momento, passei a me questionar por que eu fumava", diz. A partir daí, foram quatro tentativas de parar, mas sem sucesso.
Dez anos depois, em 2019, grande parte das pessoas do seu meio social não fumava mais, e ele passou a se sentir excluído. "Levantar da mesa durante uma conversa e até me atrasar em alguns compromissos para poder fumar me incomodava", diz. Foi então que decidiu procurar um cardiologista que lançou o desafio: fumar um cigarro a menos por dia.
Começou o processo com 20 cigarros, em 31 de março de 2019, e em 19 de abril, fumou seu último cigarro. "Depois de um mês, já não tive mais nenhuma necessidade química, mas confesso que sentia vontade em alguns momentos, quando estava esperando alguém ou depois do almoço, por exemplo. Mesmo assim, não cedi. Já se passaram quatro anos e tenho plena convicção de que foi a melhor escolha", afirma.
Como benefícios, viu a melhora do olfato, do fôlego e a sensação de bem-estar. Já um efeito colateral foram os 15 kg a mais na balança. "Ainda assim, sou mais feliz hoje. Não estou mais preso a um hábito que consumia grande parte da minha energia", comemora.
Medicação certa e livro motivacional
"Fumava desde o café da manhã até a hora de dormir. Era viciada a ponto de nenhum dos meus amigos ou familiares acreditarem que pararia um dia. Acho que nem eu acreditava que esse dia chegaria, porque se tinha uma coisa que eu gostava muito na minha rotina, era o momento do cigarro. Em viagens mundo afora, adorava as pausas para sentar, fumar um cigarro com calma e jogar conversa fora", conta a empresária Ana Emilia Greca Schmidt, 37, que fumou dos 17 aos 31 anos.
A decisão de abandonar o vício foi tomada após um jantar na casa de amigos. "Fumei tanto naquela noite, que depois aconteceu algo que nunca havia experimentado: a ressaca de cigarro. Claro, que após uma noite com bebida e muito cigarro, ficava com mal-estar no dia seguinte, mas nunca a ponto de não fumar nenhum cigarro. Pensei: essa é minha chance de parar", diz.
Com muito empenho, conseguiu ficar dois dias sem fumar, até que resolveu comprar os adesivos de nicotina. "Eles realmente ajudam, mas ainda assim estava mal-humorada, ansiosa, comendo muito. Então, procurei ajuda médica e, após alguns ajustes na medicação, aos poucos fui voltando a ser eu mesma", recorda.
Paralelo ao tratamento, toda vez que se sentia sem forças para continuar lia um trecho de "O Método Fácil de Parar de Fumar", do autor Allen Carr. "No fim das contas, li o livro mais de cinco vezes. E apesar de muita gente achar bobagem, ele foi um dos pilares para o meu processo e recomendo muito", destaca.
Seis anos depois, Ana diz que agora começa a perceber os benefícios físicos de ter parado. "Os quilos a mais continuam aqui, mas só de ter a sensação de não planejar meus dias em torno das pausas para o cigarro, já vale a pena. Ainda tenho vontade de fumar? Claro que sim, mas aí penso em todo o esforço que fiz e não tenho mais coragem de colocar um cigarro na boca", diz.
Exercício físico e suporte psicológico
Ao contrário de suas amigas de faculdade, a arquiteta Joana*, 51, nunca tinha fumado, até enfrentar uma separação mal resolvida aos 24 anos. Para lidar com o estresse e a dor do rompimento, recorreu ao alívio momentâneo do cigarro.
"Comecei aos poucos e de repente a situação ficou insustentável. Foram 11 anos me maltratando com o cigarro. Sempre fui ativa, gostava de fazer esportes, mas me vi no fundo do poço, fragilizada, com baixa autoestima. Dei um basta e decidi que era hora de mudar", lembra.
Combinar a prática de atividade física com sessões semanais de terapia foi o caminho escolhido. Assim, ela entrou para um grupo de corrida e passou a conviver com pessoas que levavam um estilo de vida mais saudável. "Ter um acompanhamento psicológico também foi muito importante. É bom a gente saber que não estamos sozinhas nesse processo e ter com quem discutir os problemas e as dificuldades", enfatiza.
Além disso, listou todos os aspectos negativos que fumar trouxe para o seu corpo: pele pálida e enrugada, mau hálito, pouco fôlego, e se lembrava disso diariamente quando tinha vontade de acender um cigarro.
Longe do tabagismo há 16 anos, Joana se diz outra pessoa e lamenta os anos que desperdiçou com o vício. "A vida é muito melhor sem fumar", diz.
*Os nomes foram alterados a pedido dos personagens
Adeus, cigarro: ex-fumantes de longa data contam como largaram vício - VivaBem
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