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Wednesday, May 31, 2023

Falsa médica com 86 mil seguidores é presa após vítima descobrir armação - UOL Confere

Uma falsa médica foi presa em flagrante ontem (30) no bairro de Perdizes, na zona oeste de São Paulo, durante uma consulta. Ela utilizava o CRM de uma profissional com o mesmo nome e foi presa após a verdadeira médica marcar uma consulta. A Justiça concedeu liberdade provisória a ela.

O que aconteceu:

Marcela Gouveia, de 38 anos, se apresentava como esteticista e utilizava o CRM de uma médica com o mesmo nome, de 40 anos, para solicitar exames e receitar medicações aos pacientes. Em suas redes sociais, em palestras e participações em eventos, ela também apresentava um CRF, identificação do Conselho Regional de Farmácia;

A verdadeira médica recebeu uma denúncia pela internet de que outra pessoa se passava por ela para realizar consultas. Uma paciente procurou por uma consulta com a falsa médica e, após fazer uma pesquisa, descobriu que Marcela estava utilizando dados de outra profissional;

Segundo a polícia, ela produziu um carimbo com o próprio nome e número de registro de uma otorrinolaringologista.

Diante da situação, a profissional agendou uma consulta com a falsa médica e acionou a Polícia Civil, que a acompanhou durante a consulta;

Quando Marcela iria utilizar o carimbo com o CRM da verdadeira médica, os policiais realizaram a prisão em flagrante por exercício ilegal da medicina e falsidade ideológica.

A falsa médica foi conduzida para a 3ª Delegacia Seccional da zona Oeste e confessou o crime. O UOL tentou contato com a clínica por e-mail e WhatsApp, mas não obteve retorno.

Hoje, a Justiça de São Paulo concedeu liberdade provisória à falsa médica;

Marcela afirmou que usava o CRM da verdadeira profissional, pois estava na metade do curso de Medicina e, por isso não via problemas em utilizar o registro profissional da médica;

A suspeita também atuava como influenciadora de estética nas redes sociais, tendo mais de 86 mil seguidores. Apesar da atuação nas redes sociais, o perfil da falsa médica foi fechado após a prisão;

Em suas redes sociais, a falsa médica declarava ser palestrante da Merz, uma das maiores empresas de produtos de estética e muito conceituada no mercado. Entre os produtos mais conhecidos, estão a toxina botulínica mais famosa do mercado, produtos para preenchimentos, bioestimulador, entre outros.

A Merz esclareceu que sua relação com Marcela Gouveia "limitava-se às suas habilitações profissionais de acordo com seu registro profissional válido de farmacêutica (CRF), vinculado e regulamentado pelo Conselho Federal de Farmácia". A empresa também afirmou que "repudia veementemente" a prática ilegal de medicina, e que rescindiu o contrato com a profissional.

O UOL solicitou informações da ocorrência para a SSP (Secretaria de Segurança Pública), mas não houve retorno até a publicação. A defesa da falsa médica também não foi localizada. O espaço está aberto em caso de manifestação.

Questionado pelo UOL, o CREMESP (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo) não informou sobre a especialidade da médica que teve o CRM usado, e disse apenas que "o exercício ilegal da medicina é um caso de polícia".

O Conselho também ressaltou que possui um Guia Médico em seu site, no qual pacientes podem checar se o profissional que faz o atendimento é médico e se possui o registro regular no conselho. Para acessar, clique aqui.

O CRF informou que Marcela é farmacêutica com registro ativo e atende os requisitos legais para atuar em Saúde Estética. Além disso, o Conselho alegou que não teve acesso ao inquérito policial, mas que quando possível "a conduta da profissional será apurada".

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Falsa médica com 86 mil seguidores é presa após vítima descobrir armação - UOL Confere
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'Como lidei com sintomas de demência do meu pai' - G1

Pesquisas apontam novas formas de assistência às pessoas com demência — Foto: GETTY IMAGES

Pesquisas apontam novas formas de assistência às pessoas com demência — Foto: GETTY IMAGES

A demência é uma destruidora de mundos.

Ela apaga, altera e rouba as lembranças. Ela causa falta de concentração, confusão e mudanças de humor.

Faz com que rostos familiares e ações do dia a dia que antes eram simples se tornem quebra-cabeças incompreensíveis.

As pessoas que presenciam o declínio mental de um ente querido também são afetadas.

Um estudo chamou os cuidadores informais ou familiares de "segundos pacientes invisíveis".

Suas experiências variaram de isolamento social, estresse e maiores riscos à saúde até problemas financeiros.

E, se o ente querido for seu pai ou sua mãe, a demência também refaz e reverte uma das conexões mais importantes das nossas vidas.

Minha nova relação entre pai e filha começou no dia de Natal de 2019.

Uma árvore de Natal artificial superlotada de enfeites ficava no canto da sala.

Meu marido usava um casaco berrante. Nosso filho, em idade escolar, jogava cartas e disfarçava um bocejo.

O avô dele – meu pai – servia-se do tradicional peru da ceia. Até ali, tudo muito natalino.

A única diferença, desta vez, era o local: o Hospital Lister em Stevenage, uma cidade ao norte de Londres.

Meu velho pai tinha então 87 anos de idade. Ele havia sido internado 24 horas antes, doente, confuso e vomitando o que pareciam ser grãos de café pretos.

Como ele brincou mais tarde com as enfermeiras, o mal-estar não foi causado pela minha comida. Na verdade, os exames revelaram uma causa que nos assombrou a todos: overdose de analgésicos.

O sintoma mais frequente da demência é a perda da memória, que ocorre quando as células cerebrais param de trabalhar e de se comunicar corretamente — Foto: GETTY IMAGES

O sintoma mais frequente da demência é a perda da memória, que ocorre quando as células cerebrais param de trabalhar e de se comunicar corretamente — Foto: GETTY IMAGES

Fiquei ainda mais surpresa com a pergunta feita pelo médico: "Há quanto tempo o seu pai sofre de demência?"

"Até onde sei", respondi, "ele não tem demência".

Cerca de 57 milhões de pessoas em todo o mundo sofrem de demência. Uma equipe internacional de pesquisadores prevê que este número triplique para 153 milhões de casos até 2050, devido ao envelhecimento cada vez maior da população mundial.

A demência também atinge mais mulheres do que homens, de forma desproporcional. E não é uma doença, como normalmente se acredita.

"A demência é um termo guarda-chuva para uma série de condições progressivas que afetam o cérebro", segundo Caroline Scates, vice-diretora de desenvolvimento de enfermeiras especializadas da organização Dementia UK.

Essas mudanças no cérebro são causadas por diversas doenças.

"Existem mais de 200 tipos diferentes de demência", afirma Scates. "As mais comuns são mal de Alzheimer, demência vascular, demência com corpos de Lewy, demência frontotemporal e demência mista – e todas elas podem estar presentes de formas variadas."

