Sintomas relacionados à menopausa se manifestam em quase todas as brasileiras. Um estudo finalizado em outubro pela Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologistas e Obstetras) mostra que 88% das mulheres no país sentem pelo menos um efeito das alterações hormonais do período, sendo que em 73% dos casos há ondas de calor, os chamados fogachos.
Oscilação de humor, ansiedade e secura vaginal são outros problemas que afetam diretamente a qualidade de vida da população feminina no período. Mas menopausa não é, ou não deveria ser, sinônimo de sofrimento: há tratamentos disponíveis para tentar apaziguar seus efeitos e retomar a rotina de sempre.
Universa conversou com especialistas e mulheres que vivem o período do climatério, anterior à menopausa em si, para saber mais sobre as terapias disponíveis atualmente.
Quase metade das brasileiras faz tratamento com hormônio
Todos os sintomas ligados à menopausa são decorrentes da falta do principal hormônio feminino, o estrogênio, que deixa de ser produzido pelo ovário e desencadeia as diversas mudanças com as quais as mulheres se deparam.
Por isso, o tratamento mais disseminado é a reposição desse hormônio, já que atinge diretamente o problema. Segundo pesquisa da Febrasgo, essa é a terapia oferecida para 43% das pacientes. Mas é tão famosa quanto polêmica. Diversas pesquisas relacionam a reposição ao câncer de mama, fazendo com que 19% das que recebem a prescrição hormonal não iniciem o tratamento.
"É o procedimento mais efetivo. Mas há uma relação complexa com o câncer de mama que afasta pacientes", afirma o médico Luciano de Melo Pompei, presidente da Comissão Nacional Especializada em Climatério da Febrasgo. De acordo com Pompei, porém, o estudo de referência mostrando que aumenta o risco da doença é de 2002 e foi feito com uma dose muito maior de estrogênio do que a que a receitada atualmente.
O médico aponta que, com bom acompanhamento profissional, a terapia hormonal apresenta "mais benefícios do que risco". É preciso fazer exames com regularidade entre seis meses a um ano e uma avaliação prévia de saúde, envolvendo histórico de saúde e incidência familiar da doença.
O uso de medicamentos hormonais, com doses padronizadas, foi o que ajudou a vigilante Dilcelene de Bem, de 49 anos, a controlar os calorões e melhorar o ânimo. "Sentia fogachos, não dormia direito, ficava muito nervosa. O médico me passou os remédios, pesquisei muito antes de tomar. Melhorei bastante, me sinto outra pessoa", afirma. "Durmo melhor e me sinto mais disposta."
A terapia hormonal com uso de medicamento oral é a mais acessível e o principal tratamento disponibilizado pelo SUS (Sistema Único de Saúde) para lidar com a menopausa.
É possível lançar mão de doses ainda menores do que as padronizadas pelas indústrias farmacêuticas, usando preparações hormonais manipuladas.
Ainda que muitas empresas chamem esses preparados de "hormônios bioidênticos" e sugiram que são naturais, mesmo os de dosagem padrão também são "bioidênticos", pois imitam o hormônio natural, segundo a SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia). A entidade ressalta, ainda, que ambos são produzidos de maneira artificial.
Fitoterápicos são alternativa ao tratamento hormonal
De acordo com Pompei, da Febrasgo, outra linha de tratamento são as substâncias obtidas de plantas que têm uma ação similar aos hormônios femininos. "É menos potente que a reposição hormonal, mas é uma boa alternativa", afirma.
Como explica a médica ginecologista Camila Ramos, especialista em climatério, uma dessas substâncias é a tibolona, com propriedades similares às do estrogênio e que ajuda no controle dos sintomas. Vale ressaltar, porém, que mesmo os fitoterápicos devem ser usados apenas sob acompanhamento de um profissional especializado.
A policial civil Hanna Cagy, de 50 anos, encontrou nos fitoterápicos a saída para os fogachos. Mas conta que ainda sofre com diversos problemas ligados à sexualidade. "Há um ano, parei de ter orgasmos e entrei em crise porque é uma parte da minha vida que amo. Passei a usar testosterona e ajudou. Mas ainda sinto dores no sexo por causa de fissuras na vagina", diz.
Ela conta que, depois de se consultar com vários médicos e ouvir "abobrinhas", como um que lhe disse para mudar de marido, finalmente encontrou uma ginecologista com preço acessível e atendimento adequado aos problemas que ela relata. "Há profissionais ótimos, mas muito caros. É inviável ter tanta grana. E até encontrar alguém que nos ajuda, nossa qualidade de vida vai caindo."
Agora, diz, pretende iniciar o tratamento com hormônios bioidênticos. "Mas sei que é um dia de cada vez. Os sintomas da menopausa são imprevisíveis, é um diferente por dia."
Antidepressivos ajudam a controlar fogachos e sintomas emocionais
Ramos explica ainda que, para as ondas de calor, uma linha de tratamento é com remédios antidepressivos. "Em baixa dosagem, o uso diário se mostrou eficaz para esse sintoma", diz.
Segundo Pompei, esses medicamentos também podem ajudar em outros sintomas, como os próprios efeitos ligados à saúde mental. "Por causa da alteração hormonal, é muito comum ter alterações emocionais. Não depressão, a doença, mas sintomas depressivos, tristeza sem motivo, irritabilidade."
Para a ginecologista natural Debora Rosa, é fundamental que os profissionais conversem com as pacientes para lidar com a questão emocional e explicar, principalmente, que menopausa não é uma doença nem "o fim da linha".
"Há uma carga de julgamento da mulher que mexe muito como as pacientes. É como se perdessem a validade. A sociedade exalta a mulher novinha. E as maduras sentem como se fossem descartadas. Por isso, é muito importante conversar sobre isso."
Ela explica, porém, que se coloca contra a reposição hormonal e o uso de medicamentos. "Se o corpo para de produzir o hormônio, é importante respeitar isso. Então a ideia é a gente ir trabalhando os sintomas gradualmente com as plantas, vaporização, óleos essenciais, ervas e estilo de vida. Porque são efeitos que passam. Também pedimos mais exames para acompanhar de perto."
Laser tem bons resultados para secura vaginal, mas preço é alto
Um dos procedimentos mais modernos para tratar incômodos decorrentes da menopausa, o laser vaginal é indicado para o que se chama de síndrome urogenital. Ajuda, portanto, a melhorar efeitos como secura vaginal, dor na relação sexual e infecção urinária.
Segundo a ginecologista e obstetra Fernanda Torras, essa síndrome ocorre por causa da queda hormonal que atinge a região da vulva, da vagina e da uretra.
"O laser recupera o colágeno e o ácido hialurônico, moléculas naturais do organismo, por estímulo de energia e indução a reparação celular pelo organismo. O sucesso na reestruturação das fibras é comprovado por biópsias em estudos e os sintomas melhoram já após 15 dias da primeira sessão", explica Torras.
A indicação geral é de três sessões feitas com intervalos de um mês entre uma e outra. Cada sessão custa, em média, R$ 1.500 a R$ 2.500. Segundo a médica, problemas como secura vaginal e queimação durante o sexo são resolvidos em 75% a 90% dos casos.
De hormônio a laser vaginal: tratamentos que ajudam mulheres na menopausa - UOL
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