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Friday, November 5, 2021

Como depressão e ansiedade podem desencadear outras doenças pelo corpo - Jornal O Globo

Não é nenhuma surpresa que quando uma pessoa recebe um diagnóstico de uma doença no coração, um câncer, ou alguma outra condição médica limitadora ou potencialmente fatal, ela fique ansiosa ou deprimida. Mas o contrário também pode acontecer: ansiedade ou depressão excessivas podem desencadear o desenvolvimento de uma doença física séria, e até mesmo impedir a capacidade de resistir ou se recuperar de um problema de saúde. As potenciais consequências são particularmente oportunas no momento, já que o estresse contínuo e as interrupções da pandemia continuam a afetar a saúde mental.

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O organismo humano não reconhece a separação artificial da prática médica entre doenças mentais e físicas. Na verdade, mente e corpo formam uma via de mão dupla. O que acontece dentro da cabeça de uma pessoa pode ter efeitos prejudiciais por todo o corpo, assim como o inverso. Uma doença mental não tratada pode aumentar significativamente o risco de adoecimento físico, e distúrbios físicos podem resultar em comportamentos que deixam as condições mentais piores.

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Em estudos que acompanharam a evolução de pacientes com câncer de mama, por exemplo, o médico David Spiegel e seus colegas da Escola de Medicina da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, mostraram há décadas que mulheres cuja depressão estava diminuindo viviam mais do que aquelas cuja depressão estava piorando. A pesquisa e outros estudos mostraram claramente que “o cérebro é ligado intimamente ao corpo e o corpo ao cérebro”, disse Spiegel em uma entrevista: “O corpo tende a reagir ao estresse mental como se fosse um estresse físico”.

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Apesar dessas evidências, afirmam ele e outros especialistas, o sofrimento emocional crônico é muitas vezes esquecido pelos médicos. Normalmente, um médico prescreve um tratamento para adoecimentos físicos, como doenças cardíacas ou diabetes, apenas para se perguntar por que alguns pacientes pioraram em vez de melhorarem.

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Muitas pessoas são relutantes a procurar tratamento para doenças emocionais. Algumas com ansiedade ou depressão podem sentir medo de serem estigmatizadas, mesmo se elas reconhecerem que têm problemas psicológicos sérios. Muitas tentam tratar elas mesmas seus desconfortos emocionais adotando comportamentos como beber excessivamente ou abusar do uso de drogas, o que somente piora a doença pré-existente.

E, às vezes, a família e os amigos reforçam sem querer a negação de uma pessoa a reconhecer o seu sofrimento mental dizendo que "é assim que ela é" e não fazendo nada para encorajá-los a procurar ajuda profissional.

O quão comuns são a ansiedade e a depressão?

Transtornos de ansiedade afetam quase 20% dos adultos americanos. Isso significa que milhões são assediados por uma superabundância de respostas de luta ou fuga que preparam o corpo para a ação. Quando você está estressado, o cérebro responde solicitando a liberação de cortisol, o sistema de alarme natural embutido em nosso corpo. Ele evoluiu para ajudar os animais que enfrentam ameaças físicas, aumentando a respiração, aumentando a frequência cardíaca e redirecionando o fluxo sanguíneo dos órgãos abdominais para os músculos que ajudam a enfrentar ou escapar do perigo.

Essas ações protetoras decorrem dos neurotransmissores epinefrina e norepinefrina, que estimulam o sistema nervoso simpático e colocam o corpo em alerta máximo. Mas, quando elas são ativadas recorrentemente e de forma indiscriminada, a estimulação excessiva crônica pode resultar em todos os tipos de problemas físicos, incluindo sintomas digestivos, como indigestão, cólicas, diarreia ou constipação, e um aumento no risco de ataque cardíaco ou derrame.

