Indicado no tratamento contra diabetes tipo 2, o remédio tem sido usado por quem quer emagrecer — Foto: Novo Nordisk/Reprodução
A expressão "Ozempic face" (“rosto de Ozempic” na tradução livre) se refere às pessoas cujo rosto ficou com aspecto flácido e "caído" após uma perda de peso rápida usando remédios, como o Ozempic, mais conhecido, e o Wegovy.
No entanto, o termo, que se popularizou nas redes sociais, deve ser evitado, segundo especialistas.
📣 O motivo é que a expressão é:
- Imprecisa: ela não é um termo médico oficial.
- Discriminatória: reforça estigmas e preconceito cultural em relação à obesidade.
Em um artigo publicado no site da Mayo Clinic, uma organização americana sem fins lucrativos, a endocrinologista Aoife Egan, especializada em diabetes e controle de peso, é taxativa: "jogue essa expressão fora".
Para ela, além de não ser um termo médico, é mais um exemplo de preconceito em relação ao assunto "peso" surgido em uma sociedade que prioriza as aparências.
💉 Contexto: Indicado, na verdade, para tratar diabetes tipo 2, o Ozempic é um medicamento injetável (por meio de uma caneta aplicadora) que tem como princípio ativo a semaglutida.
Como ele age suprimindo o apetite, um de seus efeitos colaterais é a perda de peso. Diante disso, acabou se transformando em uma solução rápida para pessoas que, mesmo sem diabetes, recorrem ao medicamento para emagrecer por conta própria. Leia sobre os riscos aqui.
Outro remédio à base de semaglutida é o Wegovy. Ambos são fabricados pela Novo Nordisk. No entanto, ao contrário do Ozempic, a sua indicação em bula é para obesidade, em uma dosagem diferente.
Os remédios são aplicados por meio de canetas com uma agulha na ponta — Foto: Reprodução
❗ Efeito no rosto: O que acontece ao usar esses remédios é que, com a perda de peso rápida, também diminui a camada de gordura abaixo da pele que dá sustentação às estruturas da face. Também pode haver perda de colágeno, o que deixa a pele mais flácida e aparentando ter mais rugas.
"Sempre que se perde peso de forma importante (e, em especial, de forma mais veloz) perde-se também parte da gordura facial. Que é a gordura que dá sustentação a nossa pele do rosto. Com isso, podemos sim adquirir uma 'fascies' mais característica. Mas daí a atribuir isso ao medicamento são outros quinhentos…", explicou o endocrinologista Roberto Zagury em uma publicação em rede social.
G1 Explica: semaglutida - os remédios para emagrecer usados por famosos
Popularização dos remédios para emagrecer
Os remédios viraram febre entre anônimos e celebridades, como o dono do Twitter, Elon Musk, que contou que fez uso do Wegovy.
Tuíte de Musk sobre o Wegovy, em outubro de 2022. — Foto: Twitter/Reprodução
Na internet, vídeos e postagens dando dicas sobre o uso medicamento, mesmo sem indicação médica, acumulam milhões de visualizações e compartilhamentos.
Cultura do emagrecimento
Em entrevista ao podcast "O Assunto" no episódio "Ozempic - a caneta do emagrecimento", a nutricionista Sophie Deram também questiona a cultura do emagrecimento. Ela coordena o projeto sobre genética dos transtornos alimentares no Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (USP).
Ela diz, por exemplo, que a desnutrição é efeito colateral padrão de dietas restritivas. “Será que perder peso é um ganho para a saúde?”, pergunta.
Em nota conjunta, a Associação Brasileira para o estudo da Obesidade (ABESO) e da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) ressaltam que a obesidade é "uma doença crônica, complexa, multicausal e de difícil tratamento" e que remédios só devem ser usados com indicação médica.
"O mau uso, uso estético ou inadequado de medicações antiobesidade, além de expor pessoas a risco sem indicação de uso, aumenta o estigma do tratamento de quem já sofre com diversos preconceitos em nossa sociedade", afirmam as entidades.
O que diz a fabricante
Em nota, a farmacêutica Novo Nordisk, que produz os medicamentos, ressalta que "não endossa ou apoia a promoção de informações de caráter off label, ou seja, em desacordo com a bula de seus produtos".
Sobre o Ozempic, indicado para tratar diabetes, a fabricante diz que essas alterações faciais não representam "uma preocupação de segurança ou um efeito colateral resultante do uso de semaglutida injetável, com posologia semanal, para o tratamento do diabetes tipo 2".
Por essa razão, esclarece que os dados "não mostraram essas alterações faciais como um evento adverso com Ozempic e, portanto, não estão listadas como possíveis efeitos colaterais nas informações de prescrição do produto".
Embora reconheça que alguns profissionais de saúde possam estar prescrevendo Ozempic para pacientes cujo objetivo é perder peso, a farmacêutica reforça novamente que não promove, sugere ou encoraja o uso off-label de seus medicamentos.
A Novo Nordisk menciona ainda que, em entrevista ao The New York Times, o médico Rocio Salas-Whalen ressalta que perder peso rapidamente pode afetar a pele do rosto, mas que outros fatores, como idade, genética, níveis de estrogênio e porcentagem de perda de peso, podem contribuir para rugas e flacidez da pele.
Outro estudo citado pela farmacêutica afirma que o tratamento impacta não apenas na diminuição significativa de peso e IMC, mas também "influencia significativamente a distribuição de gordura".
E destaca ainda que, atualmente, não "há estudos conhecidos ou em andamento avaliando o efeito da semaglutida na gordura facial, portanto, uma correlação direta entre os dois não pode ser estabelecida".
'Rosto de Ozempic': por que termo que trata da face magra e 'caída' de quem emagrece é equivocado - G1
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