A demência com corpos de Lewy, por exemplo, é causada por depósitos de proteínas no interior das células do cérebro, os chamados corpos de Lewy. Seus sintomas incluem alucinações, sonolência e desmaios.

Mas o primeiro sintoma de demência normalmente observado pelas pessoas e pelos seus entes queridos é a perda de memória. Ela é causada pelos danos cerebrais.

Quando as células do cérebro param de funcionar adequadamente, elas afetam os nossos pensamentos, a memória e a capacidade de comunicação.

"Quando alguém sofre de demência, os médicos não têm nada a fazer para evitar a progressão da doença", explica Rosa Sancho, chefe de pesquisa da organização Alzheimer’s Research UK.

"As pessoas podem tomar remédios, mas eles só irão aliviar os sintomas temporariamente."

Como as doenças que causam a demência são atualmente incuráveis, as únicas soluções no momento são gerenciar os sintomas, fornecer um ambiente que suporte e estimule as funções cerebrais remanescentes e tomar medidas para reduzir o risco de desenvolver a demência antes que ela apareça.

"A demência não é diagnosticada apenas para uma pessoa", segundo Scates. "O diagnóstico é fornecido para o cônjuge, parceiro, filho, família estendida e amigos, de forma que o impacto atinge toda a família. Cada diagnóstico que é feito muda a vida de diversas pessoas."

A demência é subdiagnosticada em todo o mundo – o medo que acompanha essa condição faz com que muitas pessoas evitem procurar assistência médica — Foto: GETTY IMAGES

A demência é subdiagnosticada em todo o mundo – o medo que acompanha essa condição faz com que muitas pessoas evitem procurar assistência médica — Foto: GETTY IMAGES

'Momentos de velhice'?

Para quem cuida de pessoas com demência, a perda de memória pode transformar a vida diária em uma série infindável de mistérios esperando solução.

No caso do meu pai, havia o mistério do motivo que o levou a ingerir uma overdose de analgésicos. Até que eu lembrei que, alguns dias antes, ele estava mancando quando fui buscá-lo na estação do trem.

O que aconteceu é que ele havia quebrado o pé quando escorregou do meio-fio várias semanas antes.

"Eles não engessaram?", perguntei. "Sim, mas estava me dando nos nervos", respondeu ele. "Estou bem."

O médico do hospital imaginou que meu pai pudesse ter tomado algum remédio para a dor, mas que acabou tomando demais por acidente, por não se lembrar de já ter tomado a medicação.

E a pasta do meu pai confirmou a teoria. Encontrei dentro dela mais de 10 embalagens de analgésicos – a maioria, vazias.

É fácil deixar passar sinais de demência como sendo "momentos de velhice".

Meu pai havia sempre sido esquecido e distraído – características que eu mesma herdei – de forma que eu relevava mentalmente seus lapsos de memória, convencida de que perder sempre o celular era normal para alguém na casa dos 80 anos.

E, em outras áreas, ele estava indo muito bem para sua idade. Ele lia o jornal The Times todos os dias e assistia com frequência ao noticiário da televisão.

Ele adorava discutir política, viajava para todos os lugares de ônibus ou trem, andava quase 10 km todos os dias e ia ao estádio assistir a todos os jogos, sempre que o seu time de futebol jogava em casa, o Everton – embora eu tenha minhas dúvidas sobre os benefícios desta atividade para sua saúde mental.

É verdade que a família vinha ouvindo cada vez mais as mesmas histórias se repetirem.

Houve uma vez em que ele saiu para as lojas da região e se perdeu, voltando para casa três horas depois. Mas não aconteceu nada e ele simplesmente riu da situação.

Para muitos adultos que lidam com um pai ou parceiro esquecido, a aceitação pode parecer algo sensível e respeitoso. Mas ignorar os primeiros sinais tornou-se um grande problema de saúde em todo o mundo. A demência é subdiagnosticada.

"Uma pesquisa de 2017 concluiu que, globalmente, o índice de demência não diagnosticada é de 62%", afirma a professora Elizabeth Ford, do Departamento de Cuidados Primários e Saúde Pública da Escola de Medicina de Brighton e Sussex.

"Ou seja, apenas 38% dos casos em todo o mundo estão sendo diagnosticados."

Ford atribui a inexistência de cura ou tratamento que altere a condição como uma das principais razões que levam as pessoas a não buscar um parecer médico, além do fato de ser um diagnóstico "sombrio e altamente estigmatizado".

"Metade dos adultos britânicos afirma que esta é a condição que eles mais receiam", segundo ela, "e os médicos tendem a esperar o máximo possível antes de encaminhar [os pacientes] para o diagnóstico. Eles pisam com cuidado para ter certeza que o paciente está pronto para a longa bateria de testes e para ouvir o resultado, pois nem todo paciente quer ouvir se tem demência."

Observar as mudanças

E os índices de diagnóstico são ainda mais baixos nos países mais pobres. A desigualdade de acesso à assistência médica é uma das grandes responsáveis.

Mas, mesmo em locais onde a demência pode ser diagnosticada com mais facilidade, as pessoas podem enfrentar negação ou achar que não há sentido no processo.

Existem cônjuges, amigos ou parentes de adultos com demência que criam a chamada "bolha da normalização".

Eles tentam justificar o comportamento cada vez mais irregular do seu ente querido, levados pelo medo de confrontar a realidade, que pode causar dor ou abalar a pessoa, sem falar na infelicidade com a inevitável perda da independência.

Mas as evidências indicam que o diagnóstico precoce pode acabar sendo reconfortante e encorajador para os adultos com demência e suas famílias. E podem melhorar a qualidade de vida, permitindo que eles planejem a assistência e encontrem apoio para sua saúde mental e emocional.

Por isso, as estratégias nacionais de assistência à demência no Reino Unido tratam o diagnóstico precoce como prioridade.

No caso da minha família, os sinais de alerta deveriam ter começado a soar quando meu pai insistiu, erroneamente, que um parente havia retirado todo o dinheiro da sua conta bancária.

Não importava quantas vezes eu mostrasse para ele os extratos ou o acompanhasse pessoalmente ao banco para que ele tivesse certeza. A raiva e a agitação sempre voltavam – às vezes, antes mesmo de voltarmos para casa.

"Desculpe perturbar você, Sue, mas acho que alguém está roubando meu dinheiro."

Depois veio o ferro de passar que ficou ligado e queimou uma parte da tábua de passar. E o gás que ele não fechou completamente. Graças a Deus, ele não fumava.

Em vez de dar atenção aos sinais, eu me tranquilizava ao saber que também eu havia cometido aqueles erros. Fui insensata, olhando pela lente do amor, sem aceitar o óbvio.

