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Thursday, September 15, 2022

Poliomielite: "84% dos nossos municípios registram entre risco alto e muito alto para a reintrodução da doença", alerta epidemiologista - Crescer

Os possíveis surtos de poliomielite ou paralisia infantil têm preocupado muitos profissionais de saúde, principalmente no Brasil. A combinação de baixas coberturas vacinais e dificuldade de vigilância abrem uma grande porta para a circulação do poliovírus, que pode ser dos tipos 1, 2 e 3. Durante a XXIV Jornada Nacional de Imunizações da SBIm, que ocorreu em São Paulo entre os dias 7 e 10 de setembro, a epidemiologista e assessora técnica do Programa Nacional de Imunizações (PNI), Caroline Gava Alves, fez um alerta importante: "84% dos nossos municípios registram entre risco alto e muito alto para a reintrodução da doença".

O risco de reintrodução da doença é avaliado considerando os indicadores de vigilância, imunização e indicadores sociodemográficos. De acordo com dados da plataforma do Datasus, em 2021, a cobertura vacinal contra a poliomielite foi de 69,98% e em, 2022, ainda estamos em 49,44% — muito distante da meta de 95%. 

Vacina contra poliomielite (Foto: Tobias Arhelger / EyeEm / Getty Images)

Vacina contra poliomielite (Foto: Tobias Arhelger / EyeEm / Getty Images)

Em sua apresentação na mesa Brasil, um país de alto risco para a poliomielite, a epidemiologista destacou as consequência da doença, que afeta principalmente crianças menores de 5 anos. "Uma em cada 200 infecções leva à paralisia irreversível e de 5% a 10% dos infectados morrem por paralisia dos músculos respiratórios", ressaltou a pesquisadora. 

A vacina foi uma grande aliada para erradicar a doença em várias partes do mundo. Em 1988, eram registrados cerca de 350 mil casos ao redor do planeta. Neste ano, até 30 de agosto, foram confirmados 24 casos no mundo inteiro. Em 1994, o Brasil recebeu a certificação de eliminação da poliomielite, porém, as baixas coberturas vacinais vêm preocupando os profissionais da saúde. 

Transmissão e sintomas

A transmissão da doença acontece por meio do contato com as fezes (que podem contaminar a água e os alimentos) ou com secreções expelidas pela boca das pessoas infectadas – ao falar, tossir ou espirrar.

Na maioria dos casos, os portadores são assintomáticos – mas, mesmo sem sinais, eles podem contaminar outras pessoas. No entanto, quando há sintomas, eles dependem da gravidade da infecção. Na forma não paralítica, muitas vezes, a doença pode ser confundida com um resfriado e traz febre, mal-estar, dores de cabeça e no corpo, podendo incluir vômito, diarreia, espasmos e rigidez na nuca. Já na forma paralítica, quando o vírus atinge células dos neurônios motores, além dos sintomas citados, também inclui flacidez muscular que, geralmente, acomete mais os membros inferiores.

Brasil como grupo de risco

Durante a mesa Brasil, um país de alto risco para a poliomielite, Luiza Helena Falleiros Arlant, professora coordenadora do Departamento de Saúde da Criança da Universidade Metropolitana de Santos (SP), também destacou o difícil cenário brasileiro com relação à doença. "Conforme a avaliação de risco nas Américas e no Caribe feita pela OPS [Organização Pan-Americana], considerando variáveis como cobertura vacinal, vigilância epidemiológica e outras determinantes de saúde, o Brasil está em segundo lugar no grupo de altíssimo risco, só antecedido pelo Haiti", afirma.

Para reverter essa situação, é preciso investir em vacinação. No Brasil, existem os seguintes tipos de vacina contra a poliomielite: 

- VIP (vacina inativada injetável): Usa a tecnologia do vírus inativado e, de acordo com o PNI (Programa Nacional de Imunização), do Ministério da Saúde, deve ser aplicada aos 2, 4 e 6 meses.

- VOP (vacina atenuada oral): É a que ficou conhecida nas campanhas com o personagem Zé Gotinha, porque, obviamente, é aplicada via oral. Na rotina de vacinação infantil, de acordo com o PNI, deve ser tomada como reforço, aos 15 meses e aos 4 anos.

Segundo a docente, é imprescindível aumentar a cobertura vacinal contra a pólio com a vacina inativada injetável, pois ela já mostrou que suscita uma alta resposta imune e é extremamente eficaz. A coordenadora ainda ressaltou que nos Estados Unidos, Canadá e Europa já não se usa a vacina oral há um tempo. E na América Latina, 13 países usam a vacina inativada injetável de forma exclusiva. Para Luiza Helena, é importante suspender o uso da vacina oral atenuada no Brasil. "Ela é uma vacina usada apenas para conter surtos, não se usa na vacina de rotina", declarou.

Sobre essa questão, Caroline Gava Alves, assessora técnica do Programa Nacional de Imunizações (PNI), salientou que o Brasil já está participando de fóruns de discussões com a Organização Mundial da Saúde (OMS) para fazer uma revisão do esquema vacinal preconizado no país, pensando em uma substituição gradativa da VOP pela VIP, mas ainda não existe um posicionamento fechado. 

Volta da pólio 

A professora Luiza Helena também comentou sobre os casos de poliomielite que vêm ressurgindo em países que já tinham erradicado a doença. Um deles foi em Malawi. O país identificou um caso de poliomielite selvagem em uma menina de 3 anos e acionou um alerta no mundo. "Esse caso chamou muita atenção da mídia e uma comoção social, porque foi em uma menina de 3 anos não vacinada com início da paralisia. Esse vírus foi geneticamente associado à sequência do vírus detectado no Paquistão", explicou a docente. 

A pesquisadora destacou, ainda, os esforços no Reino Unido para detectar o vírus da pólio em seus esgotos. Em junho, autoridades inglesas encontraram vestígios de uma versão do vírus derivada da vacina viva em amostras de esgoto em partes de Londres e dizem que a transmissão comunitária é "provável". Desde então, os pais estão sendo incentivados a garantir que as vacinas de seus filhos estejam em dia, principalmente após a pandemia, quando algumas crianças ficaram com o esquema atrasado.

Já em julho, o primeiro caso de pólio nos Estados Unidos em quase uma década foi detectado no norte do estado de Nova York, conforme anunciado pelos chefes de saúde. O paciente foi diagnosticado no condado de Rockland após uma consulta. As autoridades de saúde acreditam que ele tenha sido infectado fora do país. 

Na última sexta-feira (9), a governadora de Nova York (EUA), Kathy Hochul, declarou estado de emergência no estado em resposta ao poliovírus, que foi detectado desde abril em águas residuais de quatro condados e da cidade de Nova York, informou a NBC News

O condado de Nassau foi o mais recente a encontrar pólio em suas águas residuais. O poliovírus encontrado em uma amostra coletada em agosto estava geneticamente ligado ao caso paralítico. Já os vírus encontrados em outras 50 amostras coletadas nos condados de Rockland, Orange e Sullivan compartilham o mesmo link genético. 

Com a declaração de emergência, as autoridades de saúde pretendem expandir a rede de pessoas que podem administrar vacinas contra a poliomielite e evitar a disseminação da doença. 

Para Luiza Helena, no Brasil, a vigilância ainda precisa melhorar e pode ser possível que o polivírus já esteja circulando. "O problema não é só a cobertura, mas também a sua heterogeneidade que cria bolsões suscetíveis. Assim, a vacinação é um dos pilares da erradicação da doença, assim como a vigilância", pontua a especialista. 

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