Diagnosticada com hipertensão arterial ainda na adolescência, a bancária Fernanda Giraldini, 37, não deu importância às recomendações do médico de fazer exercícios regularmente, adotar uma alimentação equilibrada e tomar a medicação corretamente para controlar a pressão. Sem noção dos riscos que a negligência com sua saúde poderia lhe causar, ela sofreu um infarto aos 34 anos e quase morreu. Com uma nova chance, ela mudou completamente seus hábitos.
"Aos 12 anos, descobri que era diabética tipo 1 e iniciei o tratamento com insulina. Aos 18, fui diagnosticada com hipertensão arterial. Sentia fortes dores de cabeça diariamente, era uma dor que vinha do nada e irradiava para a nuca. Passei com endocrinologista e neurologista, eles pediram alguns exames, mas não encontraram nada.
Passei com um cardiologista, fiz o Mapa de pressão arterial e foi constatado a hipertensão. Tinha picos de pressão durante o dia, ela só diminuía quando eu dormia. Segundo o médico, provavelmente tinha a doença por questões hereditárias, mas também associado a outros fatores como sedentarismo, alto consumo de sal e de alimentos com gordura saturada.
O médico me passou medicação para controlar a pressão e disse que precisaria mudar meus hábitos, fazer exercício regularmente e ter uma alimentação regrada. Não dei muita atenção à orientação dele. Pensei: 'Como é genético, a culpa não é minha, vou tomar o remédio que vai melhorar'.
Naquela época, não tinha noção dos riscos que a hipertensão poderia trazer à minha saúde e não aderi ao tratamento como deveria. Esquecia de tomar o remédio, tomava dia sim e dois não. Quase não fazia exercício, ia só de vez em quando ao parque fazer uma caminhada.
Também não muito mudei minha alimentação. Minha mãe diminuiu o sal nas refeições, mas a gente comia tudo a mesma comida, não tinha um cardápio diferente para mim. Eu também comia muita pizza, lanches, frituras, massas e doces.
Não tinha o aparelho de medir pressão em casa porque era muito caro, mas de vez em quando media no ambulatório do meu trabalho. Também estava sempre acima do meu peso ideal, com 8 kg, 10 kg a mais.
Fui levando minha vida dessa forma até que em agosto de 2018, aos 34 anos, sofri um infarto e quase morri. Nesse dia acordei super bem, fui ao mercado e depois fui de carona com uma irmã para o aniversário da nossa outra irmã. No caminho, senti uma dor no meio das costas como se fosse uma dor muscular.
Chegando na festa, comecei a sentir uma pressão no peito, sensação de desmaio, falta de ar, o braço e a perna direita não formigaram, mas senti uma dor como se fosse tendinite.
Não falei nada ninguém, fui ao banheiro, joguei uma água no rosto e quando saí minha irmã que estava fazendo aniversário viu que eu estava muito pálida. Ela pegou as coisas dela e me levou ao hospital. No caminho suspeitei que fosse infarto, fiquei desesperada e só pensava que precisava sobreviver.
O médico fez o eletro e confirmou o infarto. Ele fez todos os procedimentos e me levou para sala de cirurgia para colocar o stent. Durante o procedimento, fiquei acordada e conversando com Deus em pensamento.
Reconheci que aquilo era culpa minha, por conta das minhas escolhas ruins e negligência com minha saúde, e pedi uma nova chance. Sabia que estava tudo errado e prometi que se ele me desse uma chance iria mudar totalmente.
O médico que fez o cateterismo disse que a chance de eu morrer era de 80% por conta da idade. Segundo ele, quanto mais jovem, mais a artéria é rígida e maior o risco de romper de vez. Ainda de acordo com ele, com o combo diabetes, hipertensão, sedentarismo, alimentação ruim e estresse, virei uma bomba-relógio que explodiu na veia entupida do coração.
Fiquei com pânico pelo que tinha acontecido e com muito medo de sofrer outro infarto e morrer. Durante o pós-operatório, conversei com uma psicóloga e descobri que durante todos esses anos vivi uma espécie de negação das doenças.
Tinha vergonha de falar que eu tinha diabetes e hipertensão, porque quando falava, as pessoas tinham preconceito, me julgavam e diziam coisas do tipo: 'Você é diabética porque come muito doce e é gorda' ou 'Você é muito nova, hipertensão é doença de velho'.