Até que, no verão de 2019, um dos seus netos o colocou no trem pela manhã em Chester, perto da sua casa, para vir para Londres, perto de onde eu moro. E, infelizmente, aquele foi um dia caótico no transporte, com trens quebrados e centenas de pessoas abarrotando as estações, com trens atrasados ou cancelados.

Eu o esperei na estação do trem em Londres, mas, 12 horas depois, ele ainda não tinha chegado. Liguei para a polícia e eles acabaram encontrando meu pai voltando para a casa dele às três horas da manhã.

Quando consegui falar com ele ao telefone, meu pai me agradeceu alegremente pelo agradável fim de semana, mesmo sem nunca ter chegado à minha casa.

Naquele dia, as placas tectônicas do nosso relacionamento se moveram, mas permaneci em negação.

Meu pai sempre me deu seu amor incondicional e infinito apoio. Por isso, voltei inicialmente para minha posição normal – o modo filha mais velha.

Depois de crescer com cinco irmãos mais novos, acabei formando, eu acho, uma mentalidade útil para ajudar meu pai, agora dependente. Eu organizava, supervisionava e verificava tudo, enviando lembretes frequentes de coisas a fazer.

"É por isso que chamam você de mandona", bufava ele, provocando.

Existem evidências de que essa tendência de assumir o controle, na verdade, é bastante comum entre os filhos mais velhos. Mas outros estudos demonstraram que a ordem de nascimento não tem muito impacto sobre as decisões da vida, nem sobre como as pessoas lidam com eventos estressantes.

Por isso, pode ter sido, em parte, a minha personalidade. Gosto de estar no comando. E, de fato, cada vez mais pesquisas revelam como a dinâmica familiar pode orientar profundamente os cuidados com a demência.

Especialistas acreditam que conhecer o jogo complexo de sentimentos, como culpa, negação, luto, rivalidade e medo, nas famílias atingidas pela demência pode ajudar pacientes e seus parentes.

"Observar mudanças de comportamento em alguém que você conhece há muito tempo pode ser estressante", afirma Scates.

"Mas começar a aprender o que está por trás do comportamento pode ajudar a compreender o que aquela pessoa precisa ou o que ela está tentando comunicar."

Depois da overdose acidental, marquei uma consulta com a médica do meu pai. E, com o consentimento dele, ela revelou que ele havia sido diagnosticado com Alzheimer em 2017. Meu pai havia mantido o diagnóstico em segredo de todos nós.

Nunca discutimos os seus motivos para não nos contar. Pacientes com demência têm afirmado durante estudos que falar sobre o diagnóstico pode ser difícil, também porque eles próprios podem ter dificuldade para aceitar a situação.

Mas o quadro caótico que ele se esforçou tanto para esconder revelou-se no seu apartamento, em total desordem, repleto de contas que não foram pagas e avisos em vermelho das companhias fornecedoras.

A geladeira foi a maior surpresa, abarrotada de comida estragada que ele havia comprado, mas se esquecido de cozinhar.

Felizmente, meu pai já havia me confiado a capacidade de administrar seus assuntos em seu nome por procuração. Agora, eu precisava tomar decisões nos seus melhores interesses, o que significava redefinir a relação entre pai e filha.

Eu tinha, de fato, a guarda dele. Ele era meu dependente. Eu me tornei mãe do meu pai.

A pandemia

Mas uma barreira pessoal ainda permanecia. Meu pai sempre me disse: "Prometa, Sue, que nunca vai me colocar em uma casa de repouso".

Escrever este parágrafo já me traz lágrimas e a dor física de não ter conseguido manter minha promessa.

Primeiro, meu pai entrou em uma pequena casa de repouso para avaliar todas as suas necessidades. Foi em março de 2020.

Dois dias depois, o Reino Unido anunciou seu primeiro lockdown. E, em vez de duas semanas, ele ficou lá por seis meses.

Limpar seu apartamento foi deprimente. Era como retirar os pertences de alguém depois de ter morrido – mas ele estava vivo. Apenas não era a pessoa que um dia eu conheci. Era o Pai de Schrödinger.

Minha culpa disparou quando a covid-19 se espalhou pelas casas de repouso no Reino Unido e em todo o mundo. Meu pai contraiu a doença e, surpreendentemente, livrou-se dela em questão de dias.

Mas fiquei preocupada com sua saúde mental – um homem social que não podia mais ver a família ou os amigos pessoalmente durante o lockdown ou quando havia surtos de covid ou restrições na casa.

Quando as visitas retornaram, viajei mais de 300 km para vê-lo por 30 minutos atrás de uma janela de vidro. Não pudemos nem segurar as mãos.

"Sabemos desde antes da pandemia que o isolamento social é um fator de risco para a demência", afirma Sancho.

"Quando as pessoas são socialmente ativas e conectadas com a comunidade, é bom para sua saúde mental, comunicação e habilidades sociais. O isolamento social não é bom para a saúde mental das pessoas."

O ano que se seguiu foi um período de dúvidas implacáveis. Ao mesmo tempo, eu estava lidando com o meu próprio diagnóstico de autismo, que acabaria se confirmando.

Em algumas visitas presenciais, ele estava quase normal. Outras vezes, ele mal conseguia falar – eu segurava sua mão e tocava Puccini, um dos seus compositores favoritos.

Mas também surgiam vislumbres de esperança – se não para nós, para as famílias que vierem a enfrentar a demência no futuro.

Eu descobri que a Holanda desenvolveu a experiência pioneira da "cidade da demência" em 2009, formada por duas enfermeiras que queriam uma experiência diferente para seus próprios pais idosos.

Mais de 150 pessoas com demência vivem agora em Hogeweyk, uma comunidade fechada que recria artificialmente o ambiente de uma pequena vila, com supermercado e restaurante cujos funcionários são cuidadores.

No ano passado, uma empresa privada chamada Richmond Villages adotou o modelo holandês para construir a primeira "cidade da demência" no Reino Unido, ainda que em escala muito menor – seis apartamentos com cuidadores disponíveis para ajudar no que for necessário.

"Tentamos fazer com que eles preparem sua própria comida no apartamento e lavem suas roupas, como se faz quando se mora em casa", segundo a diretora-gerente Philippa Fieldhouse.

Esta independência trouxe benefícios surpreendentes, segundo Fieldhouse.

"Eles ficam muito mais tranquilos e existe muito mais interação", ela conta.

"Tivemos famílias que vieram e encontraram seus parentes cozinhando novamente e cuidando do jardim. Estamos descobrindo que podemos cuidar melhor deles quando estão contentes e mais bem instalados."

Um novo estudo comportamental feito por pesquisadores chineses concluiu que existe uma relação entre o tempo dedicado a tarefas domésticas, exercícios e visitas sociais e a redução do risco de demência. Também se acredita que estilos de vida saudáveis, especialmente entre os idosos, reduzam o risco de desenvolver demência.

