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Wednesday, October 27, 2021

Em testes no Brasil, fluvoxamina reduz hospitalização prolongada por Covid - Revista Galileu

Em estudo nos EUA, mortalidade foi maior entre pacientes tratados com hidroxicloroquina (Foto: Hal Gatewood/Unsplash)

Em testes no Brasil, fluvoxamina reduz hospitalização prolongada por Covid (Foto: Hal Gatewood/Unsplash)

Um novo ensaio clínico realizado com pacientes brasileiros demonstrou que o uso da fluvoxamina reduziu a necessidade de internação prolongada em pessoas diagnosticadas precocemente com a Covid-19. Publicado nesta quarta-feira (27) no The Lancet Global Health, esse é o estudo mais aprofundado sobre o tratamento com o fármaco, que já é utilizado no tratamento contra depressão e transtornos obsessivo-compulsivos (TOC) e de ansiedade.

De acordo com Edward Mills, professor da Universidade McMaster, no Canadá, apesar do acelerado desenvolvimento de vacinas e campanhas ter contribuído para reduzir casos, hospitalizações e óbitos, a infecção pelo Sars-CoV-2 segue oferecendo risco em países com recursos limitados. “A identificação de terapias econômicas, amplamente disponíveis e eficazes contra a Covid-19 é, portanto, muito importante, e a adaptação de medicamentos existentes que já têm padrões de segurança conhecidos é de especial interesse”, afirma o coinvestigador principal do estudo, em nota enviada à imprensa.

Batizada de Together, a pesquisa se propôs a investigar a eficácia de oito tratamentos adaptados para a Covid-19 em pacientes adultos de alto risco. Os ensaios envolvendo fluvoxamina se iniciaram em janeiro de 2021 e incluíram brasileiros não vacinados, que estavam sintomáticos, haviam testado positivo para a doença e tinham ao menos uma condição que os colocava no grupo de risco.

Os pesquisadores ministraram duas doses diárias de 100 miligramas de fluvoxamina em 741 participantes durante 10 dias, enquanto os outros 756 receberam o placebo. Depois disso, todos foram observados por mais 28 dias, e a principal expectativa era entender como o tratamento diminuía a necessidade de hospitalização ou terapia intensiva de Covid-19.

Dos que receberam o fármaco, 10,6% (ou 79 pessoas) precisaram de cuidados médicos intensivos por mais de seis horas. Já no grupo controle, o número subiu para 15,7%, ou sejam, 119 pacientes passaram o mesmo período na emergência. Segundo o estudo, com a fluvoxamina, a redução absoluta do risco de uma internação prolongada foi de 5% e a redução relativa chegou aos 32%.

Embora a mortalidade não fosse o foco primário, uma análise secundária indicou que, nos participantes que receberam ao menos 80% das doses de medicação, houve apenas uma morte no grupo da fluvoxamina em comparação a 12 óbitos no grupo placebo.

“Nossos resultados estão de acordo com ensaios anteriores e menores. Dada a segurança, tolerância, facilidade no uso, baixo custo e disponibilidade ampla da fluvoxamina, os achados podem ter uma influência importante nas diretrizes nacionais e internacionais da gestão da Covid-19”, comenta o coautor principal Gilmar Reis, que atua como pesquisador na Cardresearch e na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas).

Mas uma das limitações do estudo é que, apesar de estar amplamente disponível, o fármaco não consta na Lista de Medicamentos Essenciais da Organização Mundial da Saúde (OMS). Atualmente utilizado para tratar condições de saúde mental como depressão e TOC, ele funciona como um inibidor seletivo da recaptação de serotonina (SSRI), assim como a fluoxetina — outro antidepressivo que, por sua vez, faz parte da lista da OMS.

Agora, os pesquisadores consideram fundamental determinar se a combinação da fluvoxamina com outros medicamentos proporcionaria efeitos melhores, além de verificar se os medicamentos poderão ser utilizados, de fato, contra a Covid-19. E também ressaltam que o sucesso do tratamento para prevenir formas mais graves da doença está intimamente relacionado a um diagnóstico ainda em fases iniciais da infecção pelo coronavírus.

O fármaco foi escolhido para os ensaios devido às suas propriedades anti-inflamatórias. "A fluvoxamina pode reduzir a produção de moléculas inflamatórias chamadas citocinas, que podem ser desencadeadas pela infecção pelo Sars-CoV-2", esclarece a coautora e professora da Universidade de Washington em St. Louis, nos Estados Unidos, Angela Reiersen.

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