Não tinha disposição para ficar explicando, sabia que tinha as doenças, mas pensava, está tudo bem, não vai acontecer nada, mas aconteceu.
É claro que tenho uma grande parcela de responsabilidade por ter chegado onde cheguei, mas a gente sofre uma pressão da sociedade. Passei a vida toda ouvindo de médicos os diversos riscos de engravidar sendo diabética e hipertensa: desde ter uma eclâmpsia, não poder ter um parto normal por conta da força e do pico de pressão, os riscos para o bebê e ter que usar bomba de insulina.
Esse terror psicológico dos médicos foi crucial para não ter tido filhos. Eles poderiam falar dos riscos, mas também falar que fazendo o tratamento e acompanhamento correto seria possível engravidar e ter filho de uma forma segura.
Três meses depois de infartar, o médico me liberou para fazer atividade física, mas disse que não poderia fazer numa academia tradicional porque lá eles não estariam preparados se acontecesse alguma coisa, o risco de infartar novamente nos próximos meses era alto, segundo ele.
Por recomendação dele, entrei no programa de Reabilitação Cardiovascular do Incor USP. Ia toda segunda, quarta e sexta, às 7h. A turma era formada majoritariamente por pessoas da terceira idade, com 50, 60, 70 e até quase 90 anos. Por ser mais jovem, os alunos pensaram que eu era estagiária ou uma professora nova.
No começo, a adesão ao tratamento foi difícil, mas à medida que fui entendendo como meu coração precisava daquilo, fiz o esforço necessário. O professor explicou que a caminhada não era suficiente para mim, somente com a corrida eu ia ter a frequência cardíaca que precisava.
Aprendi a correr e, em quatro meses, emagreci 10 kg. De 3, aumentei para 6 o número de dias de atividade física. Com a liberação do cardiologista, passei a fazer esteira na academia do prédio onde moro às terças, quintas e sábados.
Também tive acesso a uma nutricionista no programa. Ela me indicou uma reeducação alimentar focada em fazer substituições saudáveis e diminuir a quantidade de comida. Cortei a farinha branca, passei a consumir produtos integrais, mais legumes, verduras, a tomar água com gás no lugar do refrigerante, e a preparar muita coisa na airfryer.
Com a chegada da pandemia, as aulas presenciais do programa de reabilitação foram suspensas, e eles passaram a enviar videoaulas, mas depois de um tempo o programa foi suspenso por tempo indeterminado. Para não ficar parada, o médico liberou eu fazer uns treinos de HIIT que achei na internet.
Depois que mudei meus hábitos, isso se tornou um estilo de vida. Fiquei viciada em atividade física e sinto mal-estar quando exagero na comida. Faço musculação 6 vezes por semana intercalando com corrida na rua e na esteira, e faço acompanhamento com nutricionista, endocrinologista e cardiologista. Tomo as medicações corretamente, e o diabetes e hipertensão estão controlados.
Aprendi na dor a ser mais consciente e cuidadosa com a minha saúde. Se não tivesse sido pelo infarto, não teria transformado algo de ruim que aconteceu em uma mudança boa.
Nesse sentido, o sentimento é de gratidão. Me tornei uma outra pessoa após infartar. Deus me deu uma segunda chance: poderia ter me feito de vítima, escolhi reagir, mudar e ter muito mais qualidade de vida."
Fique longe da hipertensão
Essa reportagem faz parte da campanha de VivaBem Fique Longe da Hipertensão, que quer ressaltar como a doença pode ser perigosa e os bons hábitos que podem nos manter bem longe dela.
Os conteúdos abordam a importância de mudar o estilo de vida, como controlar a pressão alta para além do remédio e os principais fatores de risco para essa doença. Mas tem muito mais. Confira todo o conteúdo da campanha aqui.
Essa é a quinta campanha de uma série de VivaBem que tem trazido conteúdos temáticos para auxiliar no combate a problemas que muitas pessoas enfrentam no dia a dia e contribuir para que você tenha mais saúde e bem-estar.
Relembre as campanhas anteriores:
Com hipertensão, ela infartou aos 34 e quase morreu: 'Tive segunda chance' - VivaBem
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