Se você conhece alguém com demência, certamente ele fez você reavaliar o seu próprio estilo de vida e suas perspectivas para quando ficar mais idoso.

As causas podem ser variadas e complexas e não há nada que garanta a proteção, mas existem medidas que reduzem o seu risco. Elas incluem ter vida social ativa, cuidar de problemas de audição, não fumar, não consumir álcool em excesso e ser ativo física e mentalmente.

Pode ser difícil aceitar que o seu pai ou mãe, que antes era ativo, saudável e sociável – como o meu – seja afetado.

Por mais que eu agora lamente não ter sido mais mandona quando ele sempre se recusava a cuidar dos seus problemas de audição, um pensamento reconfortante é saber que, talvez, o seu estilo de vida tenha ajudado a manter o cérebro dele em boa saúde por mais tempo, mesmo que não tenha eliminado a ameaça.

Até agora, meu pai continua a me reconhecer, ainda que as palavras surjam lentamente, como bolhas de sabão que sobem e se dissipam rapidamente no ar, enquanto ele enfrenta dificuldades para manter sua linha de pensamento.

Mas estou ciente de que, um dia, meu rosto irá se tornar o de uma estranha. E seus gentis cuidadores já são sua família alternativa.

Em uma visita recente, eu o encontrei em uma área comum ouvindo educadamente uma cantoria nostálgica, provavelmente destinada a despertar antigas lembranças. Uma das músicas era uma canção britânica popular do tempo da guerra, talvez desgastada, chamada "We’ll Meet Again" ("Nós nos encontraremos de novo").

Quando me viu, meu pai imediatamente se levantou, radiante.

Andando em direção ao seu quarto, sugeri que tocássemos um dos seus CDs de ópera ou de música clássica. "Qualquer coisa", respondeu ele com um sorriso maroto, "desde que não seja 'We’ll Meet Again'."

Foi então que, por um breve e maravilhoso momento, o pai que eu conheci havia voltado e eu, rapidamente, era sua filha mais uma vez.

Como identificar os sinais de demência?

A demência é um conjunto de sintomas que podem ser causados por diferentes doenças, como o mal de Alzheimer. Ela afeta mais as mulheres do que os homens.

Seus sintomas podem variar e incluem alterações do humor, mudanças de personalidade, confusão, falta de concentração e perda de memória.

Não existem exames para a demência. O que existe é a avaliação cognitiva, normalmente por assistentes de saúde, da memória de longo e de curto prazo, capacidade de comunicação, concentração, capacidade de atenção e consciência de tempo e lugar.

Organizações de apoio oferecem assistência aos parentes e amigos sobre como se preparar para conversas sobre sintomas de demência e a possibilidade de avaliação.

A avaliação é especialmente importante – mesmo que, atualmente, não haja cura, o diagnóstico precoce traz diversos benefícios.

Ele permite que as pessoas criem um ambiente seguro de apoio, planejem os cuidados necessários e gerenciem certos sintomas.

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'Como lidei com sintomas de demência do meu pai' - G1
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Tratamento promissor contra câncer é estudado pelo SUS - Portal EBC

O tratamento de alguns tipos de câncer, desenvolvido pelo Instituto Butantan, Universidade de São Paulo (USP) e Hemocentro de Ribeirão Preto, tem apresentado bons resultados e sua utilização no Sistema Único de Saúde (SUS) vem sendo estudada. Chamado de terapia celular CAR-T Cell, o procedimento já é adotado nos Estados Unidos e em outros países para tratar linfomas e leucemias avançadas, como último recurso.

Nessa forma de tratamento, as células T do paciente (um tipo de célula do sistema imunológico) são alteradas em laboratório para reconhecer e atacar as células cancerígenas ou tumorais. O termo CAR refere-se a um receptor de antígeno quimérico (chimeric antigen receptor, em inglês).

“O T vem de linfócitos T, que são células do sangue responsáveis pelo combate a infecções e a alguns tipos de câncer”, explica o professor de hematologia, hemoterapia e terapia celular da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) Vanderson Rocha, também coordenador nacional de terapia celular da rede D’Or.

O câncer é muito ‘esperto’, afirma Rocha. “As células T ‘fogem’ um pouco do reconhecimento das células do câncer. No tratamento, nós retiramos essas células do paciente, através do sangue, e as colocamos em laboratório, para serem modificadas geneticamente, para ‘armá-las’ contra as células do câncer.”

No programa de tratamento, um dos pacientes estava com linfoma não-Hodgkin. “Cerca de um mês após a produção dessas células, podemos infundi-las no sangue. Então, as células vão se direcionar contra as células do tumor, porque estão capacitadas a fazer isso, para poder combater os tumores, no caso desse paciente, o linfoma. Ele teve uma remissão completa um mês depois da injeção dessas células”, acrescenta o especialista.

Como a terapia celular ainda está em fase experimental no Brasil, os pacientes foram tratados até agora de forma compassiva, ou seja, por decisão médica, quando o câncer está em estágio avançado e não há alternativas de terapia.

Os pacientes começaram o tratamento no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, no interior paulista, em 2019. Nos Estados Unidos, o FDA (agência reguladora de saúde do país) fez a liberação para uso da indústria farmacêutica em 2017.

No Brasil, o uso da indústria farmacêutica começou em janeiro deste ano. Para quem pode pagar o tratamento, o custo é de cerca de R$ 2 milhões. O desafio brasileiro é tornar a terapia acessível em larga escala por meio da saúde pública, mas ainda há um caminho a percorrer para que esteja disponível gratuitamente.

“As células são retiradas, enviadas para os Estados Unidos e voltam para os pacientes. No caso específico do grupo de estudos, toda essa produção foi feita no Brasil, por meio de pesquisa e ciência, pela Fapesp [Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo], pelo CNPq [Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico], pelo Instituto Butantã, pela Fundação Hemocentro, Faculdade de Medicina da USP, na capital e em Ribeirão Preto. Foi toda uma equipe de cientistas que permitiu a fabricação dessas células”, ressalta Rocha.

O primeiro caso de remissão da doença por meio dessa técnica no país ocorreu em 2019, mas o paciente morreu por outra causa dois meses depois do tratamento. “O paciente obteve uma remissão parcial, mas pode ser que, naquele momento, ainda tivesse tempo de responder [totalmente ao tratamento]”, detalha o médico.

Em 2019, a reportagem da Agência Brasil contou a história do aposentado Vamberto Castro, que, aos 62 anos, estava com linfoma em estado grave e sem resposta a tratamentos convencionais. Cerca de 20 dias após o início do tratamento, a resposta de saúde do paciente foi promissora: os exames passaram a mostrar que as células cancerígenas desapareceram. No fim do mesmo ano, no entanto, Vamberto morreu em decorrência de um acidente doméstico, não relacionado à doença. 

