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Thursday, November 4, 2021

Mudanças climáticas contribuíram para gerar 200 mil casos de doenças renais no Brasil em 15 anos, revela estudo - Jornal O Globo

RIO — As mudanças climáticas contribuíram para gerar cerca de 202 mil casos de doença renal no Brasil entre 2000 e 2015, segundo um estudo publicado na revista científica "The Lancet Regional Health — Americas" em 31 de outubro.

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Os dados apresentados na pesquisa mostram que 7,4% das hospitalizações por enfermidade nos rins podem ser atribuídas ao aumento da temperatura. Embora já fosse conhecida a influência que o aquecimento global tem na saúde, essa foi a primeira vez que uma pesquisa quantificou esse problema.

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Os pesquisadores, liderados pelo professor Yuming Guo e o especialista Shanshan Li, analisaram um total de 2.726.886 hospitalizações por doenças renais registradas durante 15 anos, avaliando internações diárias de 1.816 cidades no Brasil.

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De acordo com o professor Guo, para cada aumento de 1 grau na temperatura média diária, há um aumento de quase 1% na doença renal, sendo os mais afetados mulheres, crianças menores de 4 anos e pessoas com mais de 80 anos. As associações entre temperatura e doenças renais foram maiores no dia da exposição a temperaturas extremas, mas permaneceram por 1 a 2 dias após a exposição.

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No artigo, os autores, entre os quais estão pesquisadores da Universidade de São Paulo, argumentam que o estudo "fornece evidências robustas de que mais políticas devem ser desenvolvidas para prevenir hospitalizações relacionadas ao calor e mitigar as mudanças climáticas".

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"No contexto do aquecimento global, mais estratégias e políticas devem ser desenvolvidas para prevenir hospitalizações relacionadas ao calor", afirmam, de acordo com o site de divulgação científica "Eurekalert".

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Por isso, o grupo ressaltou a importância da aplicação urgente de políticas governamentais a respeito do controle das mudanças climáticas.

"Além disso, deve-se dar atenção aos países de renda baixa e média como o Brasil, onde sistemas confiáveis de alerta de calor e medidas preventivas ainda são necessários", diz o professor Guo.

A pesquisa verificou que, em comparação com a década anterior, a incidência de morte por doença renal aumentou 26,6%, o que foi, em parte, consequência das mudanças climáticas. Foi estimado ainda que 92.207 e 255.486 mortes adicionais podem ser atribuídas ao aumento da temperatura em 2030 e 2050, respectivamente.

Entre as doenças renais consideradas no estudo, estão lesão renal aguda (IRA) e doença renal crônica (DRC), sendo que ambas já foram reconhecidas como um problema de saúde pública global.

O estudo explica que tais problemas são impulsionados conforme há mais transpiração e desidratação por causa do aumento da temperatura média diária. Assim, é verificado maior número de hospitalizações por doenças renais totais, túbulo-intersticiais, e insuficiência renal aguda. Um risco maior para pielonefrite também foi registrado. No entanto, os mecanismos biológicos para a associação entre temperatura e hospitalização por doenças renais ainda não são claros.

As doenças renais podem ocorrer como consequência da diminuição do líquido extracelular, o que pode estar relacionado aos efeitos da vasopressina (hormônio antidiurético), à ativação da via da aldose redutase (maior conversão de glicose a sorbitol que, se estiver em excesso, pode prejudicar o funcionamento dos rins) e aos efeitos da hiperuricemia crônica (excesso de ácido úrico, podendo causar pedras nos rins e insuficiência renal).

O artigo mostra ainda que a insuficiência renal aguda pode ocorrer devido à precipitação de mioglobina nos túbulos renais quando as pessoas são expostas a altas temperaturas, apresentando degradação do tecido muscular por esforço com infecção viral ou bacteriana pré-existente ou uso de analgésicos e anti-inflamatórios. Além disso, a perda de fluidos nos dias mais quentes reduz o fluxo urinário, o que pode enfraquecer o efeito diluidor em bactérias contaminantes e fatores de virulência, e predispor a infecções urinárias.

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