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Saturday, October 30, 2021

Ela sofreu AVC aos 25 anos: 'Sentia muita dor na cabeça e tive amnésia' - VivaBem

Dominique Lima tinha acabado de completar 25 anos. Em um domingo de manhã, ela acordou com uma dor muito forte na cabeça. Na época, sofria com as crises de enxaqueca, mas os sintomas eram diferentes dessa vez: uma dor muito mais intensa, na cabeça toda e, além disso, o incômodo não passava quando ela evitava ambientes com luz.

Preocupada e imaginando que pudesse ser algo mais grave, resolveu procurar atendimento médico. Aos 25 anos, Dominique estava sofrendo um AVC (Acidente Vascular Cerebral), que é a interrupção do fluxo sanguíneo no cérebro. Hoje, com 38 anos e já recuperada, a empresária de Brasília conta a VivaBem a história que teve grande impacto na sua vida.

"Eu já sofria de enxaqueca, mas acordei em um domingo de manhã com uma dor enorme, sabendo que provavelmente seria algo diferente. Na época, em novembro de 2009, morava com a minha mãe e decidimos ir ao hospital.

Na verdade, precisei ir em dois, pois no primeiro hospital não conseguiram realizar o diagnóstico. Depois, no outro hospital, eles levaram muito tempo para entender o que estava acontecendo, principalmente porque perceberam que era muito mais do que uma crise de enxaqueca.

Até porque eu também sentia as diferenças nos sintomas. Era uma dor muito intensa e uma das características que chamou atenção é que a enxaqueca me causava fotofobia [sensibilidade à luz solar]. Quando eu apagava a luz, diminuía em 20%, 30% minhas dores. Nesse caso, não estava melhorando.

O local da dor também era diferente: não era na parte lateral e frontal, mas em toda a cabeça, e de uma intensidade muito forte. Eu sabia que era algo mais grave. Suspeitando de meningite, os médicos pediram o exame de punção na lombar e, nele, saiu um pouco de sangue.

Os médicos também suspeitavam de AVC, que tinha características iniciais muito parecidas com o isquêmico [obstrução de uma artéria, impedindo a passagem de oxigênio para células no cérebro]. Mas o sangue também foi um indicador do AVC hemorrágico [quando um vaso sanguíneo ou artéria se rompe, causando vazamento do sangue na região e interrompendo o fluxo sanguíneo]. Então, eles disseram que eu tive os dois tipos de AVC.

Fui ao pré-cirúrgico e a equipe médica estava me avaliando porque, talvez, teria de ser operada. Foi um período tenso, pois não sabia exatamente o que estava acontecendo. Depois de várias avaliações, eles optaram por não realizar a cirurgia.

Neste momento de indecisão, um fisioterapeuta veio me avaliar em relação a minha amnésia temporária e fez diversas perguntas, como: 'onde você mora? Qual sua profissão?'. Entendia a pergunta, mas não conseguia dar a resposta. Percebi ali que a situação era grave.

Fiquei 15 dias internada na UTI

Como não operei, fiquei internada, tomando altas doses de anticoagulantes, anti-inflamatórios e, além de tudo, totalmente acamada. Não podia mexer a cabeça para não aumentar o risco de sangramentos. Sabia do alto risco de morrer tanto pela seriedade e postura dos médicos, quanto pela dor que sentia.

Dominique Lima - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal

Dominique Lima ficou 15 dias na UTI tratando AVC

Imagem: Arquivo pessoal

A amnésia melhorou nos primeiros três dias de medicação. Levei um tempo para entender o que estava acontecendo comigo e, inclusive, para saber se eu teria sequelas e quais seriam.

Como estava muito confusa, os médicos foram dando as informações devagar para evitar qualquer aumento de tensão que, consequentemente, poderia piorar o sangramento. Foi um susto muito grande.

Ainda internada, eu tive um sintoma que eu enxergava igual a um caleidoscópio: via várias imagens da mesma coisa ao mesmo tempo. Os médicos disseram que era por causa do aumento da pressão intracraniana. Foi algo bem estranho.