Em 2022, o governo de São Paulo ampliou a capacidade do programa. Dois centros de saúde, um na capital paulista e um em Ribeirão Preto, têm produzido, desde então, compostos para a terapia celular CAR-T. A capacidade inicial de tratamento será de até 300 pacientes por ano. O programa faz parte de um acordo de cooperação entre o Instituto Butantan, a USP e o Hemocentro de Ribeirão Preto.

Resposta imediata

Até o momento, 14 pacientes foram tratados com o CAR-T Cell com verbas da Fapesp e do CNPq. Todos os pacientes tiveram remissão de pelo menos 60% dos tumores. A recuperação foi na rede SUS. “As respostas que estamos tendo aqui, é claro que em um número pequeno de pacientes, são muito semelhantes às que temos fora do Brasil. Isso é muito importante”, observa Rocha.

Para um desses pacientes, Paulo Peregrino, a resposta foi imediata, conta o professor de hematologia. “Nesse caso, o que impressiona é a resposta imediata de um paciente que tinha muitos tumores. Então, as imagens [pet scan do corpo do paciente] mostram: tudo que é preto [os tumores] desaparecem completamente em um mês. Repetimos recentemente as imagens, e continua tudo em remissão. Quer dizer, ele está livre do tumor neste momento. Porém, para falar de cura, demora alguns anos, porque, mesmo fazendo isso, a doença pode voltar”, enfatiza.

Diante da notícia da remissão completa do câncer, Peregrino se disse surpreso. “Primeiro, não acreditei que estava daquele jeito, não conhecia aquela imagem [pet scan], não sabia que havia chegado naquele ponto e, ainda, depois que chegou aquele ponto [de remissão], depois do Car T Cell”.

São Paulo (SP) - Com a terapia celular CAR-T Cell, o paciente Paulo Peregrino, 61 anos, teve remissão completa de um linfoma em apenas um mês. Foto: Arquivo pessoal
Com a terapia celular CAR-T Cell, o paciente Paulo Peregrino, 61 anos, teve remissão completa de um linfoma em apenas um mês. Foto: Arquivo pessoal

Para ele, a disposição de participar do estudo não foi apenas pela possibilidade de cura. “Quando decidi pelo Car T Cell, eu sabia que era um estudo compassivo, que poderia ser usado -- e deve ser usado -- para que outras pessoas no futuro possam ter um tratamento com mais qualidade de vida. Isso, para mim, era um dos objetivos desde o início. Na hora em que me predisponho a fazer parte do estudo e deixar alguma coisa de conhecimento que possa ajudar os outros no futuro, estou fazendo o bem”, diz o publicitário, que tem 61 anos.

Paulo estava tratando de câncer há 13 anos. Primeiro, foi um câncer de próstata, em 2010, que ele tratou até 2014. Depois, em 2018, descobriu o linfoma não-Hodgkin, lembra o professor. “Passou por seis ciclos de quimioterapia, mas a doença voltou depois de alguns anos, então ele fez transplante de medula autólogo. Porém, no Paulo, a doença voltou após o transplante, aí não havia mais possibilidade terapêutica, e o câncer foi aumentando. Conseguimos infundir a célula T, e ele teve essa resposta maravilhosa, já está de alta.” No domingo (28), Paulo teve saiu hospitalar e se recupera em casa.

O médico diz que foi emocionante ver a resposta do paciente. “É um tratamento desenvolvido no Brasil, relativamente recente, e tivemos experiência com outros casos, mas este realmente impressionou a todos. A equipe ficou surpresa com a resposta desse paciente, a quem não teríamos muito mais para oferecer e que iria para os cuidados paliativos”, admite Rocha. 

Reações adversas

A terapia tem se mostrado eficaz, mas, como a maioria dos tratamentos de saúde complexos, apresenta reações adversas. Na ‘guerra’ entre as células T alteradas em laboratório e o câncer, o corpo se inflama com os ‘destroços’ dos cânceres, e o paciente muitas vezes precisa ser monitorado em unidade de terapia intensiva (UTI), explica Rocha. 

“O paciente, após a infusão das células, vai ter uma reação, uma inflamação importante destas. Cinquenta por cento dos pacientes que recebem essas células vão ser tratados na UTI, porque têm que ser monitorizados, tomar anti-inflamatórios e corticoides.

Existe ainda a síndrome de neurotoxicidade imunológica, no qual o paciente pode ter problemas neurológicos, como dificuldade de escrever e de andar. “Isso tudo passa com o tempo, mas são reações importantes e adversas.”

De acordo com Rocha, os efeitos colaterais podem inclusive levar pacientes à morte. “Porém, como adquirimos mais experiência em tratar esse tipo de síndrome, têm melhorado muito os resultados da chamada síndrome de liberação de citocinas, que ocorre em processos graves e inflamatórios. Há também a deficiência imune: os pacientes que recebem as células CAR-T durante muito tempo vão receber medicamentos para melhorar a imunidade.”

Expectativas

Segundo Rocha, ainda falta verba para a ciência e a pesquisa para que a terapia seja disponibilizada em grande escala. “Custa muito caro produzir essas células, e faltam ainda os estudos de fases 1 e 2, que vão começar no próximo mês, para demonstrar que funciona, que não tem toxicidade maior para os pacientes e que pode estar no serviço público. Mas é uma etapa que demora ainda alguns anos, por isso, é importante investir em pesquisa.”

O especialista destaca que existe ainda possibilidade de uso da técnica em caso de tumores sólidos. “O grande problema é que as células T não conseguem [se] infiltrar no tumor. Então, uma das possibilidades é encontrar outros tipos de células que possam penetrar o tumor e, para isso, precisamos de verba e apoio para a comunidade científica.”

Anvisa

Em nota, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) informa que o procedimento de obtenção do produto à base de células CAR-T, utilizado no paciente Paulo Peregrino, foi notificado em janeiro deste ano e avaliado com prioridade, favorecendo a pesquisa científica e o uso experimental para o tratamento do linfoma.

“A Agência ressalta que essa não é uma terapia de rotina e não se aplica a todo tipo de câncer, e que estudos adicionais precisam ser conduzidos”, diz a nota.

A agência reguladora acrescenta que está empenhada na avaliação de novas terapias avançadas e que recentemente selecionou dois projetos, por meio de um edital de chamamento, com o objetivo de apoiar a aprovação de ensaios clínicos e a produção da promissora terapia no Brasil.

“O Hemocentro de Ribeirão Preto tem conduzido a administração do produto em um contexto experimental, fora da estrutura de um ensaio clínico controlado. Esse recurso é aplicável em circunstâncias onde há risco imediato à vida do paciente ou quando se trata de doenças para as quais não existem alternativas terapêuticas disponíveis no país. O uso experimental deve ser notificado à Agência, conforme previsto em seu regulamento técnico (RDC 505/2022)”, completa a nota.

