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Tuesday, May 31, 2022

Casal trans engravida, tem filha e elogia o SUS: 'Profissionais treinados' - Universa

Casos de transfobia médica são constantes na vida da população LGBT. Por isso, a maneira como Leonardo Oliveira, 20, e Arielly Germano, 22, foram tratados pelo SUS (Sistema Único de Saúde) no Ceará, estado natal de ambos, durante a primeira gravidez do casal é tão impactante. "Não sei se dei sorte ou se os profissionais daqui estão bem preparados, mas foi incrível, do pré-natal ao pós-parto", destaca Leonardo, que deu à luz Dandara há um mês.

Juntos há quatro anos, Leonardo e Arielly se conheceram pelo Tinder. "A gente se viu e eu já dei um beijo nele. A gata é muito feminista. Ele até ficou assustado", diz ela, que na época ainda tinha 17 anos. O relacionamento progrediu rápido: em menos de um mês o namoro foi oficializado e em dois o casal já morava junto. Leonardo estava em transição, e Ari ainda não se identificava como uma travesti não- binária, como é hoje.

Apesar do grande desejo de ser mãe de Ari, havia um grande empecilho: Leonardo, a princípio, não queria gestar uma criança. "Para mim, era um caos pensar nisso. Não queria que meu corpo tivesse traços do gênero com o qual não me identifico. Isso ia me fazer sentir muito mal", conta Leonardo. Por não se sentir preparado, eles resolveram esperar um pouco mas, mesmo assim, deixaram os hormônios da transição de lado por dois anos para estarem prontos assim que a vontade batesse, o que, na verdade, não demorou muito.

Planejando a Dandara

"Não sei se foi o instinto materno que bateu na porta, mas chegou um momento que senti a necessidade de ter um filho. Acho que falávamos tanto da Dandara, nos referindo a ela antes mesmo de ser gerada dessa forma, que mexeu com a minha cabeça", diz Leonardo. E, pelo jeito, Dandara estava realmente louca para vir para esse mundo: bastou uma tentativa para o casal ficar grávido.

"Foi de primeira. Usamos um aplicativo para ver o dia fértil e, em semanas, a menstruação do Leo já não veio", conta Ari. A princípio, ele achava que era psicológico. "Fizemos um teste de farmácia, mas a a barra que sinalizaria gravidez estava tão fraca que consideramos negativo", relembra ele. Feito outro teste, as listras dando positivo estavam mais fortes, e eles tiveram certeza de que Dandara já estava a caminho.

Era hora, então, de procurar atendimento médico e começar o pré-natal, algo que causa receio e pode ser traumático para casais trans. Mas a experiência de Leonardo e Arielly foi o oposto disso: eles encontraram pessoas preparadas para acompanhar a formação de novos tipos de famílias.

"Estava esperando o caos, chuva de olhares tortos, comentários ruins e desrespeitosos, mas me surpreendi. Desde quando fui marcar. No dia, me perguntaram da mãe, disse que era eu e eles entenderam na hora", conta Leonardo.

Leonardo e Dandara na maternidade - Acervo pessoal - Acervo pessoal

Leonardo e Dandara na maternidade

Imagem: Acervo pessoal

"Me respeitavam, não faziam perguntas toscas. Claro que tinham curiosidades normais, mas não ouvi perguntas invasivas", conta Leonardo. Até as mulheres que dividiram a ala de maternidade com ele foram acolhedoras.

Leonardo ficou cinco dias com dores antes de Dandara chegar ao mundo, sem que sua dilatação evoluísse - nem mesmo com o uso de medicação para que isso acontecesse. Foi somente quando o coração da Dandara começou desacelerar que o indicaram para uma cesariana. "Ela chegou ao mundo lindíssima, com dois quilos e 49 centímetros.

Vida na internet

Após o nascimento da bebê, o casal resolveu fazer uma conta no TikTok para salvar vídeos como lembrança do período e para que Dandara os visse quando fosse maior. "Achávamos álbum de foto brega", conta Ari. O perfil começou com 650 seguidores e ganhou um boom depois de virar @familiatranscentradana. Hoje, são quase 150 mil seguidores.

No início, eles sofriam com comentários de ódio, mas decidiram filtrar algumas palavras de seus comentários. "Agora só de vez em quando aparece alguma coisa", diz Ari. Para eles, essa exposição é bacana, pois serve de inspiração para outras famílias. "Está sendo incrível. Muitas pessoas falam que a gente os motiva, que tinham vontade de ter filhos mas não tinham coragem antes", diz Leonardo.

Apesar do sucesso, eles dizem que produzem conteúdos para pessoas heterossexuais e cisgênero e não para a comunidade LGBTQIA+. "Nossa galera já tem acesso a esse tipo de informação. A ideia é normalizar a vivência de uma família trans", diz Ari.

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