Quando o estadunidense Luis González decidiu empreender no Brasil, há mais de 20 anos, o mercado era bem diferente do que é hoje. "Na época nem existia a nomenclatura 'tech' para as startups – eram as chamadas 'empresas ponto com'. E praticamente não existia venture capital no país para investir em empresas nascentes com ideias disruptivas", relembra. Na época, González fundou a Vidalink com a proposta de oferecer subsídio em medicamentos a usuários de planos de saúde. Nos últimos anos, o negócio apostou em um reposicionamento, passando a oferecer outros produtos voltados à saúde e ao bem-estar. Com isso, chegou ao faturamento de R$ 75 milhões no ano passado.
A ideia para a Vidalink surgiu quando González identificou uma demanda no mercado brasileiro. “Durante o estágio do meu MBA no Brasil, em 1997, fui em uma farmácia para comprar antibiótico e perguntei se o plano do escritório bancava o remédio. A reação de estranheza dos colegas foi o suficiente para perceber uma grande diferença da época: enquanto nos Estados Unidos o plano de saúde chegava a subsidiar 80% dos medicamentos prescritos, a prática não era difundida no Brasil por não ser exigida por lei", relembra.
Investimentos em startups:
A partir da experiência, o empreendedor percebeu que poderia replicar a proposta no mercado brasileiro. Segundo ele, a ideia era ajudar as pessoas a terem acesso a medicamentos prescritos, já que eles correspondem ao maior custo que as famílias brasileiras têm com saúde, representando 46% do total gasto. "Não adianta oferecer um plano de saúde se as pessoas não conseguem ter acesso aos remédios que o médico indicou", afirma.
Para criar o negócio, González estudou os dados do setor e compreendeu que os gastos com planos de saúde eram ainda maiores devido à falta de tratamento medicamentoso adequado, levando a novas internações e consultas. Porém, convencer as operadoras de apostar na ideia não foi simples. "Caímos no entrave da falta de obrigatoriedade pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) em oferecer subsídio de medicamentos aos beneficiários. Mesmo assim, fomos pioneiros ao convencer alguns planos de saúde a oferecer descontos em medicamentos com a divulgação feita pela Vidalink. Éramos um time de cerca de 20 pessoas que visitava as farmácias para treinar os colaboradores a oferecer o desconto para os consumidores”, conta o CEO.
De olho na expansão dos negócios, a Vidalink entendeu que poderia atuar no mundo corporativo. "Mais de 80% dos planos de saúde são coletivos nas modalidades empresarial ou por adesão. Então pensamos: quem é impactado financeiramente com os aumentos de sinistralidade devido à falta da adesão aos tratamentos medicamentosos? As empresas. Isso foi uma virada de chave para construir um negócio com enfoque no mundo corporativo", diz.
O modelo de negócio deu certo e, com o passar dos anos, a empresa se consolidou no mercado. Hoje, atende mais de 250 clientes, incluindo empresas como Apple, iFood, Johnson & Johnson, Nestlé, PepsiCo, Salesforce, Tim, Vivo e Warner Bros. Ao todo, são cerca de 4 milhões de usuários. Além de González, a Vidalink tem como sócios o Grupo Martins e a CVS Health, a maior empresa de saúde dos EUA. "Atualmente somos a única empresa investida pela CVS Health fora dos Estados Unidos", revela o CEO.
Em 2018, a Vidalink intermediou mais de R$ 1 bilhão em vendas de remédios. O empresário, porém, ainda enxergava novas oportunidades. "Começamos a buscar caminhos de como poderíamos ir além da nossa oferta do plano de medicamentos corporativo e começamos a discutir internamente com as equipes quais seriam as possibilidades de expansão", conta. "Foi um processo muito natural, pois sempre trabalhamos para apoiar empresas a cuidarem de suas pessoas", resume.
Assim nasceu a ideia de um plano corporativo de bem-estar completo, que combina humanização e tecnologia: um mesmo aplicativo reúne cuidados com a mente, o físico e a evolução pessoal e profissional dos funcionários atendidos. "Ter uma perspectiva mais abrangente garante uma abordagem mais positiva do RH diante dos colaboradores, em vez de falar somente em doenças", afirma o executivo.
Na prática, o usuário final tem acesso ao aplicativo da Vidalink, onde encontra os pilares Med, Fit, Nutri, Mind e Up. Ali, por meio da tecnologia oferecida, a pessoa pode desenvolver um plano alimentar, acessar conteúdos para melhorar a saúde mental e aderir a um plano de acesso a academias ou teleterapia, por exemplo. "Tudo isso é feito com o auxílio da nossa assistente virtual, a Vida", afirma o CEO. O antigo auxílio medicamento continua disponível e banca a maior parte do custo dos usuários e seus familiares com remédios.
O reposicionamento teve início em 2019 e demandou uma série de mudanças na empresa. "Expandimos algumas de nossas equipes para desenvolver a nossa nova oferta de valor e apresentá-la ao mercado", diz González, que aumentou os times de Produtos, Marketing, Comercial e Customer Success e agora conta um total de 210 funcionários. "Também percebemos que embora sejamos uma empresa B2B, onde nosso cliente principal é a área de RH, precisávamos pensar como uma B2C, já que no final do dia o usuário, ou seja, o colaborador da empresa, é quem vai utilizar o benefício. Desde então, passamos a priorizar investimentos em tecnologia e experiência do usuário (UX), criamos um app totalmente novo focado na experiência e usabilidade e reinventamos nossas estratégias de branding e marketing", resume.
Em 2022, a empresa teve faturamento bruto de R$ 75 milhões. "Nossa estratégia é investir a margem de lucro em inovação e melhoria contínua, em tempo real. Se olharmos o nosso resultado acumulado dos últimos 10 anos, tivemos uma margem de EBITDA positiva", finaliza.
Ele criou uma empresa para 'bancar' os remédios de quem tem plano de saúde – e hoje fatura R$ 75 milhões - Pequenas Empresas & Grandes Negócios
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