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Thursday, November 18, 2021

Nenhuma dose por dia - Época NEGÓCIOS

Vinho ; vinho tinto ; beber vinho ; bebida alcoólica ; (Foto: Pexels)

E a dose diária de vinho, ainda faz bem para a saúde? Lamento dizer que não há mais consenso entre os pesquisadores sobre isso. (Foto: Pexels)

Eu cresci numa casa que só tinha algum tipo de bebida alcoólica - em geral, cerveja ou vinho de garrafão - no Natal. Meus pais nunca foram de beber, acho que por causa de hábito e também porque o dinheiro sempre foi curto. Atualmente, eu e meu marido temos bebidas aqui em casa, de diversos tipos, mas damos preferência ao vinho nas refeições de fim de semana. Comecei a entender um pouco sobre o abuso de álcool quando entrevistei, há uns 20 anos, o especialista Arthur Guerra, professor da Faculdade de Medicina da USP, para uma reportagem que escrevi. Na época, registrei o alerta de que o alcoolismo tem a ver com quantidade e com regularidade e que, mesmo as pessoas “resistentes” aos efeitos, vão sofrer os efeitos danosos do álcool no organismo. Ele age democraticamente e silenciosamente no coração, no fígado e no cérebro, entre outros órgãos, em todos os que bebem. 

Estou contando isso porque acabo de ler a tese de doutorado da psicóloga Tassiane Cristine de Paula, da Escola Paulista de Medicina, ligada à Unifesp, mostrando que o Brasil tem hoje dois milhões de pessoas entre 60 e 70 anos exagerando no consumo de álcool - e os mais escolarizados (mais de 9 anos de estudo) formam a maior parte do grupo. Segundo declarações que Tassiane deu ao jornal O Estado de S. Paulo, esse já é um problema de saúde pública. Como saber o quanto é excesso? Ela separa os bebedores em dois grupos: os de consumo de alto risco e os de consumo abusivo. No primeiro grupo, estão mulheres que bebem mais de uma dose e homens que bebem mais de duas doses por dia. No segundo grupo, estão mulheres que consomem mais de 4 doses e homens que consomem mais de cinco num período de duas horas.

“O envelhecimento da população está ocorrendo rapidamente. Com o aumento da expectativa de vida, comportamentos que costumavam ser uma preocupação em pessoas mais jovens, como consumo de álcool, estão se tornando mais comuns entre os idosos”, escreve Tassiane na introdução à tese. A psicóloga lembra que hipertensão, colesterol e diabetes respondem por 70% das causas de mortes no Brasil. E que essas doenças crônicas possuem fatores de risco comuns e evitáveis: cigarro, sedentarismo, alimentação pouco saudável e bebida alcoólica. O problema se agrava com a população dos 60+, segundo ela, porque o consumo de álcool entre os idosos é subnotificado porque eles/elas, muitas vezes, bebem sozinhos em casa, sem testemunhas. E as consequências acabam mascaradas pela presença de sintomas normais ao processo de envelhecimento, como dificuldade de memória, problemas sociais e de saúde mental.

E a dose diária de vinho, ainda faz bem para a saúde? Lamento dizer que não há mais consenso entre os pesquisadores sobre isso. O National Institute on Alcohol Abuse and Alcoholism (NIAAA), entidade que apoia pesquisas relacionadas ao tema, nos Estados Unidos, defende zero consumo de álcool e ressalta que o uso excessivo e crônico pode causar danos ao corpo. Uma pesquisa recente do professor alemão Ulrich John, da Universidade de Greifswald, adicionou mais uma peça à crescente evidência de que mesmo o baixo consumo faz mal à saúde. Segundo ele, “não há razão para recomendar o consumo de álcool achando que se vai obter benefícios à saúde”. Se não há benefícios, existe alguma forma de minimizar os riscos? O professor alemão recomenda que os adultos fiquem dentro do consumo de baixo risco: uma dose por dia para mulheres e duas para homens. Achou pouco? Então, talvez seja hora de ver o seu médico.


*Maria Tereza Gomes é jornalista, mestre em administração de empresas pela FEA-USP, CEO da Jabuticaba Conteúdo e mediadora do podcast “Mulheres de 50”

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