Embora seja considerado raro, quase 8.000 brasileiros já perderam o pênis por causa do câncer nos últimos 15 anos. Em média, 486 amputações são realizadas todo ano no país. Dependendo do caso, a cirurgia pode envolver a remoção total ou parcial do órgão.
Mauricio Silva, 64, recebeu o diagnóstico de câncer de pênis há cerca de dois anos. Ele notou os sintomas pouco tempo depois de operar a fimose, um excesso de pele que cobre o órgão e dificulta a exposição da glande ("cabeça" do pênis).
Eram pequenas lesões que pareciam verrugas e caroços, conforme lembra o feirante, que mora em Aparecida de Goiânia, em Goiás.
"Tomei alguns antibióticos, mas a situação foi ficando feia, foram aparecendo cada vez mais verrugas. Fui correndo ao urologista, mas nunca imaginei que seria um câncer", diz.
Entenda o câncer de pênis e os sintomas
- De acordo com o Inca (Instituto Nacional de Câncer), o câncer de pênis é um tumor raro, com maior incidência em homens a partir dos 50 anos, embora possa atingir também os jovens.
- No Brasil, esse tipo de tumor representa 2% de todos os tipos de câncer que atingem o homem. É mais frequente nas regiões Norte e Nordeste.
- Entre os sintomas estão: feridas ou úlceras persistentes, forte odor, secreção branca. A presença de gânglios inguinais (ínguas na virilha) pode ser sinal de progressão da doença.
O paciente com câncer de pênis geralmente tem a fimose —ou operou tardiamente. Com a pele cobrindo o pênis, ele não consegue ver se tem lesões na glande. Em alguns casos, temos que abrir a pele do prepúcio para confirmar o diagnóstico. Luana Gomes Alves, cirurgiã oncológica da SBCO (Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica) e especialista pelo Hospital de Câncer Araújo Jorge (Goiás)
"Sofri muito e emagreci 20 kg"
Quando passou no médico, a especialista bateu o olho e logo disse que eram lesões decorrentes do câncer. Na sequência, Mauricio precisou ser operado, com um procedimento que consiste na amputação parcial. Neste caso, não tinha mais como tratar de outra forma: era preciso retirar o tumor.
Ele foi orientado a passar por algumas sessões de psicoterapia —tudo fornecido pelo SUS, onde ele também realizou a cirurgia. "Sofri muito. Emagreci de 15 kg a 20 kg no começo. Não comia nada. Mas o acompanhamento psicológico me ajudou muito", lembra.
Na época, pesava aproximadamente 110 kg e, depois, chegou aos 90 kg —peso que manteve até hoje.
Em agosto de 2021, o feirante passou por uma amputação parcial do pênis, localizada na região da glande. A questão não foi nada fácil para Mauricio, mas ele entendeu que aquilo seria necessário.
A médica explicou que não tinha outra opção. Pensei: 'Então, vamos em frente'. A vida é mais importante. Mauricio Silva
Afeta ida ao banheiro? E as relações sexuais?
Depois da operação, ele saiu com uma sonda para ajudá-lo na hora de fazer xixi, mas por apenas 7 dias. A uretra, que faz o caminho da urina, foi preservada e novamente moldada —em alguns casos, ela pode ser totalmente retirada e, com isso, o paciente necessita de auxílio de um estoma (um novo canal construído para a saída do xixi) permanente.
Em relação às atividades sexuais, é apenas o tamanho do pênis que diminui. A pessoa ainda é capaz de ter ereção e ejacular. Cada paciente reage de uma forma nesse sentido —lembrando que sexo é muito mais que penetração.
"A penetração não tem mais jeito, mas consigo ir ao banheiro normalmente. De lá para cá, estou bem. A cirurgia foi excelente e tive uma boa recuperação", conta.
Casado e com 4 filhos, Mauricio sente alívio por ter tratado o câncer. Segue com o acompanhamento médico a cada 6 meses —com o tempo, o intervalo vai aumentando.
É uma doença que, quando você fica sabendo, maltrata nosso psicológico e nosso físico. Foram dias muito difíceis, não conseguia fazer nada. Mas graças a Deus, caí nas mãos de pessoas certas. Mauricio Silva
Amputação é sempre necessária?
Não, segundo a cirurgiã oncológica, nem todos os casos envolvem a amputação parcial ou total do órgão. Quando a lesão é mais localizada e o caso ainda é inicial, é possível fazer a ressecção do tumor na cirurgia.
No geral, o tratamento depende da extensão do tumor, mas, geralmente, as pessoas precisam passar pela cirurgia. Quando há metástase nos linfonodos na virilha, por exemplo, é possível indicar a radioterapia.
Já a quimioterapia costuma ser necessária apenas quando o paciente está com a doença avançada —ou seja, mais em casos paliativos, em que não há mais chances de cura.
"A gente sempre conversa com o paciente sobre a amputação e, geralmente, eles aceitam porque já estão com muita dor, dificuldade para urinar e lesões. Em algumas situações, percebemos que ele está mais desanimado e encaminhamos para o apoio psicológico", explica a cirurgiã oncológica da SBCO, também mestre pela UFG (Universidade Federal de Goiás).
Câncer pode ser evitado
Por isso o diagnóstico precoce é tão importante. "A cirurgia é o principal tratamento. É importante descobrir logo para tratar e, com isso, aumentar as chances de cura. Quanto mais avançado o caso, menor as chances", explica Alves.
Como o câncer de pênis está relacionado com má higiene, presença de fimose e HPV (papilomavírus humano), é possível evitar o problema da seguinte maneira:
- Realizar a higiene diária do pênis com água e sabão;
- Fazer cirurgia de fimose, principalmente na infância, reduzindo acúmulo de sujeira na região;
- Utilizar camisinha nas relações sexuais;
- Na presença de qualquer alteração na região do pênis ou virilha, procurar atendimento médico.
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