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Wednesday, July 14, 2021

Doença da 'urina preta': Polícia investiga crime em intoxicação de jovem - VivaBem

A delegacia de Polícia Civil em Goianésia instaurou hoje o inquérito policial para investigar se houve crime contra o consumidor no caso da jovem que foi acometida pela síndrome de Haff, conhecida como doença da urina preta, após comer peixe em um restaurante japonês localizado no município.

A jovem Kelly Silva, de 27 anos, está internada em estado grave na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do hospital Jardim América, em Goiânia. Ela passou mal após comer sashimi de tilápia e salmão.

A delegada Ana Carolina Pedrotti, da delegacia de Goianésia, informou que tomou conhecimento do caso por meio da imprensa e que até a manhã de hoje nenhum familiar da jovem havia registrado Boletim de Ocorrência sobre o caso. Apesar disso, a polícia decidiu investigar o restaurante e um possível crime contra o consumidor.

A Polícia Civil de Goiás não detalhou quando serão intimados os envolvidos no caso, como o proprietário e os funcionários do restaurante, além de familiares da vítima.

O UOL tenta localizar os responsáveis pelo restaurante, mas a polícia não divulgou oficialmente o nome do estabelecimento.

Jovem jantou sashimi

Kelly Silva jantou sashimi de tilápia e de salmão no dia 23 de junho, acompanhada de uma prima.

A família contou que ela passou mal pouco tempo depois de chegar em casa, apresentando sintomas gastrointestinais, como vômito, enquanto a familiar não teve problemas.

No dia 24, o estado de saúde de Kelly piorou após ela apresentar endurecimento dos músculos e sentir fortes dores no corpo. A jovem foi socorrida no hospital municipal irmã Fanny Duran, mas devido à gravidade do caso, ela foi transferida para o hospital Jardim América, em Goiânia, no dia 26 de junho, onde permanece internada.

A síndrome de Haff foi atestada por meio de exames no hospital. Os pais da jovem, Maria da Conceição e Nivaldo Carlos da Silva, contaram em entrevista à TV Anhanguera que a filha está sendo submetida a sessões de hemodiálise depois que os rins apresentaram uma sobrecarga e pararam de funcionar corretamente. A jovem não tem previsão de alta médica.

Eles contaram que a filha é apaixonada por comida japonesa e já frequentou outras vezes o restaurante que serviu o sashimi, contaminado pela toxina que causa da síndrome de Haff.

A Secretara Municipal de Saúde de Goianésia informou que ao dar entrada no hospital a jovem apresentou perda de força muscular, dor no corpo, cianose de extremidades e urina com a coloração escura.

A SMS disse ainda que, até agora, apenas o caso de Kelly foi oficialmente notificado, mas que caso surjam novas ocorrências da "síndrome da urina preta", estes serão divulgados de forma oficial pela prefeitura.

"A Vigilância em Saúde e a Vigilância Sanitária estão acompanhando o surgimento de possíveis novos casos. Para tanto, foi emitido um comunicado oficial de alerta epidemiológico para as instituições hospitalares a respeito de sinais ou sintomas relacionados à doença", disse em nota o secretário municipal de Saúde, Rafael Cardoso.

Depois da confirmação da síndrome de Haff na jovem, a SMS emitiu um alerta para as unidades de saúde destacando que a doença é desenvolvida por meio de ingestão de carne de peixe cru ou cozido contaminado por uma toxina. Segundo a secretaria, a doença é caracterizada pela destruição das proteínas musculares, provocando sintomas como a perda da força física, dor muscular, desmaios, rabdomiólise, febre e urina escura.

"Uma vez que possui uma sintomatologia atípica, solicito que todos os casos, cujas queixas estejam relacionadas à ingestão de peixe, sejam prontamente comunicados à Vigilância Epidemiológica do município para investigação", destacou o alerta.

A SMS também orienta que, em caso de dúvidas sobre a síndrome de Haff, bem como presença de sintomas, a população entre em contato com a Vigilância em Saúde por meio do número (62) 98325-7918, ou procure uma unidade hospitalar.

Doença da urina preta

A síndrome de Haff é uma doença considerada rara e causada por uma toxina biológica presente em peixes, que não é eliminada mesmo com o cozimento do alimento.

Segundo o médico infectologista e professor do curso de medicina da Ufal (Universidade Federal de Alagoas), Fernando Maia, a toxina ataca a musculatura e a urina fica escura devido à liberação de proteína dos músculos no sangue.

A síndrome, segundo o médico, pode comprometer outros órgãos além dos rins - que não conseguem combater as toxinas - como o fígado.

O biólogo Cláudio Sampaio, coordenador do Laboratório de Ictiologia e Conservação no campus Penedo da Ufal, afirma que a doença de Haff ainda é pouco conhecida e necessita de divulgação de novos casos e estudos. Segundo ele, a toxina envolvida ainda não é amplamente estudada.

"São conhecidos casos da doença de Haff depois do consumo de peixes (tambaquis, pirapitingas e pacus, todos da região amazônica) e crustáceos (lagostins da América do Norte) de água doce, além de casos de peixes marinhos (arabaiana, badejo e salmão, esse último da América do Norte)", destaca o professor do curso de engenharia de pesca da Ufal.

Sampaio ressalta também que a doença "deve ter um aumento em números de casos devido ao crescimento populacional, que leva ao aumento do consumo de pescado."

"O importante é que o consumidor busque informações sobre o pescado consumido. Como sua origem, seu estado de frescor, observando seu aspecto geral, se os olhos do peixe estão brilhantes, se as escamas estão firmes, e fique atento a higiene do local", orienta.

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