Saindo do hospital, procurei um oftalmologista que falou que poderia melhorar ou não, mas que teria como corrigir isso com uma lente de óculos. No entanto, isso passou. De sequelas, só saí com impactos na força e movimentos do corpo, mas nada sério, era algo do tempo que fiquei acamada.

O primeiro ano depois do AVC foi o mais tenso

Tive que fazer uso constante de anticoagulantes porque há um risco de sofrer um AVC novamente. Na época, fazia uso de anticoncepcional oral e esse foi um dos fatores que contribui para o derrame. Os médicos explicaram que é um acúmulo de fatores que, se passar dessa linha, acaba ocorrendo o AVC.

Além disso, também tenho um fator genético que não havia sido identificado antes. Tanto que já tinha realizado exames anteriores para saber se poderia tomar anticoncepcional e, até então, estava tudo certo. Mas depois descobri esse outro fator genético.

Na minha família, há uma tendência de hipercoagulação do sangue, algo super complicado. Temos históricos de trombose e infarto, mas não existia nenhum caso de AVC antes.

Dominique Lima - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal

Dominique Lima adotou prática de atividade física com frequência e meditação

Imagem: Arquivo pessoal

Depois que melhorei, deixei de usar qualquer tipo de tratamento hormonal para diminuir as chances de uma ocorrência do AVC. Também aderi a várias mudanças no estilo de vida. Aos 25, tinha um nível de estresse muito parecido com o de outras pessoas da minha idade, mas estava sempre agitada mentalmente falando.

Fiz um tratamento para enxaqueca, já que isso aumenta os riscos de um AVC, e no estilo de vida, passei a fazer atividade física regularmente —algo que sempre ouvimos e, de fato, faz muita diferença. Também tenho um cuidado maior com a higiene de sono e incluí a meditação. Tento viver os dias da forma mais saudável possível.

Hoje, faço acompanhamento com o hematologista [médico que estuda o sangue] de forma menos frequente. Agora, só uso anticoagulante, de forma profilática [preventiva], quando me envolvo em alguma atividade de risco, como cirurgias ou em viagens de avião principalmente.

A cada ano que passa, meu risco de ter um novo AVC diminui. Por isso, cada ano que passa é uma vitória para mim. Fico feliz e com uma perspectiva maior de vida."

Dia Mundial do AVC

O dia 29 de outubro é considerado o Dia Mundial do AVC, doença responsável por muitas internações, incapacitação e mortes no mundo. Só no Brasil, 6 milhões de pessoas morrem por ano, e 16 milhões ficam com sequelas.

A OMS (Organização Mundial da Saúde) tem chamado a atenção de especialistas de todo o planeta: o AVC tem atingido cada vez mais a população jovem, sendo a 5ª maior causa de mortes provocadas na faixa etária dos 15 aos 59 anos. No Brasil, foram 13 mil óbitos de brasileiros entre 15 e 40 anos, nos últimos cinco anos, de acordo com dados do Ministério da Saúde.

O estresse pode ser um dos principais fatores para o aumento da doença entre a população mais jovem. O tipo mais comum de AVC neste público é o isquêmico, segundo Thaís Augusta, neurologista e coordenadora de Neurologia do Hospital Santa Lúcia, em Brasília. Além disso, há outros fatores de risco que também podem interferir.

"Comodidades como o uso constante do carro, do controle remoto e o fast-food exagerado, por exemplo, também favorecem o agravamento dos fatores de risco de AVC, como obesidade e sedentarismo", explica a neurologista. Além disso, a hipertensão arterial, o colesterol elevado, o tabagismo e o diabetes também são considerados fatores de risco importantes.

Embora seja mais comum em homens idosos, nos mais jovens, o AVC pode ocorrer com mais frequência nas mulheres, de acordo com Augusta. "Existe uma associação importante com doenças reumatológicas, que são autoimunes, como lúpus, que acometem mais as mulheres", diz.

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