Quem já engasgou ou presenciou alguém com a garganta entalada por algum corpo estranho sabe como essa situação é desesperadora. Além de provocar tosse intensa, impedir a fala, há uma dificuldade para respirar que, se for severa, pode fazer com que a pessoa, em pânico, se acidente e, por falta de oxigênio, tenha uma parada respiratória, desmaie e até morra.
Casos menos dramáticos deixam a recordação do susto e, eventualmente, desconfortos e sequelas.
Entre os alimentos facilitadores desse evento súbito aparecem: farofa, espinhas de peixe, apimentados ou condimentados demais, com sementes, em grãos, líquidos, balas, crocantes, mas mesmo grandes pedaços moles e pegajosos (carne, pão, queijo), particularmente fáceis de engolir antes de serem mastigados.
Comprimidos ingeridos sem água e, em se tratando de crianças pequenas, leite materno, moedas e pecinhas de brinquedos também entram na lista.
Tem mais. Falar e beber enquanto come, mascar chiclete, engarfar alimentos muito quentes ou uma variedade deles com texturas diversas, ainda mais em posição deitada, recostada ou com muita pressa, contribui para o que desce goela abaixo "erre o caminho".
Para piorar, também se por questões fisiológicas ou patológicas a entrada da faringe (ao fundo da boca), for muito estreita e a parte de trás do céu da boca (palato mole) enfraquecida e aumentada.
Engasgo pode ser por doença
Engasgos ocorrem devido a hábitos errados, aspiração ou engolimento acidental (incluindo de saliva e fumaça), mas também em decorrência de problemas gastrointestinais, respiratórios e neurológicos, principalmente quando muito frequentes.
Nas duas primeiras circunstâncias, destacam-se o refluxo gastroesofágico e síndrome da apneia obstrutiva do sono, aponta Vitor Madeiro, gastroenterologista do Hospital Memorial São José, em Recife.
"Em ambas, envolve lesão na mucosa da faringe. No caso do refluxo gastroesofágico constante advém do efeito abrasivo do suco gástrico e seu conteúdo ácido. Na apneia, as fortes vibrações dos roncos, em todo o sono, causam inchaço na faringe e a respiração a resseca e lesiona, o que dificulta deglutição e facilita engasgos", explica Madeiro, apontando obesidade, desvios de septo e alterações anatômicas faríngeas como fatores para a apneia.
Em se tratando de causa neurológica, um AVC (acidente vascular cerebral), por exemplo, provoca descompasso da epiglote (estrutura detrás da língua que interrompe a ligação entre as vias digestiva e respiratória durante a deglutição), provocando o engasgo.
A disfunção da deglutição, frequentemente sentida como dificuldade para engolir, é chamada de disfagia, que ainda pode ter relação com envelhecimento, transtornos, escleroses e doenças da mucosa.
Perfurações, asfixia e pneumonia
A sigla médica para engasgo é OVACE (obstrução das vias aéreas por corpo estranho). Algo inadvertidamente pode descer a faringe e se entalar em áreas estreitas e membranosas do canal, predispondo tosse, mas ainda queimaduras e perfurações.
O engasgo parcial é menos crítico, a não ser que um corpo pontiagudo esteja presente. Diferente do completo, que ainda impede a passagem de líquidos, sólidos e secreções orais e causa necrose e sufocamento.
"Em casos mais extremos, se não forem tomadas algumas medidas rápidas para reverter o interrompimento da passagem do ar por engasgo, é necessária uma traqueostomia, mas esse procedimento [que consiste na abertura de um orifício na traqueia e na colocação de um pequeno tubo para a entrada de ar] deve ser realizado por profissional habilitado", alerta Marcos Moura, dentista e membro da ABHA (Associação Brasileira de Halitose), de Maceió.
Se resíduos alimentares, até mesmo um restinho de enxaguante, entrar na laringe, que tem por função proteger as vias áreas inferiores, e mesmo com o reflexo de desobstrução decorrente do engasgo atravessar a traqueia e alcançar os pulmões, o resultado pode ser igualmente sério.
A aspiração pode gerar pneumonia, bronquite e, se recorrente, uma doença respiratória crônica. Engasgar demais também enfraquece e descoordena os músculos usados para engolir.
Evitando desfechos fatais
Engasgos, na maioria das vezes, cessam espontaneamente após segundos. Quando não e se agravam, demandam pronta assistência por parte dos presentes e encaminhamento para o hospital. Nesse caso, recomenda-se a manobra de Heimlich, que consiste em abraçar a vítima engasgada pelas costas, aplicando, com as mãos fechadas, uma pressão contrária na região abdominal conhecida por "boca do estômago", de forma enérgica, súbita e repetida, para expulsar o fator obstrutivo.
Caso o sufocamento ocorra em bebês, a premissa da manobra de Heimlich persiste, mas de forma adaptada. "A criancinha deve ser deitada de barriga por sobre a mão do cuidador, que deve pressionar o epigástrio (região superior e mediana do abdome), forçando a saída do corpo estranho. Em engasgos leves, deve-se inclinar a criança para frente e dar tapinhas", recomenda Nelson Douglas Ejzenbaum, pediatra e neonatologista, membro da Academia Americana de Pediatria.
No mais, como precaução, mastigue devagar, não beba, ria ou fale enquanto come, faça as refeições sentado, corte bem e fracione os alimentos no garfo, não engula comprimidos e cápsulas a seco, trate eventuais problemas de saúde que possam estar por trás e cuidado com excesso de café, álcool, comida quente e tabagismo, que induzem inflamações, relaxamento e fechamento anormais das "válvulas" que temos localizadas no início e no final do canal alimentar.
Engasgo pode ser fatal; entenda como ele ocorre e medidas para evitá-lo - VivaBem
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