Na última semana, a Netflix lançou o filme "Continência Ao Amor" (Purple Hearts). Eis o resumo: "Uma musicista e um militar prestes a ir para a guerra se casam por conveniência. Mas uma tragédia transforma esse relacionamento de fachada em realidade".
Sim, é mais um daqueles romances teen que as plataformas de streaming lançam aos montes, com uma receita infalível: protagonistas bonitões, um enredo água com açúcar, música, um plot twist e um final feliz. Mas por que estamos falando sobre o filme aqui em VivaBem, espaço que discute saúde?
Daqui para baixo, daremos alguns spoilers da trama, então continue lendo por sua conta e risco, ok?
A história se passa na Califórnia (EUA), a protagonista Cassandra Salazar (Sofia Carson), ou Cassie, tem diabetes tipo 1, e o filme mostra o perrengue que a moça passa para conseguir a indispensável insulina para sobreviver.
Em determinada cena, ela está na farmácia e a atendente diz que não pode dispensar a insulina a Cassie —que além de tocar numa banda, é garçonete— porque não deu o tempo do seguro-saúde, o hormônio só poderia ser liberado dali a 4 dias, ou ela teria a opção de comprá-lo: US$ 300, cerca de R$ 1.500. Ao que ela responde: "Só me resta sobreviver até sexta".
Em setembro de 2019, Tatiana Pronin, colaboradora de VivaBem em Nova York, mostrou em reportagem como jovens diabéticos dos EUA, a maior economia do mundo, racionam doses de insulina para fazer a terapia caber no orçamento. O seguro-saúde da maioria deles só cobre parte do tratamento.
Infelizmente, casos de pessoas que não conseguiram arcar com o tratamento para o diabetes e morreram não são incomuns por lá.
A fundadora do T1International —organização sem fins lucrativos de apoio a pacientes—, Elizabeth Pfiester, que cresceu nos EUA e agora vive no Reino Unido, dá uma ideia de valores: "Posso te dizer que aqui não pago nada para ter insulina e suprimentos, enquanto que, nos EUA, gastava ente US$ 800 e US$ 1.000 por mês, e com plano de saúde". Em reais, isso seria o equivalente a cerca de R$ 5.500.
De volta ao filme, Cassie casa-se com o soldado Luke Morrow (Nicholas Galitzine) para ter direito ao seguro-saúde dos militares e assim conseguir tratamento para o diabetes. Ela consegue inclusive uma bomba de infusão de insulina, opção bastante moderna de terapia: trata-se de um aparelho eletrônico portátil que, ligado ao corpo através de uma agulha flexível, libera o hormônio durante 24 horas.
O médico programa o equipamento, enquanto o paciente ajusta as doses de acordo com a alimentação e a prática de exercícios. Pode ser utilizada por indivíduos com diabetes tipo 1 ou 2.
Ainda na farmácia, a protagonista menciona a insulina de ação rápida e prolongada. Vale ressaltar que a nova geração de insulinas tem permitido mais comodidade aos indivíduos com diabetes. Os tipos disponíveis se diferem pela rapidez da ação e pela duração com que agem sobre a glicose do sangue. Pode haver combinações de uso e somente o médico pode fazer a prescrição.
A insulina do tipo lenta imita a secreção contínua do corpo para manter o nível mínimo ao longo do dia. Age em cerca de 90 minutos, com pico em 8 horas e ao longo de 18 horas. Já a de longa duração funciona em 90 minutos e por até 24 horas, enquanto a ultralonga trabalha por 42 horas.
A do tipo rápida atua como a insulina que é liberada quando comemos. Aplicada 30 minutos antes das refeições, impede que a alimentação aumente os níveis de açúcar no sangue. Provoca efeito em 30 minutos, com pico em 3 horas e ao longo de 6 horas. A ultrarrápida se torna ativa quase que imediatamente. Usada logo antes das refeições, atinge o ponto máximo em 2 horas e age por 5 horas.
Se Cassie fosse brasileira, teria direito a ter o seu tratamento todo custeado pelo SUS (Sistema Único de Saúde), que fornece insulina humana de ação prolongada e rápida para diabetes tipo 1 e 2, e análoga de ação rápida para tipo 1, além de seringas e canetas aplicadoras.
Por isso, mais uma vez, assim como não nos cansamos de dizer ao longo da pandemia de covid-19 (que ainda não acabou!), viva o SUS. Saúde é direito garantido na Constituição Brasileira.
Em 2021, a insulina completou 100 anos e VivaBem publicou uma reportagem especial contando a história deste importante hormônio.
Para saber como termina essa história de saúde e amor, sugiro que assista ao filme.
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