Adolescente que morreu após ter intestino perfurado escreveu carta projetando o futuro
A estudante Milleny Lopes Costa, de 17 anos, que morreu após ter o intestino perfurado durante uma cirurgia em um hospital de Goiânia escreveu uma carta aos 15 anos na qual ela projetou em palavras o futuro e colocou no papel o sonho de se formar em medicina. A Polícia Civil indiciou por homicídio culposo o médico Wilson Moisés Oliveira Martins pela morte da adolescente.
O G1 entrou em contato com a defesa do médico, por mensagem de texto, às 8h56 desta quarta-feira (14), mas não obteve retorno. À TV Anhanguera, o advogado Thiago Oliveira informou que não irá se pronunciar sobre o caso.
A adolescente morreu no dia 6 de setembro de 2020, após sofrer uma infecção generalizada. As investigações apontaram que houve negligência por parte do cirurgião que realizou o procedimento em Milleny, o que levou o indiciamento dele no último dia 15 de junho.
Na carta escrita por ela e divulgada pela família na terça-feira (13), a garota projetava a vida quando estivesse mais velha.
“Olá, Milleny do futuro. No momento, ainda estou querendo medicina. Que agora, com 18 anos, eu continue com muito juízo e seja muito feliz fazendo o que eu gosto. Que seja o melhor ano da minha vida”, escreveu a adolescente.
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A mãe da adolescente, Ruth Lopes Vieira, de 50 anos, conta que a filha era apaixonada pela vida. Segundo ela, a menina sempre escrevia como forma de materializar os sonhos que gostaria de realizar ao longo dos anos.
“Ela escreveu outra carta para abrir no casamento. Então, ela estava programada para viver uma vida, que foi interrompida. O que queremos é justiça. Isso vai nos dar um consolo, vai nos dar mais paz”, afirmou a mãe.
Milleny Lopes Costa, de 17 anos, que teve o intestino perfurado durante uma cirurgia no hospital Goiânia Leste. — Foto: Reprodução/TV Anhanguera
De acordo com laudo do Instituto Médico Legal (IML), a menina morreu após passar por um procedimento chamado de Colangiopancreatografia Retrógrada Endoscópica (CPRE), o que, segundo a perícia, ocasionou a perfuração no intestino da adolescente.
A perícia apontou que esse procedimento apresenta, de fato, risco de perfuração do órgão, mas que o diagnóstico precoce e tratamento poderiam diminuir os riscos. O laudo concluiu ainda que houve falta de assistência médica após o procedimento.
O inquérito foi finalizado pela delegada Marcela Orçai em junho deste ano e enviado à Justiça. O Ministério Público de Goiás (MP-GO) informou que a 64ª Promotoria de Justiça de Goiânia está analisando o caso para definir quais medidas serão adotadas.
Em nota, o Conselho Regional de Medicina de Goiás (Cremego) informou que apura o caso, mas que não pode dar mais detalhes sobre o andamento do processo, pois corre em segredo de Justiça.
Internações e cirurgias
Milleny Lopes Costa durante internação em hospital de Goiânia — Foto: Arquivo pessoal/Ruth Lopes
Ruth contou que a filha passou por uma cirurgia de vesícula no dia 20 de agosto de 2020, por um médico conhecido da família, no Hospital Goiânia Leste. Ela recebeu alta no dia seguinte.
No entanto, 13 dias depois a menina voltou a sentir dores abdominais e retornou ao mesmo hospital, onde foi internada no dia 4 de setembro e passou por um novo procedimento cirúrgico, realizado por Wilson, pois o médico da família não poderia atendê-la devido a um compromisso pessoal.
“A gente estava até planejando viajar no dia seguinte, quando ela passou mal. Ela estava gritando de dor. Foi quase desmaiando para o hospital”, disse a mãe.
Consta no inquérito policial que o médico não conversou com a família para explicar qual o procedimento seria realizado e que apenas a secretária dele comunicou à mãe os valores da intervenção cirúrgica. Segundo o documento, neste dia foi realizada a CPRE que, segundo perícia, ocasionou a perfuração no intestino da adolescente.
“A cirurgia foi 11h e o médico só apareceu às 20h. Ela suava de tanta dor. Quando ele [médico] chegou, à noite, ele falou que nós estávamos descontroladas, que estava tudo bem com ela. A gente sabia que não estava”, contou a mãe.
No dia seguinte, ao chegar para visitá-la, Ruthy relatou que o médico estava realizando outro procedimento no próprio quarto e sem a sua anuência. Segundo a mãe, mais uma vez, ele não a informou do que se tratava.
“O médico estava dentro do quarto como se fosse um centro cirúrgico, com todos os equipamentos e bandeja com instrumentos. Ele estava cortando a Milleny na altura do pescoço e não me informou nada. Quando terminou, ele não me explicou”, disse.
À TV Anhanguera, o Hospital Goiânia Leste, por meio de sua assessoria jurídica, informou que a unidade irá se manifestar no momento certo.
Após o procedimento no quarto, Ruthy disse que entrou em contato por mensagem com uma médica conhecida avisando do ocorrido e que estava com medo de a filha morrer no local.
Milleny foi transferida em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) móvel em estado grave, no dia 5 de setembro, para o Hospital do Coração, também em Goiânia. Após novos exames, foi comunicado à família que a estudante precisaria passar por uma nova cirurgia.
Segundo a mãe, foi neste procedimento que a equipe médica constatou que o intestino da adolescente estava furado há dois dias e que o líquido estava se espalhando pelo corpo, o que causou uma infecção generalizada. Ela morreu no dia seguinte.
“Nós ficamos em oração. No outro dia, o pessoal do hospital ligou. Eu já sentia [que ela tinha morrido], não é fácil”, lamentou a mãe.
Os advogados da mãe da adolescente, Taysa de França e Melo Procópio e Tayrone de Melo, informaram que o principal objetivo do processo é a punição do médico que causou a morte da adolescente: “Esse profissional não pode sair impune”. A defesa afirmou ainda que vai ingressar com um pedido de suspensão do CRM do cirurgião.
Milleny Lopes Costa, de 17 anos. — Foto: Reprodução/TV Anhanguera
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