Projeto piloto

A Anvisa informa que tem um projeto piloto de cooperação técnica regulatória para o desenvolvimento de produtos de terapia avançada (PTAs) de interesse do SUS. O Instituto Butantan e o Hemocentro de Ribeirão Preto foram aprovados pelo edital de chamamento, que tem como objetivo selecionar desenvolvedores nacionais para participar da iniciativa.

O objetivo do projeto é estabelecer um modelo de cooperação regulatória dinâmico e eficaz. “Tal cooperação envolverá a Anvisa, os pesquisadores e desenvolvedores brasileiros e o setor produtivo de saúde nacional. Este esforço colaborativo tem como meta estimular o desenvolvimento de PTAs para uso no SUS, abordando a demanda de um número cada vez maior de pacientes com uma grande variedade de doenças sem alternativas terapêuticas adequadas. Essas doenças incluem distúrbios genéticos raros, doenças autoimunes e oncológicas”, destaca a agência.

O princípio do projeto piloto é buscar estratégias para alcançar elevados padrões de segurança, eficácia e qualidade dos produtos em estudo, para satisfazer as necessidades dos pacientes brasileiros de maneira oportuna, impulsionando o desenvolvimento e a aprovação dessas terapias avançadas de forma ágil, informa a agência.

Apesar de os desenvolvedores já terem iniciado as interações com a agência, os protocolos pré-clínicos e clínicos do produto em questão ainda estão em fase de ajustes, diz a Anvisa. Em março de 2023, após a submissão da documentação inicial para o estudo, a Anvisa pediu mais esclarecimentos sobre requisitos específicos de ensaios pré-clínicos de segurança, questões relacionadas ao ensaio clínico proposto e avaliações de segurança necessárias.

“Deve-se ressaltar também que a documentação relacionada à fabricação do produto e aos respectivos controles está sendo elaborada e ainda não foi submetida à Agência para análise”, acrescenta.

Assim, somente após receber respostas aos questionamentos feitos e a documentação relativa à produção da terapia, a Anvisa poderá se pronunciar sobre a aprovação do ensaio clínico proposto. Vale salientar que o projeto já foi classificado como prioritário para análise pela agência”, conclui a nota.

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Tratamento promissor contra câncer é estudado pelo SUS - Portal EBC
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Tuesday, May 30, 2023

Mais carga ou mais repetição? O que promove mais ganho de massa muscular - VEJA

O que mais promove o ganho de massa muscular, um treino de musculação que valoriza a carga ou o número de repetições? De acordo com estudo feito na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), tanto faz.

Os pesquisadores acompanharam ao longo de oito semanas 18 indivíduos submetidos a diferentes protocolos de treino. Parte fez exercício com peso mais alto e menor número de repetições, enquanto os demais fizeram séries mais longas e com menos carga. A massa muscular foi medida na primeira e na última sessão de exercícios. Quando os dois grupos foram comparados, não se observou diferença nem em termos de ganho de massa nem de estresse metabólico – medido pela análise de substâncias liberadas na circulação sanguínea após o esforço.

No treino de alta carga, os participantes carregavam até 80% do próprio peso. Já no treino de resistência, com baixa carga, esse percentual chegou a no máximo 30%, mas as repetições eram feitas até a exaustão (quando o músculo já não responde mais). Os dados completos da pesquisa, apoiada pela FAPESP, foram publicados na revista Metabolites.

“O treino de força é um meio reconhecido para promover o crescimento muscular. No entanto, ainda não está completamente claro se o mais eficiente é valorizar a carga ou o número de repetições para se atingir a hipertrofia. Nosso estudo reforça a teoria de que os dois tipos de treino funcionam de modo semelhante. Além disso, conseguimos mostrar que a ativação muscular ocorre de maneira diferente em cada treino, mas o estresse metabólico é igual e, com isso, o resultado de hipertrofia foi igual”, explica Renato Barroso, professor da Faculdade de Educação Física da Unicamp.

Nas avaliações feitas durante a primeira e a última sessão de musculação, foram coletadas amostras de sangue em três diferentes momentos: antes do treino, cinco minutos após o exercício e uma hora depois. O material coletado foi submetido a uma análise metabolômica, cujo objetivo é identificar o conjunto de metabólitos (produtos do metabolismo) presentes na circulação. Já a ativação muscular foi mensurada por exame chamado eletromiografia, feito com eletrodos capazes de monitorar em tempo real a atividade elétrica dos músculos.

“O esperado era que no grupo que treinou com carga baixa as respostas de estresse metabólico fossem mais exacerbadas. Isso porque, em teoria, esse estresse compensaria a menor ativação muscular. Porém, não foi isso que encontramos”, conta Barroso.

As análises indicam que, embora a ativação muscular tenha sido maior no grupo que treinou com cargas mais altas, o estresse metabólico foi semelhante nos dois grupos. “Esse resultado sugere que, eventualmente, os dois tipos de treino, por terem respostas metabólicas muito semelhantes, podem agir pelas mesmas vias para induzir a hipertrofia”, diz.

Variações

A análise metabolômica detectou a variação de 50 metabólitos no sangue quando ocorria a ativação dos músculos em ambos os tipos de treinos. No entanto, dos 50 metabólitos selecionados, poucos apresentaram alguma diferença entre os grupos de voluntários. Desses poucos, os pesquisadores analisaram seis (asparagina, 3 hidroxivalerato, aceto-acetato, carnitina, creatina e fosfocreatina).

Embora os pesquisadores não tenham encontrado diferença na resposta metabólica global, foi observado que alguns metabólitos se correlacionaram com a hipertrofia muscular nos dois grupos de treino. De acordo com os pesquisadores, algumas dessas correlações podem estar associadas às características das fibras musculares ativadas pelo exercício (tipo 1 ou tipo 2) e também à demanda metabólica dos protocolos de treinamento utilizados no estudo.

“Alguns metabólitos estudados vêm de sistemas energéticos anaeróbios, produzidos pela glicólise [quebra da glicose] que ocorre no músculo ou pela quebra de creatina e fosfocreatina – processo que fornece energia suficiente para manter uma intensidade de exercício de alguns segundos. Já a asparagina e o aceto-acetato estão mais associados ao ciclo de Krebs, que usa o oxigênio e nutrientes como gordura, proteína e carboidrato para produzir energia para o músculo e tem uma duração bem maior”, exemplifica Barroso.

O esperado, portanto, é que a creatina e a fosfocreatina estejam com a expressão mais alta quando se usa o metabolismo anaeróbio. “Esse tipo de metabolismo é uma característica de fibra do tipo 2, uma fibra de contração rápida. Enquanto a asparagina, por exemplo, poderia ser encontrada quando a etapa da respiração celular conhecida como ciclo de Krebs está mais ativada, ou seja, uma característica da fibra muscular do tipo 1”, explica.

