Quando as medidas de distanciamento social começaram a ficar mais rígidas, em março de 2020, a designer gráfica Mayra Brito, 25, já trabalhava em esquema de home office, pois era freelancer. Mas, em busca de mais estabilidade financeira, ela aceitou a proposta de uma empresa e retornou ao esquema presencial em abril deste ano, o que teve impacto em sua saúde mental.
"Fiquei muito insegura e tensa, com medo de pegar covid-19, porque ainda não havia sido vacinada e moro com meus pais e minha irmã. Para piorar, a empresa fica bem longe da minha casa. Levava até duas horas para chegar lá, usando transporte público sempre cheio", conta a paulistana, que optou por outro emprego (também presencial) três meses depois e pretende voltar a trabalhar de casa assim que possível.
Atualmente, sentimentos como os vividos por Mayra na volta ao escritório afetam muitos brasileiros. Nesse momento da pandemia em que boa parte das empresas já retomou ou planeja retomar em breve as atividades presenciais, não é raro que a mudança na rotina gere ansiedade, estresse, dificuldade para dormir e insegurança nos funcionários, principalmente naqueles que ainda encaram —com razão— o coronavírus como ameaça. "Para o medo não me dominar, o que faço é pensar positivo e seguir à risca todas as recomendações de segurança", diz a designer.
Elaine Di Sarno, psicóloga e pesquisadora do HCFMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), concorda que tomar todos os cuidados necessários e tentar ver alguma coisa positiva na situação são boas formas de se tranquilizar. "Pense que com a volta ao escritório será mais fácil limitar o expediente, algo que se perdeu um pouco no período de home office, e será uma oportunidade de sair e reencontrar colegas que há muito tempo não vemos pessoalmente", exemplifica a especialista.
Dá para controlar a ansiedade no trabalho?
Sim. E, nesse sentido, vale apostar em todas as estratégias de regulação emocional que funcionam para você: ouvir músicas relaxantes, fazer exercícios de respiração, meditar ou dar uma pausa e caminhar. "Se perceber que não está funcionando, procure ajuda profissional", aconselha Simone Lopes de Melo, psicóloga e professora da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), ressaltando que, em casos mais sérios, essa angústia constante pode dar origem ou potencializar problemas como crises de ansiedade generalizada, pânico e TOC (transtorno obsessivo compulsivo).
Falar com o gestor também é um caminho, até para que ele ou ela esteja ciente e possa ajudar da forma como for possível. "Nem sempre a chefia tem autonomia para permitir que a pessoa volte para o esquema de home office. Porém, o simples ato de conversar, sentir que temos esse canal aberto e que há uma preocupação com nosso bem-estar faz a gente se sentir melhor", avalia Adriana Gomes, psicóloga, coach de carreira e professora da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing), em São Paulo. "Na hora de expor a necessidade ou a vontade de continuar trabalhando de casa, reforce que o home office não prejudicou seu desempenho e, se for o caso, demonstre flexibilidade sugerindo um esquema híbrido e medidas que deixariam você mais confortável no esquema presencial", afirma Gomes.
Estamos prontos para voltar?
Essa é a pergunta que muitos estão fazendo. Mas, por enquanto, não existe um consenso, principalmente porque cada cidade tem seus índices de contaminação e cada empresa oferece uma infraestrutura para os funcionários. "Mas, de modo geral, podemos dizer que é muito mais seguro voltar ao trabalho presencial hoje do que há seis meses, por exemplo", declara Estêvão Urbano, infectologista e diretor da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia).
Mesmo assim, é essencial continuar tomando todas as medidas de prevenção: mantenha a distância de 1,5 m entre pessoas, abra as janelas para deixar o local bem arejado, higienize as mãos e as superfícies com álcool em gel ou água e sabão e utilize máscaras, dando preferência às cirúrgicas, ao tipo PFF2/N95 ou as de algodão com duas camadas, sempre garantindo que não haja fissuras no material.
Como a volta ao trabalho presencial na pandemia afeta a saúde mental? - VivaBem
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