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Friday, August 13, 2021

Derivado da maconha é eficaz contra 'burnout', a síndrome do esgotamento - Jornal O Globo

SÃO PAULO — O canabidiol, um composto derivado da maconha, obteve sucesso num teste clínico para tratar a síndrome de "burnout", caracterizada por esgotamento físico e mental extremo, em um grupo de médicos e profissionais de saúde na linha de frente da resposta à Covid-19. Realizado no Hospital Universitáro da USP de Ribeirão Preto (SP), o estudo reduziu sintomas de fadiga emocional em 25% nos voluntários, depressão em 50% e ansiedade em 60%.

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Liderado pelo psiquiatra José Alexandre Crippa, o ensaio clínico contou com 120 voluntários que foram divididos em dois grupos iguais: um deles recebeu 300 mg diários do medicamento (1 ml), e outro não recebeu, para efeito de comparação. Todos os profissionais de saúde no estudo passaram, porém, pelo tratamento padrão contra o "burnout", que incluiu consultas com psiquiatras e exercício físico de baixo impacto.

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O canabidiol, também conhecido pela sigla CBD, é extraído da planta da maconha na forma de um óleo. Diferentemente do THC, o canabidiol não tem efeito psicoativo forte e não provoca o "barato" típico da maconha. O composto vem sendo testado contra diferentes tipos de problemas neurológicos e vem obtendo bons resultados, particularmente contra sintomas da epilepsia.

— É importante ressaltar que na nossa pesquisa usamos o canabidiol em grau de pureza farmacológica. Não era um extrato de maconha comum — conta Crippa.

O médico conta que teve a ideia de fazer o estudo ao falar com colegas britânicos que estava descrevendo as situações dramáticas das equipes médicas que enfretnaram a primeira onda da Covid-19, antes de ela se dar no Brasil. O estudo começou em Ribeirão Preto, então, a tempo de englobar o período de auge nas ocupações de leitos de UTI da cidade.

— Alguns voluntários do estudo eram médicos e enfermeiros que ficavam por muitas horas no plantão, viam pacientes morrer e passavam medo de se contaminar. Depois iam para casa e não tinham como descopensar esse estresse, não pode dia ter vida social, não podiam namorar, nada. Foi um período muito difícil — diz o médico.

Efeitos colaterais

Apesar do sucesso do ensaio clínico, os autores do estudo relatam que uma parte não desprezível dos pacientes, cinco deles, manifestaram efeitos colaterais pelo uso da substância. Em três deles o problema se manifestou apenas ao final do tratamento, que foi encerrado. Em dois pacientes os médicos optaram por descontinuar o uso do canabidiol e exxlui-los do tete. (um deles teve alterações em exames de enzimas do fígado, outro teve reações fortes na pele).

"Neste estudo, a terapia com canabidiol reduziu os sintomas de 'burnout' e de exaustão emocional entre profissionais de saúde trabalhando com pacientes durante a pandemia de Covid-19. Contudo, é necessário equilibrar os benefícios da terapia de canabidiol com potenciais efeitos colaterais indesejados", escreveram Crippa e seus colegas em artigo que divulgou os resultados da pesquisa, na revista JAMA Open Network, da Associação Médica Americana.

Os pesquisadores afirmam que mais estudos sejam feitos para atestar com mais precisão o benefício do medicamento.

No estudo atual, os pesquisadores adotaram como diagnóstico de "burnout" três diferentes questionários padrão para medir os sintomas de fadiga emociona, depressão e ansiedade. Em cada um deles, foi estabelecido um nível crítico de sintomas que qualificariam os voluntários a um diagnóstico psiquiátrico clínico envolvendo esses três aspectos.

O teste da USP de Ribeirão foi feito durante a primeira onda da epidemia no país e durou de junho a novembro. Cada um dos voluntários foi acompanhado por quatro semanas inicialmente, e aqueles que não puderam tomar o medicamento no início poderiam optar por entrar no tratamento depois, por quatro semanas adicionais. O estudo continua agora e todos os pacientes estão sendo acompanhados por um ano.

Os cientistas contam no artigo que a ideia inicial era dar placebo ao grupo que não recebeu o canabidiol, mas a universidade recomendou que isso não fosse feito, porque seria mais difícil de por esse plano em prática às pressas durante rotina atribulada de uma UTI de Covid-19. O teste também pode ter tido um viés, afirmam, por não ter sido "duplo-cego", ou seja, pela falta de placebo os pacientes e médicos sabiam qual tratamento estavam recebendo.

"Testes clínicos futuros com abordagem duplo-cega e controlados por placebo serão necessários para avaliar se as conclusões tiradas deste estudo podem ser aplicadas mais amplamente", escreveram os cientistas.

— Uma mensagem importante deste estudo é que o CBD não é tao inocuo, precisa ser prescrito por um médico, e o tratamento precisa ter acompanhamento — diz Crippa.

Status legal

O uso do CBD no país é hoje autorizado pela Anvisa, que libera a importação do produto por pessoas físicas e por empresas registradas para revenda. A produção nacional ainda é pequena. O acesso ao medicamento requer prescrição médica e exige do paciente um cadastro.

Existem projetos de lei no Congresso Nacional que buscam desburocratizar o acesso ao CBD e permitir a aquisição por meio do SUS, mas ainda estão tramitando. Formalmente, o produto ainda não é um medicamento aprovado, e a responsabilidade de seu uso recai sobre o médico que o prescreve.

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