Barroso ressalta que, durante os treinos que valorizam a carga, as fibras musculares do tipo 2 são ativadas com maior predominância. “Essas fibras musculares têm baixa atividade oxidativa, mas alta atividade glicolítica e podem ser mais responsivas à hipertrofia em comparação com as fibras musculares do tipo 1. Por outro lado, os treinos que valorizam a repetição podem ativar preferencialmente as fibras musculares do tipo 1, que têm baixa capacidade glicolítica, mas alta capacidade oxidativa e são altamente resistentes à fadiga”, conclui.

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Monday, May 29, 2023

Alzheimer: nº de mortes associadas a demências dobra em dez anos; entenda por quê - Saúde Estadão

Com o acelerado aumento da população idosa e a elevação da expectativa de vida no Brasil, o número de mortes associadas à doença de Alzheimer e a outras demências mais do que dobrou no País em 10 anos, mostra levantamento inédito feito pelo Estadão com base em dados do portal Datasus, do Ministério da Saúde.

Entre 2012 e 2022, o total de óbitos associados a demências cresceu 107%, passando de 15,6 mil para 32,4 mil - o equivalente a quase quatro mortes por hora. Desse total, 27,3 mil ocorreram por complicações do Alzheimer e as outras 5,1 mil estavam relacionadas a outras demências. A alta foi superior à taxa de crescimento da população maior de 60 anos no País - 40% entre 2012 e 2021, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

As mortes associadas a quadros demenciais costumam ocorrer nos estágios mais graves da doença. “Quando o Alzheimer chega a uma fase mais avançada, depois de 10 a 12 anos de evolução, leva ao imobilismo, à dificuldade de deglutição, condições que provocam infecções pulmonares, engasgos frequentes, infecções urinárias. O Alzheimer em si não mata, mas são essas complicações causadas pelo avanço da doença que acabam levando o paciente à morte”, explica Ivan Okamoto, neurologista do Núcleo de Excelência em Memória (Nemo) do Einstein.

O fato de os pacientes serem idosos e, na maioria das vezes, já conviverem com outras doenças os torna mais vulneráveis a responderem mal a essas complicações. “Geralmente são pacientes frágeis, com muitas comorbidades, com maior risco de quedas com fraturas, entre outros problemas”, diz Rodrigo Rizek Schultz, presidente da Associação Brasileira de Alzheimer (ABRAz) e professor titular de Medicina da Universidade Santo Amaro (Unisa).

“Na fase grave da doença, o paciente começa a ter déficits motores porque há uma atrofia tão grande do cérebro que ele pode parar de caminhar e falar, ter dificuldades respiratórias, ter perda de equilíbrio”, afirma Diogo Haddad, neurologista e coordenador do Núcleo de Memória do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

Foi o que aconteceu com Benedito Coelho, morto em 2021, aos 83 anos, 12 anos após o diagnóstico do Alzheimer. “No começo, ele tinha só alguns esquecimentos, ficava confuso, se atrapalhava quando dirigia. Depois de alguns anos, ele teve uma convulsão que o deixou mais debilitado, as pernas foram enrijecendo, ele passou a se alimentar por sonda”, conta a filha do idoso, Marinês Terra Coelho, de 59 anos.

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Com o agravamento do quadro, o idoso já não saía da cama e precisava de cuidado em tempo integral. “Ficamos muitos anos cuidando dele em casa, mas chegou um momento que a própria médica nos recomendou a buscar uma casa de repouso porque ele teria melhor suporte. A gente ia sempre visitá-lo. Minha mãe ia todos os dias, mas foi uma decisão muito difícil”, conta.

Benedito ainda ficou sob os cuidados da clínica por cinco anos, mas a doença foi progredindo. “Ele tinha frequentemente infecções respiratórias por causa dessa fragilidade. A gente sempre levava para o hospital, faziam o tratamento, mas teve um momento que ele não aguentou mais e morreu por insuficiência respiratória”, diz.

Segundo os especialistas, o diagnóstico precoce das demências é importante justamente para que, com medicamentos e ações não farmacológicas, como atividades físicas, controle de doenças crônicas e reabilitação cognitiva, seja possível retardar ao máximo o avanço da doença.

Maioria dos óbitos ocorre entre idosos com 80 anos ou mais

Assim como no caso de Benedito, a ampla maioria das mortes por demências ocorre a partir dos 80 anos, faixa etária que costuma concentrar os casos avançados da doença. Em 2022, por exemplo, 77,5% das vítimas tinham oito décadas ou mais de vida. Outros 18,4% dos mortos tinham entre 70 e 79 anos, e somente 4,1% estavam abaixo dos 70 anos.

Na análise por gênero, as mulheres representam quase 65% dos óbitos. Estudos internacionais já mostraram que pessoas do sexo feminino têm maior propensão a desenvolver a doença. Além disso, as mulheres costumam viver mais, o que eleva a possibilidade de quadros demenciais.

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Meire Galvão, da dupla As Galvão, perdeu a irmã por complicações do Alzheimer em agosto de 2022 Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Segundo os especialistas, a alta de mortes associadas ao Alzheimer e a outras demências é explicada, em partes, pelo aumento da expectativa de vida no País. Nas últimas décadas, com a melhoria das condições sanitárias e os avanços da Medicina, mortes precoces por causas como infecções e doenças cardiovasculares diminuíram, possibilitando que mais pessoas cheguem à terceira idade. Um maior conhecimento sobre a doença e o consequente aumento de notificações de casos e óbitos também elevam os registros.

Pandemia e pobreza tiveram impacto na alta de mortes

Mas somente o envelhecimento populacional e a melhoria dos sistemas de notificação não justificam alta tão expressiva, dizem neurologistas. Para eles, a pandemia e as vulnerabilidades socioeconômicas de grande parte da população idosa brasileira pioram o cenário.

“O isolamento que aconteceu durante a pandemia piorou o acesso à saúde e o acompanhamento de outras doenças. Os pacientes mais debilitados provavelmente tiveram uma piora nesse cenário”, diz Okamoto, do Einstein.

A cantora Meire Galvão, de 83 anos, que integrou a dupla As Galvão por mais de 70 anos com a irmã, Marilene, afirma que os efeitos da pandemia foram debilitando a irmã, que morreu em agosto de 2022, aos 80 anos, por complicações do Alzheimer. Marilene havia recebido o diagnóstico dez anos antes.

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“Até antes da pandemia, fazíamos shows. Ela se esquecia das letras, mas o Mario (Campanha, músico e marido de Meire) ajudava. Quando veio a pandemia, nós, artistas, tivemos que parar. E ela sentiu muito isso. Para ela, era bom cantar, se comunicar com as pessoas. Ela foi ficando triste, enfraquecendo”, diz Meire.