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A depressão, apesar de ser menos comum que a ansiedade crônica, pode ter efeitos ainda mais devastadores na saúde física. Enquanto é normal se sentir deprimido de vez em quando, mais de 6% dos adultos têm sintomas tão persistentes de depressão que interrompem relacionamentos, interferem no trabalho e no momento de lazer e prejudicam a capacidade de enfrentar os desafios diários da vida. Depressão persistente pode também exacerbar a percepção de uma pessoa da dor e aumentar as suas chances de desenvolver dores crônicas.

— A depressão diminui a capacidade de uma pessoa de analisar e responder racionalmente ao estresse. Elas acabam em um ciclo vicioso com capacidade limitada de sair de um estado mental negativo — disse Spiegel.

Potencialmente piorando a situação, ansiedade e depressão excessivas frequentemente coexistem, deixando pessoas vulneráveis a uma variedade de doenças físicas e à incapacidade de adotar e manter a terapia necessária.

Um estudo que envolveu 1.204 idosos coreanos, homens e mulheres, inicialmente focado em depressão e ansiedade, descobriu que, dois anos mais tarde, esses distúrbios emocionais aumentaram o risco para distúrbios físicos e outras incapacidades. A ansiedade sozinha foi ligada a doenças do coração, a depressão sozinha foi ligada à asma, e as duas juntas foram ligadas a problemas de visão, tosse persistente, asma, hipertensão, doenças cardíacas e problemas gastrointestinais.

Tratamento pode enfrentar as perdas emocionais

Embora a ansiedade e a depressão persistentes sejam altamente tratáveis com medicamentos, terapia cognitivo-comportamental e psicoterapia, sem tratamento essas condições tendem a piorar. De acordo com o médico John Frownfelter, o tratamento para qualquer condição funciona melhor quando os médicos entendem "as pressões que os pacientes enfrentam que afetam seu comportamento e resultam em danos clínicos".

Frownfelter é internista e diretor médico de uma start-up chamada Jvion. A organização usa inteligência artificial para identificar não apenas fatores médicos, mas também psicológicos, sociais e comportamentais que podem impactar a eficácia do tratamento na saúde dos pacientes. Seu objetivo é promover abordagens mais holísticas para o tratamento que abordem todo o paciente, corpo e mente combinados.

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As análises usadas por Jvion, uma palavra hindi que significa doador de vida, podem alertar um médico quando a depressão subjacente pode estar prejudicando a eficácia dos tratamentos prescritos para outra condição. Por exemplo, os pacientes em tratamento para diabetes que estão se sentindo desesperançosos podem não melhorar porque tomam a medicação prescrita apenas esporadicamente e não seguem uma dieta adequada, explica Frownfelter.

— Nós frequentemente falamos sobre depressão como uma complicação de outras doenças crônicas. Mas o que nós não falamos suficientemente sobre é como a depressão pode levar a uma doença crônica. Pacientes com depressão podem não ter a motivação para se exercitar regularmente ou cozinhar refeições mais saudáveis. Muitos também têm dificuldades em dormir adequadamente — escreveu John Frownfelter no Medpage Today, em julho.

Algumas mudanças nos cuidados médicos durante a pandemia aumentaram muito o acesso dos pacientes ao tratamento da depressão e da ansiedade. A expansão da telemedicina permitiu que eles acessassem o tratamento com psicoterapeutas que podem estar tão longes como um continente de distância.

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Os pacientes também podem estar aptos a tratarem a si mesmos sem o acompanhamento direto de um terapeuta. Por exemplo, Spiegel e seus colegas de trabalho criaram um aplicativo chamado Reveri que ensina às pessoas técnicas de auto-hipnose projetadas para ajudar a reduzir o estresse e a ansiedade, melhorar o sono, reduzir a dor e a suprimir ou parar de fumar.

Melhorar a qualidade do sono é especialmente importante, explica Spiegel, porque “aumenta a habilidade da pessoa de regular o sistema de resposta ao estresse e não ficar presa em uma repetição mental”. Dados que demonstram a eficácia do aplicativo Reveri foram coletados, mas ainda não publicados, disse o médico.

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