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Tuesday, August 24, 2021

Por que a mortalidade de crianças por covid-19 é maior no Brasil? Estudo aponta desigualdades e lacunas no acesso à saúde - Crescer

Embora a covid-19 seja notadamente menos agressiva em crianças do que em adultos, no Brasil a taxa de mortalidade infantil por conta da doença está bem acima do que é registrado em outras partes do mundo. No Reino Unido, por exemplo, estudos com crianças hospitalizadas apontam para mortalidade de 1% (sendo todas com comorbidades). No Brasil, o número chega a 7,6%. Mas por que isso acontece?

Dos pacientes com a síndrome, 52% eram negros (Foto: Pexels)

Desigualdade pode ter afetado índice de mortalidade de crianças brasileiras por covid-19 (Foto: Pexels)

De acordo com um estudo desenvolvido por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais e publicado recentemente pela revista científica The Lancet, fatores sociais, como a raça e a região, podem ser determinantes para a evolução dos quadros da doença. Além disso, a desigualdade e lacunas no acesso a cuidados de saúde de qualidade também podem ser determinantes para o desfecho negativo.

“Nosso estudo traçou o perfil das crianças brasileiras hospitalizadas com COVID-19 em 2020. Foram analisados dados de mais de 80 mil crianças internadas em hospitais brasileiros com suspeita de covid-19. Destas, 11.613 tiveram comprovação laboratorial da infecção pelo SARS-CoV-2 e foram incluídas na análise. Esta é o maior recorte pediátrico de covid-19 já publicada até este momento em todo o mundo", detalha à CRESCER o professor Eduardo Oliveira, pesquisador do Departamento de Pediatria, do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Faculdade de Medicina da UFMG.

Segundo os pesquisadores, entre a faixa etária de até 20 anos, quem corre maior risco de morte são as crianças menores de 2 anos e os adolescentes. A presença de comorbidades também foi fortemente associada ao risco de morte desses pacientes. Além disso, a análise demonstrou que fatores socias (como ser internado nas regiões Nordeste e Norte, de maior  vulnerabilidade social e menor acesso à saúde) e a etnia indígena foram independentemente associadas com o pior prognóstico.

"Os resultados de nosso estudo ressaltam que desigualdades sociais e nos cuidados de saúde podem contribuir para aumentar o impacto negativo da covid-19 em crianças e adolescentes mais vulneráveis e socioeconomicamente desfavorecidos no Brasil. Este fato também tem sido reportado em estudos nacionais e internacionais de pacientes adultos. Fatores sociais e biológicos parecem estar intrisicamente interligados e podem agir sinergicamente para aumentar o impacto da doença para esta população mais vulnerável. Além disso, a situação da pandemia exacerbou a deficiência crônica de financiamento do SUS. No caso das crianças, a escassez de UTIs pediátricas ficou evidenciada, pois nosso estudo mostra que uma percentagem importante das crianças que necessitaram de ventilação invasiva não foi admitida nestas unidades", destaca o pesquisador.

Enquanto aqui no Brasil 7,6% do total de 11.613 jovens hospitalizados com covid-19 vieram a óbito (886 pessoas), no Reino Unido esse número foi de apenas 1% (somente 6 crianças do total de 632 hospitalizadas no país, todas com comorbidades declaradas). Isso faz com que o número de crianças que morreram no Brasil pela doença seja cerca de 7 vezes maior do que no Reino Unido. Dos 886 jovens que morreram vítimas da covid-19 no Brasil, 261 (ou 31%) nem chegaram a dar entrada na UTI. 

Os impactos da segunda onda

Depois de apresentados os números referentes ao ano de 2020, um novo estudo em andamento analisa agora dados coletados entre janeiro e maio deste ano. No período, o Brasil enfrentava a segunda onda da covid-19, provavelmente relacionada à variante gama (identificada em Manaus, em janeiro). “Um aspecto que nos chamou a atenção foi que a média de casos e mortes por semana dobrou nesse período, quando comparados com os dados da primeira onda”, contou o professor Oliveira.

Neste estudo, ainda em fase preliminar, a taxa de mortalidade permaneceu alta, com proporção parecida à do primeiro estudo (7,7%), mas foi observado um quadro mais severo da doença em crianças e adolescentes, com maiores prevalências de hipoxemia (baixa concentração de oxigênio), internação em UTIs e necessidade de ventilação invasiva, ainda segundo o pesquisador.

“Com os programas de vacinação em andamento, nosso estudo ressalta que as necessidades específicas dos mais suscetíveis pacientes pediátricos devem ser consideradas prioritárias no contexto de futuras direções para medidas preventivas e estratégias terapêuticas para esses grupos”, declarou.

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