A cantora diz que, mesmo com acompanhamento médico e suporte de uma instituição especializada, a irmã foi perdendo a capacidade de desempenhar funções básicas. “Ela passou a ter dificuldade para comer, quase não falava mais. A gente consegue amenizar (os efeitos da doença), mas é uma situação que não tem retorno, e teve uma hora que ela não reagiu mais”, diz a sertaneja.

Meire, assim como a filha de Benedito, outra vítima do Alzheimer, destacam a quão fundamental é estruturar uma rede de cuidados para o paciente e de apoio para os cuidadores.

“Sempre explico a quem me pergunta as dificuldades que a família têm. Com a Marilene, todos sempre tiveram muito carinho. Eu tive muito apoio do nosso médico e do meu companheiro porque é uma situação pesada. E é preciso ter muita paciência e amor com o paciente. Às vezes eles não entendem, não se lembram, são teimosos ou podem ficar agressivos, mas a gente não pode ficar irritado. Eles não têm culpa”, diz.

Marinês, filha de Benedito, diz que os cuidadores não podem esquecer de si próprios. “Temos que dar tudo que pudermos, mas sem esquecer de olhar para nós, senão a gente adoece. E dividir as responsabilidades. No caso do meu pai, a minha mãe, os filhos e netos ajudavam”, diz.

Políticas de saúde para pacientes com demência ainda são insuficientes no País

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Com o aumento de quadros demenciais no Brasil, dizem os especialistas, é importante que sejam implementadas políticas públicas que deem suporte a esses pacientes e familiares, principalmente para os casos em que a família não tem estrutura ou condições financeiras para arcar com cuidadores profissionais ou interromper a vida profissional para se dedicar exclusivamente ao cuidado do paciente.

“Esses pacientes se tornam mais dependentes da família, e aí entra o fator econômico: quantos hoje no Brasil podem manter um cuidador? Sem um cuidado estruturado, consequentemente esse paciente tem menos tratamento, menos atividade física e menos estímulos cognitivos, o que faz a doença evoluir mais rápido”, diz Okamoto.

Para suprir esse déficit, a Associação Brasileira de Alzheimer defende a aprovação do projeto de lei federal 4.364/2020, que tramita no Congresso e institui a Política Nacional de Enfrentamento à Doença de Alzheimer e Outras Demências.

“Hoje, não há uma política adequada, o Brasil envelheceu muito e os direitos não são contemplados. O projeto prevê a criação de estratégias em todas as frentes: diagnóstico, combate ao estigma, instituições de longa permanência, tratamentos farmacológicos e não farmacológicos”, diz Schultz, presidente da ABRAz.

Ele afirma que a expectativa da associação e de outras entidades que apoiam o projeto é que ele seja aprovado e sancionado até o final do ano. O projeto, de autoria do senador Paulo Paim (PT-RS), aguarda parecer do relator da Comissão de Saúde da Câmara dos Deputados.

O Ministério da Saúde foi questionado sobre os serviços existentes hoje no SUS para diagnóstico e assistência a pacientes com demências e sobre os planos da atual gestão para o atendimento a idosos, mas não respondeu.

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Sunday, May 28, 2023

Médicos são suspeitos de lucrarem cerca de R$ 1 milhão cobrando pacientes do SUS por procedimentos de graça - G1

Médicos são suspeitos de receberem dinheiro do SUS e cobrarem de pacientes

Médicos são suspeitos de receberem dinheiro do SUS e cobrarem de pacientes

A Polícia Civil deflagrou nesta sexta-feira (26) uma operação que investiga seis médicos suspeitos de receberem dinheiro do Sistema Único de Saúde (SUS) para realizarem procedimentos e ainda cobrarem dos pacientes. De acordo com as investigações, os suspeitos podem ter lucrado mais de R$ 1 milhão com as cobranças indevidas, considerando os valores atualizados.

Como os médicos não tiverem os nomes divulgados, o g1 não conseguiu contato com a defesa deles até a última atualização desta reportagem.

Os policiais cumprem oito mandados de busca e apreensão em Goiânia. As investigações encontraram indícios que os suspeitos cobravam para fazer partos cesarianos em pacientes de baixa renda internadas pelo SUS. Segundo a polícia, os investigados lucravam ao receber pagamentos em troca da autorização de internação de pacientes gestantes pelo SUS.

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Conforme apurou a polícia, ao mesmo tempo, os investigados exigiam o pagamento de valores entre R$ 1,8 mil e R$ 2,8 mil, que podiam ser parcelados ou pagos integralmente, mas com a quitação total na data do parto. Esses valores eram exigidos para supostamente cobrir os custos do procedimento e acomodação posterior em leitos de enfermaria.

Polícia investiga médicos suspeitos de receberem dinheiro do SUS para realizarem procedimentos e ainda cobrarem dos pacientes — Foto: Divulgação/Polícia Civil

Polícia investiga médicos suspeitos de receberem dinheiro do SUS para realizarem procedimentos e ainda cobrarem dos pacientes — Foto: Divulgação/Polícia Civil

De acordo com a corporação, os crimes aconteceram de 2014 a 2017 em um hospital particular conveniado ao SUS. Foram ouvidas 216 vítimas, mas foi registrado o total de 606 vítimas, que também serão ouvidas. A polícia disse que usou como base para a investigação 10 auditorias da SMS e uma da Secretária Estadual de Saúde (SES-GO).

A polícia encontrou indícios também que os suspeitos cobravam os pacientes pelos procedimentos: angioplastia coronária, com a colocação de “stent” farmacológico. Segundo a polícia, a fraude funcionava da seguinte forma:

  • O paciente era encaminhado pela rede municipal de saúde, com a autorização de internação hospitalar já expedida pela rede pública, para tratamento de arritmia no hospital conveniado;
  • O médico investigado informava para o paciente que o SUS não cobria a colocação de “stent” farmacológico, e cobrava valores para realização do procedimento.

Conforme divulgado pela polícia, em outros casos, os suspeitos cobravam da Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia (SMS) por “supostos procedimentos realizados em pacientes atendidos pelo SUS, na área de cardiologia, mediante a apresentação de laudos de eletrocardiogramas idênticos para dois pacientes distintos”.

Os médicos

Segundo a polícia, os médicos eram funcionários públicos por equiparação, que é quando alguém trabalha para uma empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a execução de atividade típica da Administração Pública. Um vídeo divulgado pela corporação mostra uma mala e uma caixa cheias de dinheiro (assista abaixo).

Os médicos foram autuados por corrupção e falsidade ideológica e são investigados por concussão, falsidade ideológica e associação criminosa, conforme divulgado pela corporação.

Segundo a polícia, os médicos trabalhavam em um hospital já extinto na região noroeste da capital. A operação, chamada de Operação Puerperium, é feita pela Delegacia Estadual de Combate à Corrupção.

Dinheiro encontrado em investigação de médicos suspeitos de receberem dinheiro do SUS

Dinheiro encontrado em investigação de médicos suspeitos de receberem dinheiro do SUS

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